Segundo anedota popular no leste europeu em meados do século XX, dois comunistas estavam questionando, em uma das "internacionais", se Lênin era mais político ou mais cientista.
Já depois de muita discussão, questões de ordem e argumentações acaloradas, o camarada Rabinovitch, que acabara de chegar, pede a palavra e afirma, encerrando a conversa:
"Pra mim, está na cara que ele era político, afinal, se fosse cientista, teria testado antes em ratinhos brancos"!
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Literatura e Niilismo
Não há maneira mais eficiente (se é que há alguma outra) de entender a natureza humana do que através da literatura (de qualidade).
Ao longo da História, uma série enorme de personagens "ficcionais" pontuam a literatura mundial com todas as dores e delícias da "anima", e com todos os segredos e disposições (pro mal e pro bem) dos humanos.
Nos últimos dois séculos, em virtude do inegável predomínio (mas não superioridade) cultural anglo-saxônico, massificaram-se personagens novelescos como Romeu, Rei Lear ou Hamlet que, com mais ou menos profundidade, retratam um ser humano que oscila entre o dócil e o hostil, sem contudo esmiuçar o que há de mais profundo no "subsolo" da alma, e na margem tanto dela quanto da própria sociedade, ou talvez da existência.
Nesse quesito, as melhores contribuições vem, não por acaso, do leste europeu.
Personagens como Rodion Romanovitch (Crime e Castigo - Dostoievski); Gregor Sansa (Metamorfose - Kafka); e a "dupla" Piotr Stiepanovitch (e seu pai Stiepan) e Nikolai Stravóguin (com a mãe, Varvara Petrovna), do perturbador "Os Demônios", de Dostoievski, e de outras obras precedentes (destaque para Almas Mortas, de Gógol), esmiuçam tudo aquilo que, na atualidade, os espelhos da moda não mostram, e a TV não deixa deduzir, mas que nem por isso deixou de estar presente na índole humana.
No caso da literatura brasileira, Brás Cubas é o niilista emérito, e talvez único, que jogou na cara da decadente aristocracia de seu tempo sua inutilidade e sua nova nomenclatura, os "homens supérfluos" (na designação de Turguêniev, sobre a mesma "casta", mas na Rússia).
Ao mesmo tempo, Brás Cubas também desmascara, ao lado dos já citados personagens russos, a superficialidade do "homem burguês" emergente e a tirania dos revolucionários radicais, os "Demônios" de Dostoievski, sementes geradoras dos famosos Hitler e Stálin.
Olhar pra dentro da alma humana, para o "subsolo" (de novo Dostoievski) é a forma mais honesta de evolução, afinal, não é sempre que se pode espantar os fantasmas simplesmente fechando os olhos.
Ao longo da História, uma série enorme de personagens "ficcionais" pontuam a literatura mundial com todas as dores e delícias da "anima", e com todos os segredos e disposições (pro mal e pro bem) dos humanos.
Nos últimos dois séculos, em virtude do inegável predomínio (mas não superioridade) cultural anglo-saxônico, massificaram-se personagens novelescos como Romeu, Rei Lear ou Hamlet que, com mais ou menos profundidade, retratam um ser humano que oscila entre o dócil e o hostil, sem contudo esmiuçar o que há de mais profundo no "subsolo" da alma, e na margem tanto dela quanto da própria sociedade, ou talvez da existência.
Nesse quesito, as melhores contribuições vem, não por acaso, do leste europeu.
Personagens como Rodion Romanovitch (Crime e Castigo - Dostoievski); Gregor Sansa (Metamorfose - Kafka); e a "dupla" Piotr Stiepanovitch (e seu pai Stiepan) e Nikolai Stravóguin (com a mãe, Varvara Petrovna), do perturbador "Os Demônios", de Dostoievski, e de outras obras precedentes (destaque para Almas Mortas, de Gógol), esmiuçam tudo aquilo que, na atualidade, os espelhos da moda não mostram, e a TV não deixa deduzir, mas que nem por isso deixou de estar presente na índole humana.
No caso da literatura brasileira, Brás Cubas é o niilista emérito, e talvez único, que jogou na cara da decadente aristocracia de seu tempo sua inutilidade e sua nova nomenclatura, os "homens supérfluos" (na designação de Turguêniev, sobre a mesma "casta", mas na Rússia).
Ao mesmo tempo, Brás Cubas também desmascara, ao lado dos já citados personagens russos, a superficialidade do "homem burguês" emergente e a tirania dos revolucionários radicais, os "Demônios" de Dostoievski, sementes geradoras dos famosos Hitler e Stálin.
Olhar pra dentro da alma humana, para o "subsolo" (de novo Dostoievski) é a forma mais honesta de evolução, afinal, não é sempre que se pode espantar os fantasmas simplesmente fechando os olhos.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Múltiplas Consciências
Uma das mais importantes lições para a humanidade no século XX, ainda que não entendida por muitos, é que agregar e melhor que segregar.
Ao longo da História mais remota os sinais dessa lição foram se apresentando nos mais diferentes lugares e momentos, ainda que muitas vezes de maneira sutil.
No caso brasileiro, talvez um dos mais gritantes exemplos seja o da ocupação holandesa ao nordeste brasileiro no século XVII. Durante o domínio holandês, judeus, protestantes e estrangeiros não eram perseguidos e, sendo assim, vinham do mundo inteiro trazendo para cá seu capital e sua força de trabalho, o que proporcionou um dos mais frutíferos momentos na história desse importante estado brasileiro, nas áreas cultural, econômica e científica, sob o comando do conde Maurício de Nassau. Após a demissão de Nassau e a Insurreição Pernambucana, quando os portugueses voltaram ao poder em 1654 e reiniciaram a perseguição e a segregação aos considerados “diferentes”, a economia da região decaiu e, vale destacar, parte dos refugiados migrou para a América do Norte e fundou a cidade de Nova Amsterdã, atualmente conhecida como Nova Iorque.
Nos EUA, que acabaram de eleger Barack Hussein Obama presidente, quase todas as inovações tecnológicas, ainda que viabilizadas por capital norte-americano, são resultado de mentes brilhantes vindas dos mais diferentes cantos do mundo, Europa, América Latina, Ásia, África e Oceania, confirmando que, salvo exceções comentadas neste mesmo blog em outras postagens, os Estados Unidos são o mais universalista e cosmopolita país do mundo.
Um dos casos mais célebres é o de Albert Eisntein, cientista judeu perseguido na Alemanha nazista que, entre outras coisas, deu ao governo americano a base teórica para que, nos anos seguintes, o Projeto Manhattan desenvolvesse a bomba atômica e garantisse a vitória aliada na 2ª Guerra Mundial.
Voltando ao caso brasileiro, talvez poucos saibam, mas, até o início do século XX, os times de futebol do país não aceitavam negros em seus elencos. Tivesse continuado a segregação, e o Brasil e o mundo teriam perdido, entre outros grandes jogadores, um tal Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé.
Ao longo da História mais remota os sinais dessa lição foram se apresentando nos mais diferentes lugares e momentos, ainda que muitas vezes de maneira sutil.
No caso brasileiro, talvez um dos mais gritantes exemplos seja o da ocupação holandesa ao nordeste brasileiro no século XVII. Durante o domínio holandês, judeus, protestantes e estrangeiros não eram perseguidos e, sendo assim, vinham do mundo inteiro trazendo para cá seu capital e sua força de trabalho, o que proporcionou um dos mais frutíferos momentos na história desse importante estado brasileiro, nas áreas cultural, econômica e científica, sob o comando do conde Maurício de Nassau. Após a demissão de Nassau e a Insurreição Pernambucana, quando os portugueses voltaram ao poder em 1654 e reiniciaram a perseguição e a segregação aos considerados “diferentes”, a economia da região decaiu e, vale destacar, parte dos refugiados migrou para a América do Norte e fundou a cidade de Nova Amsterdã, atualmente conhecida como Nova Iorque.
Nos EUA, que acabaram de eleger Barack Hussein Obama presidente, quase todas as inovações tecnológicas, ainda que viabilizadas por capital norte-americano, são resultado de mentes brilhantes vindas dos mais diferentes cantos do mundo, Europa, América Latina, Ásia, África e Oceania, confirmando que, salvo exceções comentadas neste mesmo blog em outras postagens, os Estados Unidos são o mais universalista e cosmopolita país do mundo.
Um dos casos mais célebres é o de Albert Eisntein, cientista judeu perseguido na Alemanha nazista que, entre outras coisas, deu ao governo americano a base teórica para que, nos anos seguintes, o Projeto Manhattan desenvolvesse a bomba atômica e garantisse a vitória aliada na 2ª Guerra Mundial.
Voltando ao caso brasileiro, talvez poucos saibam, mas, até o início do século XX, os times de futebol do país não aceitavam negros em seus elencos. Tivesse continuado a segregação, e o Brasil e o mundo teriam perdido, entre outros grandes jogadores, um tal Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
After a Century, a Literary Reputation Finally Blooms
by Larry Rohter - 12/09/2008
When the novelist Joaquim Maria Machado de Assis died 100 years ago this month, his passing went little noticed outside his native Brazil. But in recent years he has been transformed from a fringe figure in the English-speaking world into a literary favorite and trendsetter, promoted by much more acclaimed writers and by critics as an unjustly neglected genius.
texto na íntegra : http://www.nytimes.com/2008/09/13/books/13mach.html?_r=1
When the novelist Joaquim Maria Machado de Assis died 100 years ago this month, his passing went little noticed outside his native Brazil. But in recent years he has been transformed from a fringe figure in the English-speaking world into a literary favorite and trendsetter, promoted by much more acclaimed writers and by critics as an unjustly neglected genius.
texto na íntegra : http://www.nytimes.com/2008/09/13/books/13mach.html?_r=1
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Fatos e Argumentos
1932 - decreto institui o voto secreto e o voto feminino, confirmados no código eleitoral de 1934;
1935 - capoeira é retirada da ilegalidade e oficializada como "esporte nacional";
1937 - samba sai da clandestinidade e passa a receber incentivos do governo;
1930 - 1937 - Governos provisório e constitucional de Getúlio Vargas.
1935 - capoeira é retirada da ilegalidade e oficializada como "esporte nacional";
1937 - samba sai da clandestinidade e passa a receber incentivos do governo;
1930 - 1937 - Governos provisório e constitucional de Getúlio Vargas.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Contradições Internas
A eleição dos EUA afeta e, consequentemente, mobiliza o mundo inteiro, já que a superpotência atual, ainda que indicando sinais de abalo, exerce e projeta poder global desde a 2ª Guerra Mundial e, exatamente por este motivo, as decisões da Casa Branca costumam afetar mais do que o território continental do país.
Nascido de uma Revolução Iluminista, em 04 de julho de 1776, e com sua história recheada de conflitos internos e externos, como a Guerra de Independência, a Guerra de Secessão, as duas Guerras Mundiais e a Guerra do Vietnã, da qual o candidato republicano McCain é sobrevivente, os EUA, ainda assim, sempre sinalizaram ao mundo como uma luz, ou tocha, como na famosa estátua, de liberdade e respeito às individualidades, ainda mais quando foi resolvendo suas próprias contradições internas, concedendo liberdade (no século XIX) e, depois, cidadania aos negros em todo o território (ainda que tardiamente, já no século XX) e direito de voto às mulheres, entre outras medidas humanistas.
Ainda assim, os casos de intolerância em geral e de racismo, especificamente, costumam ser mais freqüentes na história desse poderoso país do que os seus defensores gostariam que fosse, principalmente em algumas regiões aonde o sistema de plantation foi usado com mais intensidade, como nas áreas do Sul e Central do país (tradicionais redutos da famigerada Ku Klux Klan), em contraste com as litorâneas Nova Iorque, Miami e Los Angeles, tradicionais locais de universalismo e cosmopolitismo, ou na Louisiana, antiga colônia francesa, comprada por Abraham Lincoln, o mais “popular” presidente americano, aonde a cultura “afro” se estabeleceu com vigor, em área na qual vigorou o escravismo por muitas décadas.
Abraham Lincoln, aliás, que foi assassinado por um sulista radical, após liderar a União na Guerra de Secessão contra os Confederados do Sul, é uma referência para Obama, o candidato democrata que provavelmente será confirmado presidente pelo colégio eleitoral, após ser eleito pela maioria dos eleitores nas urnas no último dia 04 de novembro. Isso, é claro, se não se repetir o que aconteceu com Al Gore, que levou nas urnas a maioria dos votos, mas foi derrotado no colégio eleitoral pelo atual presidente George Bush, um dos responsáveis pela desmoralização atual dos EUA e pelo crescimento do antiamericanismo no mundo, graças à vocação para a guerra e à incompetência econômica e social de seu governo.
Caso Obama se confirme no cargo, será a primeira vez que a democracia mais influente do mundo irá eleger um afro-descendente para o cargo de presidente, ocupado até então pela elite WASP desde George Washington.
Aqueles que acreditam no potencial americano e nos valores que construíram essa importante nação torcem para que isso aconteça.
Nascido de uma Revolução Iluminista, em 04 de julho de 1776, e com sua história recheada de conflitos internos e externos, como a Guerra de Independência, a Guerra de Secessão, as duas Guerras Mundiais e a Guerra do Vietnã, da qual o candidato republicano McCain é sobrevivente, os EUA, ainda assim, sempre sinalizaram ao mundo como uma luz, ou tocha, como na famosa estátua, de liberdade e respeito às individualidades, ainda mais quando foi resolvendo suas próprias contradições internas, concedendo liberdade (no século XIX) e, depois, cidadania aos negros em todo o território (ainda que tardiamente, já no século XX) e direito de voto às mulheres, entre outras medidas humanistas.
Ainda assim, os casos de intolerância em geral e de racismo, especificamente, costumam ser mais freqüentes na história desse poderoso país do que os seus defensores gostariam que fosse, principalmente em algumas regiões aonde o sistema de plantation foi usado com mais intensidade, como nas áreas do Sul e Central do país (tradicionais redutos da famigerada Ku Klux Klan), em contraste com as litorâneas Nova Iorque, Miami e Los Angeles, tradicionais locais de universalismo e cosmopolitismo, ou na Louisiana, antiga colônia francesa, comprada por Abraham Lincoln, o mais “popular” presidente americano, aonde a cultura “afro” se estabeleceu com vigor, em área na qual vigorou o escravismo por muitas décadas.
Abraham Lincoln, aliás, que foi assassinado por um sulista radical, após liderar a União na Guerra de Secessão contra os Confederados do Sul, é uma referência para Obama, o candidato democrata que provavelmente será confirmado presidente pelo colégio eleitoral, após ser eleito pela maioria dos eleitores nas urnas no último dia 04 de novembro. Isso, é claro, se não se repetir o que aconteceu com Al Gore, que levou nas urnas a maioria dos votos, mas foi derrotado no colégio eleitoral pelo atual presidente George Bush, um dos responsáveis pela desmoralização atual dos EUA e pelo crescimento do antiamericanismo no mundo, graças à vocação para a guerra e à incompetência econômica e social de seu governo.
Caso Obama se confirme no cargo, será a primeira vez que a democracia mais influente do mundo irá eleger um afro-descendente para o cargo de presidente, ocupado até então pela elite WASP desde George Washington.
Aqueles que acreditam no potencial americano e nos valores que construíram essa importante nação torcem para que isso aconteça.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
In the bull's eye
“Que crise? Pergunte ao Bush!” (presidente Lula reagindo à jornalista que o questionou sobre a crise econômica)
Um dos temas mais discutidos e, ainda assim, menos compreendidos dos últimos tempos, é a tão noticiada “crise econômica” que, a partir do mercado imobiliário norte-americano, espalhou terror pelas bolsas de valores do mundo inteiro, inclusive atingindo a Bovespa, no Brasil, gerando calafrios na espinha não só dos profissionais do mercado financeiro, mas também de uma classe média que, recentemente,descobriu os atrativos do mercado de ações.
Em resumo, a crise foi gerada pela concessão de crédito fácil à clientes com poucas garantias de honrar seus compromissos financeiros e pela compra, pelas financeiras americanas, de títulos “podres” ou seja, com baixa chance de retorno lucrativo de seus valores na bolsa.
Normalmente, o preço de uma ação na bolsa de valores depende da rentabilidade da empresa que a referida ação representa e, em alguns casos, o volume de compra e venda destas ações também pode alterar seu valor, na lógica da oferta e da procura – quanto mais gente comprando, mais valiosa, quanto mais gente vendendo, menos valor.
Quando a empresa que faz seus seguros pessoais ou na qual você investe sua previdência privada usa seu dinheiro com clientes de poucos recursos ou com os tais papéis podres, caso esta empresa tenha menos liquidez (dinheiro disponível) do que o volume de investimentos (como o seu) que ela aceita, em caso de insolvência dos clientes ou de maxidesvalorização dos papéis comprados, a financeira fica sem condição de honrar seus compromissos, deixando clientes “na mão”. Além disso, já que empréstimos entre bancos e financeiras são fundamentais para o funcionamento do mercado, a falta de capital gerada pelos “calotes” e pela desvalorização das ações gera um efeito em cadeia tornando o dinheiro mais raro e, consequentemente, mais caro, cortando linhas de crédito para os setores produtivo e agrícola, além de elevar os juros reais. Uma vez que a produtividade diminui, a oferta de empregos também cai. Diminuindo a produção agrícola, por menores investimentos para a compra de insumos, os preços dos alimentos sobem. O aumento dos juros diminui a oferta de crediários. Falta de emprego, preços altos e pouco crédito geram menos consumo, desvalorizando ainda mais empresas e ações, aumentando o ciclo da crise até atingir a chamada “recessão”. É isso que todos esperam que não aconteça e, para tentar evitar o pior, bancos centrais do mundo todo estão se tornando acionistas das instituições financeiras afetadas, para poder injetar dinheiro (público) nestas instituições, para que elas passem novamente a financiar a produção e o consumo, fazendo basicamente com que a economia “pegue no tranco” e volte a funcionar.
Uma vez que o mercado financeiro é o setor mais globalizado da atualidade, as instituições afetadas atuam em diversas partes do mundo, e todos os países capitalistas dependem do dinheiro e da produção uns dos outros, em maior ou menor escala, tornando o problema que nasceu da insolvência no mercado imobiliário dos EUA uma “ameaça” internacional.
Por outro lado, como já foi insistentemente comentado, seria interessante se os cidadãos dos países envolvidos no "resgate", muitos deles privados de suas casas por falta de pagamento e desprovidos dos mais básicos serviços públicos, se questionassem se é justo um governo investir o dinheiro dos seus impostos para salvar as fortunas do mercado financeiro internacional.
Um dos temas mais discutidos e, ainda assim, menos compreendidos dos últimos tempos, é a tão noticiada “crise econômica” que, a partir do mercado imobiliário norte-americano, espalhou terror pelas bolsas de valores do mundo inteiro, inclusive atingindo a Bovespa, no Brasil, gerando calafrios na espinha não só dos profissionais do mercado financeiro, mas também de uma classe média que, recentemente,descobriu os atrativos do mercado de ações.
Em resumo, a crise foi gerada pela concessão de crédito fácil à clientes com poucas garantias de honrar seus compromissos financeiros e pela compra, pelas financeiras americanas, de títulos “podres” ou seja, com baixa chance de retorno lucrativo de seus valores na bolsa.
Normalmente, o preço de uma ação na bolsa de valores depende da rentabilidade da empresa que a referida ação representa e, em alguns casos, o volume de compra e venda destas ações também pode alterar seu valor, na lógica da oferta e da procura – quanto mais gente comprando, mais valiosa, quanto mais gente vendendo, menos valor.
Quando a empresa que faz seus seguros pessoais ou na qual você investe sua previdência privada usa seu dinheiro com clientes de poucos recursos ou com os tais papéis podres, caso esta empresa tenha menos liquidez (dinheiro disponível) do que o volume de investimentos (como o seu) que ela aceita, em caso de insolvência dos clientes ou de maxidesvalorização dos papéis comprados, a financeira fica sem condição de honrar seus compromissos, deixando clientes “na mão”. Além disso, já que empréstimos entre bancos e financeiras são fundamentais para o funcionamento do mercado, a falta de capital gerada pelos “calotes” e pela desvalorização das ações gera um efeito em cadeia tornando o dinheiro mais raro e, consequentemente, mais caro, cortando linhas de crédito para os setores produtivo e agrícola, além de elevar os juros reais. Uma vez que a produtividade diminui, a oferta de empregos também cai. Diminuindo a produção agrícola, por menores investimentos para a compra de insumos, os preços dos alimentos sobem. O aumento dos juros diminui a oferta de crediários. Falta de emprego, preços altos e pouco crédito geram menos consumo, desvalorizando ainda mais empresas e ações, aumentando o ciclo da crise até atingir a chamada “recessão”. É isso que todos esperam que não aconteça e, para tentar evitar o pior, bancos centrais do mundo todo estão se tornando acionistas das instituições financeiras afetadas, para poder injetar dinheiro (público) nestas instituições, para que elas passem novamente a financiar a produção e o consumo, fazendo basicamente com que a economia “pegue no tranco” e volte a funcionar.
Uma vez que o mercado financeiro é o setor mais globalizado da atualidade, as instituições afetadas atuam em diversas partes do mundo, e todos os países capitalistas dependem do dinheiro e da produção uns dos outros, em maior ou menor escala, tornando o problema que nasceu da insolvência no mercado imobiliário dos EUA uma “ameaça” internacional.
Por outro lado, como já foi insistentemente comentado, seria interessante se os cidadãos dos países envolvidos no "resgate", muitos deles privados de suas casas por falta de pagamento e desprovidos dos mais básicos serviços públicos, se questionassem se é justo um governo investir o dinheiro dos seus impostos para salvar as fortunas do mercado financeiro internacional.
domingo, 12 de outubro de 2008
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão
França, 26 de agosto de 1789
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:
Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5.º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11.º A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:
Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5.º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11.º A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
07 de setembro de 1822 – Independência (política) do Brasil
Ainda que a independência política do Brasil tenha sido conquistada há 186 anos, completados no último domingo, 07 de setembro, nosso país está longe de poder se orgulhar de plena soberania.
Mesmo que não seja possível, em um planeta cada vez mais globalizado, esperar que qualquer país do mundo possa algum dia se considerar totalmente “independente” economicamente, é justo e até necessário considerar que a quantidade de recursos naturais e humanos presentes no Brasil é mais do que suficiente para que pleiteemos junto à comunidade internacional o posto de protagonistas desta globalização, ao lado de outros gigantes, em condições de igualdade não apenas jurídica – o que é um pleito legítimo para qualquer nação do planeta – mas também econômica e estratégica.
Não basta, para construir a soberania de um país, possuir instituições políticas autônomas e legitimamente eleitas pelos seus cidadãos se, frente aos desafios mais importantes que o contexto histórico lhe impõe, esse país não for capaz de garantir minimamente para esses seus cidadãos a segurança física e material, o respeito aos seus direitos e a possibilidade de desenvolvimento pessoal. Pensando dessa forma, fica evidente que o rompimento com a metrópole não é o fim de uma luta, mas o início de um processo muito mais amplo e demorado, já que não enfrenta mais um inimigo externo, mas diversos obstáculos e até inimigos internos na construção do desenvolvimento e da identidade nacional.
No caso específico do Brasil, o início da exploração do petróleo da chamada camada pré-sal, as pesquisas voltadas a um melhor aproveitamento sustentável dos recursos naturais da biodiversidade amazônica, o enorme potencial produtivo e de crescimento do país e a ampliação do mercado consumidor nacional, se acompanhados de investimentos maciços em educação (tanto na qualificação de mão-de-obra quanto em pesquisa e tecnologia), saúde (preventiva e clínica), e infra-estrutura (para o setor produtivo e para a qualidade dos bairros residenciais), poderão promover um movimento de independência ainda mais significativo que o do início do século XIX, pois, se a independência do passado libertou o país apenas dos grilhões colonialistas portugueses, a independência do presente poderá nos libertar dos grilhões da pobreza e da desigualdade.
Mesmo que não seja possível, em um planeta cada vez mais globalizado, esperar que qualquer país do mundo possa algum dia se considerar totalmente “independente” economicamente, é justo e até necessário considerar que a quantidade de recursos naturais e humanos presentes no Brasil é mais do que suficiente para que pleiteemos junto à comunidade internacional o posto de protagonistas desta globalização, ao lado de outros gigantes, em condições de igualdade não apenas jurídica – o que é um pleito legítimo para qualquer nação do planeta – mas também econômica e estratégica.
Não basta, para construir a soberania de um país, possuir instituições políticas autônomas e legitimamente eleitas pelos seus cidadãos se, frente aos desafios mais importantes que o contexto histórico lhe impõe, esse país não for capaz de garantir minimamente para esses seus cidadãos a segurança física e material, o respeito aos seus direitos e a possibilidade de desenvolvimento pessoal. Pensando dessa forma, fica evidente que o rompimento com a metrópole não é o fim de uma luta, mas o início de um processo muito mais amplo e demorado, já que não enfrenta mais um inimigo externo, mas diversos obstáculos e até inimigos internos na construção do desenvolvimento e da identidade nacional.
No caso específico do Brasil, o início da exploração do petróleo da chamada camada pré-sal, as pesquisas voltadas a um melhor aproveitamento sustentável dos recursos naturais da biodiversidade amazônica, o enorme potencial produtivo e de crescimento do país e a ampliação do mercado consumidor nacional, se acompanhados de investimentos maciços em educação (tanto na qualificação de mão-de-obra quanto em pesquisa e tecnologia), saúde (preventiva e clínica), e infra-estrutura (para o setor produtivo e para a qualidade dos bairros residenciais), poderão promover um movimento de independência ainda mais significativo que o do início do século XIX, pois, se a independência do passado libertou o país apenas dos grilhões colonialistas portugueses, a independência do presente poderá nos libertar dos grilhões da pobreza e da desigualdade.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Ouro de Tolo
Com 15 medalhas no total, sendo 3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze, o Brasil terminou os Jogos Olímpicos de Pequim em 23º lugar, um desempenho bem inferior às expectativas dos dias que antecederam o início dos jogos e os primeiros dias de provas.
Além da frustração das medalhas perdidas em provas consideradas “garantidas”, o desempenho geral do país decepcionou muita gente, principalmente após a euforia (exagerada) gerada pela realização do último Pan-americano, no Rio de Janeiro, que não contou com alguns dos principais atletas dos países participantes.
Levando-se em conta o tamanho, a diversidade e a crescente importância econômica do Brasil no cenário internacional, foi realmente um desempenho muito aquém daquele que acreditamos ser o potencial de nossa nação.
Porém, se levarmos em conta a falta de apoio de grande parcela do poder público ao esporte no país, já devíamos contar com esse relativo “fracasso”.
Os milhões de brasileiros que não possuem recursos próprios para se associar a um clube ou para freqüentar uma academia, muitas vezes passam a vida inteira sem acesso a qualquer modalidade esportiva que não sejam as mais populares e mais baratas de se praticar e, mesmo quando se destaca em alguma dessas modalidades, não possui apoio estatal para se desenvolver e, conquistando resultados, obter um patrocínio mais significativo para sua modalidade. Dessa forma, milhões de atletas em potencial se perdem nas pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, já que na maioria delas não há infra-estrutura ou políticas esportivas voltadas aos mais necessitados.
É raro e até pouco provável que se encontre, nas periferias das cidades brasileiras, centros esportivos comunitários aonde o trabalhador e sua família possam praticar esportes variados e, sendo assim, ficamos na dependência de um ou outro “predestinado” que, por sorte ou acaso, consegue se destacar e conquistar vitórias internacionais para o esporte brasileiro.
Sendo assim, só quem possui recursos próprios, como o nadador medalha de ouro César Cielo, que treinou nos EUA por conta do dinheiro dos pais, consegue a tão sonhada oportunidade da medalha olímpica, salvo raras exceções.
E isso não acontece só nos esportes, pois nas áreas da cultura e da ciência também são poucos os brasileiros que conseguem apoio do governo para se desenvolver e realizar um bom trabalho.
É preciso urgentemente que municípios, estados e federação pratiquem políticas públicas que permitam aos brasileiros, sem distinção econômica, realizar de maneira plena seus dons pessoais e sonhos profissionais. Senão, continuaremos sendo medalha de ouro sim, mas em desigualdade social.
Além da frustração das medalhas perdidas em provas consideradas “garantidas”, o desempenho geral do país decepcionou muita gente, principalmente após a euforia (exagerada) gerada pela realização do último Pan-americano, no Rio de Janeiro, que não contou com alguns dos principais atletas dos países participantes.
Levando-se em conta o tamanho, a diversidade e a crescente importância econômica do Brasil no cenário internacional, foi realmente um desempenho muito aquém daquele que acreditamos ser o potencial de nossa nação.
Porém, se levarmos em conta a falta de apoio de grande parcela do poder público ao esporte no país, já devíamos contar com esse relativo “fracasso”.
Os milhões de brasileiros que não possuem recursos próprios para se associar a um clube ou para freqüentar uma academia, muitas vezes passam a vida inteira sem acesso a qualquer modalidade esportiva que não sejam as mais populares e mais baratas de se praticar e, mesmo quando se destaca em alguma dessas modalidades, não possui apoio estatal para se desenvolver e, conquistando resultados, obter um patrocínio mais significativo para sua modalidade. Dessa forma, milhões de atletas em potencial se perdem nas pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, já que na maioria delas não há infra-estrutura ou políticas esportivas voltadas aos mais necessitados.
É raro e até pouco provável que se encontre, nas periferias das cidades brasileiras, centros esportivos comunitários aonde o trabalhador e sua família possam praticar esportes variados e, sendo assim, ficamos na dependência de um ou outro “predestinado” que, por sorte ou acaso, consegue se destacar e conquistar vitórias internacionais para o esporte brasileiro.
Sendo assim, só quem possui recursos próprios, como o nadador medalha de ouro César Cielo, que treinou nos EUA por conta do dinheiro dos pais, consegue a tão sonhada oportunidade da medalha olímpica, salvo raras exceções.
E isso não acontece só nos esportes, pois nas áreas da cultura e da ciência também são poucos os brasileiros que conseguem apoio do governo para se desenvolver e realizar um bom trabalho.
É preciso urgentemente que municípios, estados e federação pratiquem políticas públicas que permitam aos brasileiros, sem distinção econômica, realizar de maneira plena seus dons pessoais e sonhos profissionais. Senão, continuaremos sendo medalha de ouro sim, mas em desigualdade social.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Edis e afins...
Todas as grandes civilizações da História instituíram algum instrumento burocrático com o objetivo de organizar a administração local, viabilizando assim a manutenção da ordem jurídica e administrativa nos seus mais diferentes rincões.
Ao longo da História, o primeiro caso significativo foi o da Pérsia que, durante o governo de Dário I, dividiu o império em “satrápias” (províncias), administradas por funcionários denominados sátrapas e fiscalizadas por homens que recebiam a alcunha de “olhos e ouvidos do rei”.
As províncias romanas também tinham seus administradores locais e, ainda em Roma, surgiram os denominados edis, que eram responsáveis pela administração e pela defesa da lei nas grandes cidades do império, principalmente na própria Roma.
Já na Idade Média, no Reino Franco, que atingia toda a Europa ocidental a partir da Gália (França), Carlos Magno criou os sheriffs, depois denominados condes que, ao lado dos marqueses e duques, defendiam e governavam o reino em nome do imperador, dando início, após a queda da dinastia de Carlos Magno (Carolíngia) à nobreza feudal européia.
No Brasil, já no primeiro século da colonização (XVI), baseado na legislação portuguesa, o rei criou as câmaras municipais que, compostas por representantes da elite latifundiária, denominados “homens-bons”, eram responsáveis pela administração das vilas e municípios.
Hoje, são os vereadores municipais que exercem esse papel nos municípios brasileiros.
Tão importante quanto a escolha do próximo prefeito é a escolha dos homens e mulheres que exercerão o cargo de vereador nos municípios brasileiros entre 2009 e 2012, afinal, legislando e aprovando ou reprovando as propostas do executivo municipal, o poder legislativo também é responsável pelo que acontece em uma administração pública.
Ao longo da História, o primeiro caso significativo foi o da Pérsia que, durante o governo de Dário I, dividiu o império em “satrápias” (províncias), administradas por funcionários denominados sátrapas e fiscalizadas por homens que recebiam a alcunha de “olhos e ouvidos do rei”.
As províncias romanas também tinham seus administradores locais e, ainda em Roma, surgiram os denominados edis, que eram responsáveis pela administração e pela defesa da lei nas grandes cidades do império, principalmente na própria Roma.
Já na Idade Média, no Reino Franco, que atingia toda a Europa ocidental a partir da Gália (França), Carlos Magno criou os sheriffs, depois denominados condes que, ao lado dos marqueses e duques, defendiam e governavam o reino em nome do imperador, dando início, após a queda da dinastia de Carlos Magno (Carolíngia) à nobreza feudal européia.
No Brasil, já no primeiro século da colonização (XVI), baseado na legislação portuguesa, o rei criou as câmaras municipais que, compostas por representantes da elite latifundiária, denominados “homens-bons”, eram responsáveis pela administração das vilas e municípios.
Hoje, são os vereadores municipais que exercem esse papel nos municípios brasileiros.
Tão importante quanto a escolha do próximo prefeito é a escolha dos homens e mulheres que exercerão o cargo de vereador nos municípios brasileiros entre 2009 e 2012, afinal, legislando e aprovando ou reprovando as propostas do executivo municipal, o poder legislativo também é responsável pelo que acontece em uma administração pública.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Fome
Resolvi rever esse meu trabalho, de dezembro de 2005, em função da atualidade do problema da fome no mundo (de novo). Mais uma consequência das intermináveis voltas que o capitalismo dá.
A FOME E SUAS CAUSAS
Não deixa de ser contraditório falarmos de fome no Brasil, país que, desde o século XVI, tem como sua principal característica a produção de alimentos para a exportação, tendo se constituído na primeira colônia agrícola da história moderna.
Porém, se prestarmos atenção nas características básicas do modelo agrícola praticado no país ao longo da História, veremos que a fome sempre foi inerente ao próprio, pois a produção de alimentos não visa primordialmente o abastecimento interno.
Com início oficial em 1530, a empresa açucareira montada nestas terras pelos portugueses apresentava as características básicas do chamado sistema de “plantation”, ou seja, monocultura praticada em latifúndios com mão-de-obra escrava e com a produção destinada ao mercado externo. A produção dos gêneros necessários à sobrevivência ficava por conta de pequenas roças incrustadas nas grandes áreas ocupadas pela cana-de-açúcar predominante no litoral nordestino desde o início da colonização, além de contar a sociedade da época com uma produção marginal situada no interior da mesma região nordeste e com caráter meramente complementar: a pecuária.
_________________________________________________________________________
É importante ressaltar que a economia açucareira implantada por Portugal no Brasil contou com intensa participação holandesa, pois, uma vez que Portugal não possuía as técnicas de refino do açúcar, vendia-o “bruto” aos holandeses, que o refinavam e revendiam na Europa. Quando se dá a união dos reinos ibéricos, em 1580, Felipe II de Habsburgo exclui seus rivais holandeses dessa “divisão” da produção açucareira, levando os holandeses a formarem a WIC (Companhia das Índias Ocidentais), com o intuito de invadir o nordeste brasileiro, centro produtor de açúcar, nos dando a dimensão da importância dessa atividade para o jovem país capitalista. Depois de um período de dominação holandesa, entre 1630 e 1654, o nordeste brasileiro volta ao domínio português, já sob a tutela dos Bragança, mas a economia açucareira nunca mais seria a mesma, pois os flamengos levaram consigo mudas de cana e as estão plantando na América central, produzindo um açúcar melhor e mais barato que o brasileiro.
Dessa forma, a “vocação natural” do Brasil, do ponto de vista econômico, se delineava, despertando o interesse das primeiras potências capitalistas, ainda durante o mercantilismo, interesse esse que sobreviveu a Revolução Industrial e ao advento do liberalismo, assim como a “vocação” agrícola brasileira.
_________________________________________________________________________
Com o fim do ciclo açucareiro, Portugal se dedicou a buscar uma nova fonte de riquezas no interior do Brasil e, com a descoberta de ouro e o início do ciclo minerador, o rápido crescimento demográfico causado pelo interesse nas riquezas minerais provocou uma grave crise de abastecimento, principalmente nos anos de 1700 e 1701, não obstante a pecuária gaúcha estar atuando sobre a área mineradora da mesma forma que a sertaneja atuava em relação à área açucareira.
Porém, a pior crise de fome registrada no Brasil ocorreu já na transição do império para a república quando, entre 1877 e 1899, uma grave seca no sertão nordestino resultou em um saldo estimado de 500 mil mortes. Na época, no que viria a ser uma das últimas ações de grande porte de seu governo, Dom Pedro II elaborou um programa baseado na construção de poços e açudes, além do canal São Francisco/Jaguaribe, construído em direção ao semi-árido cearense.
_________________________________________________________________________
Vale lembrar que foi durante o governo de Dom Pedro II que o Brasil concretizou o seu “renascimento agrícola”, através do café, produto que dominaria as exportações brasileiras até meados do século XX, sendo determinante inclusive na composição do poder político, principalmente entre 1894 e 1930 (República Oligárquica).
_________________________________________________________________________
A primeira ação política para o combate a fome na região nordeste após a proclamação da República se deu no governo JK, através da criação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), por Celso Furtado, e da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), fechada durante o governo Fernando Henrique, em 2001.
A SUDENE, com sede em Recife, buscava introduzir a agricultura familiar, tendo assentado um milhão de nordestinos do semi-árido no noroeste do Maranhão e no sul da Bahia. Ainda no governo JK tentou-se aprovar no Congresso, sem sucesso, a Lei de Irrigação, que propunha reforma agrária antes da irrigação, citando “desapropriação com finalidade social das terras irrigadas”.
Na prática, os investimentos realizados entre o final do 2º Reinado e o governo JK possibilitaram de fato a construção de açudes e o armazenamento de água, porém, situados no interior de grandes latifúndios, foram estes utilizados apenas segundo o interesse das elites agrárias da região, principalmente com objetivos políticos, criando o termo “Indústria da Seca”.
Em 2003, início do atual governo, o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou a criação do programa “Fome Zero”, adotando medidas emergenciais e controversas para o combate a fome. Em meio aos recentes escândalos de corrupção, tal projeto acabou sumindo do noticiário da grande mídia, e seus resultados ainda não são conhecidos do grande público. Porém, o que se sabe com certeza, é que em um dos maiores exportadores mundiais de grãos, a fome não deveria ser uma realidade.
O Brasil não é o único país do mundo que enfrentou e enfrenta o problema da fome, a diferença é que nas principais crises alimentares observadas pelo mundo ao longo da História a causa fundamental é o desabastecimento, quer por problemas climáticos, quer por conflitos internos e externos, enquanto no Brasil o problema se deve a uma opção econômica que exporta gêneros dos quais sua população carece.
Vejamos alguns exemplos de crise na produção de alimentos pelo mundo e suas causas:
* 1315-1317 – Europa Centro-Ocidental – Aumento populacional sem o correspondente aumento na produção de alimentos.
* 1847-1848 – Irlanda – Praga das Batatas.
* 1932-1933 – Ucrânia – Confisco da produção por parte do governo de Stálin.
* 1959-1961 – China – Crise de abastecimento pós 2ª Guerra e Revolução de 49 / Estruturação das Comunas Populares.
* 1984 – Etiópia – Guerra Civil.
A FOME E SUAS CAUSAS
Não deixa de ser contraditório falarmos de fome no Brasil, país que, desde o século XVI, tem como sua principal característica a produção de alimentos para a exportação, tendo se constituído na primeira colônia agrícola da história moderna.
Porém, se prestarmos atenção nas características básicas do modelo agrícola praticado no país ao longo da História, veremos que a fome sempre foi inerente ao próprio, pois a produção de alimentos não visa primordialmente o abastecimento interno.
Com início oficial em 1530, a empresa açucareira montada nestas terras pelos portugueses apresentava as características básicas do chamado sistema de “plantation”, ou seja, monocultura praticada em latifúndios com mão-de-obra escrava e com a produção destinada ao mercado externo. A produção dos gêneros necessários à sobrevivência ficava por conta de pequenas roças incrustadas nas grandes áreas ocupadas pela cana-de-açúcar predominante no litoral nordestino desde o início da colonização, além de contar a sociedade da época com uma produção marginal situada no interior da mesma região nordeste e com caráter meramente complementar: a pecuária.
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É importante ressaltar que a economia açucareira implantada por Portugal no Brasil contou com intensa participação holandesa, pois, uma vez que Portugal não possuía as técnicas de refino do açúcar, vendia-o “bruto” aos holandeses, que o refinavam e revendiam na Europa. Quando se dá a união dos reinos ibéricos, em 1580, Felipe II de Habsburgo exclui seus rivais holandeses dessa “divisão” da produção açucareira, levando os holandeses a formarem a WIC (Companhia das Índias Ocidentais), com o intuito de invadir o nordeste brasileiro, centro produtor de açúcar, nos dando a dimensão da importância dessa atividade para o jovem país capitalista. Depois de um período de dominação holandesa, entre 1630 e 1654, o nordeste brasileiro volta ao domínio português, já sob a tutela dos Bragança, mas a economia açucareira nunca mais seria a mesma, pois os flamengos levaram consigo mudas de cana e as estão plantando na América central, produzindo um açúcar melhor e mais barato que o brasileiro.
Dessa forma, a “vocação natural” do Brasil, do ponto de vista econômico, se delineava, despertando o interesse das primeiras potências capitalistas, ainda durante o mercantilismo, interesse esse que sobreviveu a Revolução Industrial e ao advento do liberalismo, assim como a “vocação” agrícola brasileira.
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Com o fim do ciclo açucareiro, Portugal se dedicou a buscar uma nova fonte de riquezas no interior do Brasil e, com a descoberta de ouro e o início do ciclo minerador, o rápido crescimento demográfico causado pelo interesse nas riquezas minerais provocou uma grave crise de abastecimento, principalmente nos anos de 1700 e 1701, não obstante a pecuária gaúcha estar atuando sobre a área mineradora da mesma forma que a sertaneja atuava em relação à área açucareira.
Porém, a pior crise de fome registrada no Brasil ocorreu já na transição do império para a república quando, entre 1877 e 1899, uma grave seca no sertão nordestino resultou em um saldo estimado de 500 mil mortes. Na época, no que viria a ser uma das últimas ações de grande porte de seu governo, Dom Pedro II elaborou um programa baseado na construção de poços e açudes, além do canal São Francisco/Jaguaribe, construído em direção ao semi-árido cearense.
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Vale lembrar que foi durante o governo de Dom Pedro II que o Brasil concretizou o seu “renascimento agrícola”, através do café, produto que dominaria as exportações brasileiras até meados do século XX, sendo determinante inclusive na composição do poder político, principalmente entre 1894 e 1930 (República Oligárquica).
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A primeira ação política para o combate a fome na região nordeste após a proclamação da República se deu no governo JK, através da criação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), por Celso Furtado, e da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), fechada durante o governo Fernando Henrique, em 2001.
A SUDENE, com sede em Recife, buscava introduzir a agricultura familiar, tendo assentado um milhão de nordestinos do semi-árido no noroeste do Maranhão e no sul da Bahia. Ainda no governo JK tentou-se aprovar no Congresso, sem sucesso, a Lei de Irrigação, que propunha reforma agrária antes da irrigação, citando “desapropriação com finalidade social das terras irrigadas”.
Na prática, os investimentos realizados entre o final do 2º Reinado e o governo JK possibilitaram de fato a construção de açudes e o armazenamento de água, porém, situados no interior de grandes latifúndios, foram estes utilizados apenas segundo o interesse das elites agrárias da região, principalmente com objetivos políticos, criando o termo “Indústria da Seca”.
Em 2003, início do atual governo, o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou a criação do programa “Fome Zero”, adotando medidas emergenciais e controversas para o combate a fome. Em meio aos recentes escândalos de corrupção, tal projeto acabou sumindo do noticiário da grande mídia, e seus resultados ainda não são conhecidos do grande público. Porém, o que se sabe com certeza, é que em um dos maiores exportadores mundiais de grãos, a fome não deveria ser uma realidade.
O Brasil não é o único país do mundo que enfrentou e enfrenta o problema da fome, a diferença é que nas principais crises alimentares observadas pelo mundo ao longo da História a causa fundamental é o desabastecimento, quer por problemas climáticos, quer por conflitos internos e externos, enquanto no Brasil o problema se deve a uma opção econômica que exporta gêneros dos quais sua população carece.
Vejamos alguns exemplos de crise na produção de alimentos pelo mundo e suas causas:
* 1315-1317 – Europa Centro-Ocidental – Aumento populacional sem o correspondente aumento na produção de alimentos.
* 1847-1848 – Irlanda – Praga das Batatas.
* 1932-1933 – Ucrânia – Confisco da produção por parte do governo de Stálin.
* 1959-1961 – China – Crise de abastecimento pós 2ª Guerra e Revolução de 49 / Estruturação das Comunas Populares.
* 1984 – Etiópia – Guerra Civil.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Qual capital???
Lucro e riqueza, por um bom tempo, principalmente no Brasil, foram "pragas" condenáveis por grande parte da "intelectualidade", como as novas pragas do Egito, ou como uma espécie de lepra incurável... mas sem a "vantagem" do contágio.
Os capitalistas eram caricaturados como bufões enormes e preguiçosos, mais próximos da idéia do barão decadente da Baixa Idade Média ou do latifundiário escravocrata e analfabeto dos tempos da colônia e até a primeira fase da República.
Porém, a aposentadoria de Bill Gates, tão noticiada nas últimas semanas, serviu para levantar uma discussão que, pelo menos desde 1989, estava prestes a vir a tona.
Vejamos:
Qual a origem de todos os confortos tecnológicos e científicos dos quais usufruímos, e da própria produção cultural de massa que nos atinge cotidianamente, pelo MP3, pelo PC, pelo Palm, pelo celular, pela TV ou pelo rádio, entre outros veículos? E os avanços da medicina e da indústria química, de onde vêm?
A resposta é simples: são produtos industrializados, ou seja, resultado da Revolução Industrial, principalmente a partir da 2ª (século XIX).
Por outro lado, mas não menos importante, é inegável que a Revolução Industrial foi e ainda é resultado do investimento da burguesia que, utilizando os recursos obtidos com a "acumulação primitiva" moderna, investiu em países que forneciam mínima segurança e uma certa garantia de respeito aos seus investimentos e à suas propriedades. Esses países, inicialmente Inglaterra e França e, em seguida, EUA, eram aqueles que, através de estratégias políticas (Inglaterra) ou de revoluções (EUA e França), haviam colocado a burguesia no poder político e, então, adotaram leis e políticas públicas voltadas ao estímulo e à proteção da atividade capitalista.
Nesses países, a atuação capitalista prosperou gerando emprego, renda e até mesmo riqueza para a sociedade como um todo e para parte considerável dos indivíduos do grupo, além de garantir a subsistência dos menos afortunados.
(Foi também nessas sociedades que o respeito às iniciativas privadas e aos direitos individuais fez prosperar o até hoje maior exemplo de respeito ao "eu" assistido pela história humana, mas isso já é outro assunto.)
Sendo assim, negar a importância da parte "saudável" da burguesia para a evolução humana é contrariar a história, afinal, homens como Henry Ford, Irineu Evangelista de Souza, Enzo e Dino Ferrari e Bill Gates, além de tantos outros anônimos e que nada se assemelham ao estereótipo do capitalista, foram fundamentais para a evolução humana. Sem os seus investimentos e empreendedorismo, estaríamos tecnologicamente no século XVIII, morrendo de tuberculose, gripe e sífilis.
Os capitalistas eram caricaturados como bufões enormes e preguiçosos, mais próximos da idéia do barão decadente da Baixa Idade Média ou do latifundiário escravocrata e analfabeto dos tempos da colônia e até a primeira fase da República.
Porém, a aposentadoria de Bill Gates, tão noticiada nas últimas semanas, serviu para levantar uma discussão que, pelo menos desde 1989, estava prestes a vir a tona.
Vejamos:
Qual a origem de todos os confortos tecnológicos e científicos dos quais usufruímos, e da própria produção cultural de massa que nos atinge cotidianamente, pelo MP3, pelo PC, pelo Palm, pelo celular, pela TV ou pelo rádio, entre outros veículos? E os avanços da medicina e da indústria química, de onde vêm?
A resposta é simples: são produtos industrializados, ou seja, resultado da Revolução Industrial, principalmente a partir da 2ª (século XIX).
Por outro lado, mas não menos importante, é inegável que a Revolução Industrial foi e ainda é resultado do investimento da burguesia que, utilizando os recursos obtidos com a "acumulação primitiva" moderna, investiu em países que forneciam mínima segurança e uma certa garantia de respeito aos seus investimentos e à suas propriedades. Esses países, inicialmente Inglaterra e França e, em seguida, EUA, eram aqueles que, através de estratégias políticas (Inglaterra) ou de revoluções (EUA e França), haviam colocado a burguesia no poder político e, então, adotaram leis e políticas públicas voltadas ao estímulo e à proteção da atividade capitalista.
Nesses países, a atuação capitalista prosperou gerando emprego, renda e até mesmo riqueza para a sociedade como um todo e para parte considerável dos indivíduos do grupo, além de garantir a subsistência dos menos afortunados.
(Foi também nessas sociedades que o respeito às iniciativas privadas e aos direitos individuais fez prosperar o até hoje maior exemplo de respeito ao "eu" assistido pela história humana, mas isso já é outro assunto.)
Sendo assim, negar a importância da parte "saudável" da burguesia para a evolução humana é contrariar a história, afinal, homens como Henry Ford, Irineu Evangelista de Souza, Enzo e Dino Ferrari e Bill Gates, além de tantos outros anônimos e que nada se assemelham ao estereótipo do capitalista, foram fundamentais para a evolução humana. Sem os seus investimentos e empreendedorismo, estaríamos tecnologicamente no século XVIII, morrendo de tuberculose, gripe e sífilis.
sábado, 21 de junho de 2008
A morte da política
A morte da política, pelo menos do tipo de política que conhecíamos atés os anos 80/90, é um fenômeno cada vez mais evidente.
Atualmente, na grande mídia, os exemplos se multiplicam.
O locaute (lockout) do agronegócio contra a exportação de grãos e o transporte rodoviário na Argentina, provocado pela tentativa da presidente Cristina Kirchner de aumentar as taxas de exportação de produtos agrícolas, com o argumento de aumentar a oferta no mercado interno, reduzindo os preços, já retirou mais de 30 pontos da popularidade da presidente, e pesquisas indicam que mais da metade dos argentinos acreditam que a falta de carne, pão e arroz no mercado é responsabilidade direta do governo.
Na outra ponta da "geopolítica" do continente, o governo Hugo Chavez, na Venezuela, garante o preço dos alimentos subsidiando os "Mercal" com petrodólares, enquanto critica o "império" em público e garante sua popularidade na base do "panis" (não muito) e do "circenses" (em excesso).
Em ambos os casos a política verdadeira fica de fora, já que nos dois exemplos "fazer política" se resume a equilibrar a ambição dos poucos e a satisfação (mas não muita) dos muitos.
Enquanto isso, na Europa mais "direitista" dos útimos 20 anos, os "nativos" buscam garantir a preservação do seu filão endurecendo as leis de imigração. Talvez estejam certos, em um mundo com, no mínimo, 2 bilhões de pessoas "em excesso", salve-se quem puder.
Atualmente, na grande mídia, os exemplos se multiplicam.
O locaute (lockout) do agronegócio contra a exportação de grãos e o transporte rodoviário na Argentina, provocado pela tentativa da presidente Cristina Kirchner de aumentar as taxas de exportação de produtos agrícolas, com o argumento de aumentar a oferta no mercado interno, reduzindo os preços, já retirou mais de 30 pontos da popularidade da presidente, e pesquisas indicam que mais da metade dos argentinos acreditam que a falta de carne, pão e arroz no mercado é responsabilidade direta do governo.
Na outra ponta da "geopolítica" do continente, o governo Hugo Chavez, na Venezuela, garante o preço dos alimentos subsidiando os "Mercal" com petrodólares, enquanto critica o "império" em público e garante sua popularidade na base do "panis" (não muito) e do "circenses" (em excesso).
Em ambos os casos a política verdadeira fica de fora, já que nos dois exemplos "fazer política" se resume a equilibrar a ambição dos poucos e a satisfação (mas não muita) dos muitos.
Enquanto isso, na Europa mais "direitista" dos útimos 20 anos, os "nativos" buscam garantir a preservação do seu filão endurecendo as leis de imigração. Talvez estejam certos, em um mundo com, no mínimo, 2 bilhões de pessoas "em excesso", salve-se quem puder.
domingo, 15 de junho de 2008
poesia
A poesia não é minha forma predileta de palavra escrita. Aliás, gosto muito pouco desse "estilo".
Sendo assim, quando alguma delas me pega, me pega de jeito.
Essa é de Maiakóvski, e me pegou de jeito entre um litro e outro de vinho chapinha e vodka polára, nos idos dos 90, quando eu ainda tinha cabelos e eles apontavam para o céu no tom do coturno preto...
EU
Nas calçadas pisadas de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde forcas esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres oblíquas
só
soluçando eu avanço
por vias que se encruzilham
à vista de crucifixos
polícias
(tradução: Haroldo de Campos)
Sendo assim, quando alguma delas me pega, me pega de jeito.
Essa é de Maiakóvski, e me pegou de jeito entre um litro e outro de vinho chapinha e vodka polára, nos idos dos 90, quando eu ainda tinha cabelos e eles apontavam para o céu no tom do coturno preto...
EU
Nas calçadas pisadas de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde forcas esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres oblíquas
só
soluçando eu avanço
por vias que se encruzilham
à vista de crucifixos
polícias
(tradução: Haroldo de Campos)
domingo, 1 de junho de 2008
"A Máscara da Morte Rubra"
"A máscara da morte rubra" é um conto do inigualável Edgar Allan Poe que aborda obviamente a Peste Negra, na Europa medieval, mas também serve como ótima metáfora para a falsa segurança que os condomínios e shoping-centers prometem frente as "pragas" contemporâneas.
Vale a pena conferir:
A Máscara da Morte Rubra
(de Edgar Allan Poe)
A "Morte Rubra" havia muito devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era sua revelação e sua marca a cor vermelha e o horror do sangue. Surgia com dores agudas e súbita tontura, seguidas de profuso sangramento pelos poros, e então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E entre o aparecimento, a evolução e o fim da doença não se passava mais de meia hora.
Porém, o Príncipe Próspero era feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos dentre os cavalheiros e damas da corte e com eles retirou-se, em total reclusão, para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e magnífica, criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a a muralha forte e muito alta, com portas de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos. Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos de desespero do que estavam fora ou aos furores do que estavam dentro. O mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse meio-tempo era tolice atormentar-se ou pensar nisso. O príncipe havia providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, improvisadores, dançarinos, músicos, Beleza, vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá fora, a "Morte Rubra".
Lá pelo final do quinto ou sexto mês de reclusão, enquanto a peste grassava mais furiosamente lá fora, o príncipe Próspero brindou os mil amigos com um magnífico baile de máscaras.
Era um espetáculo voluptuoso, aquela mascarada. Mas antes vou descrever onde ela aconteceu. Eram sete suítes imperiais. Em muitos palácios, porém, essas suítes formam uma perspectiva longa e reta, quando as portas se abrem até se encostarem nas paredes de ambos os lados, de tal modo que a vista de toda essa sucessão é quase desimpedida. Ali, a situação era muito diferente, como se devia esperar da paixão do duque pelo fantástico. Os salões estavam dispostos de maneira tão irregular que os olhos só podiam abarcar pouco mais de cada um por vez. Havia um desvio abrupto a cada vinte ou trinta metros e, a cada desvio, um efeito novo. À direita e à esquerda, no meio de cada parede, uma alta e estreita janela gótica dava para um corredor fechado que acompanhava as curvas da suíte. A cor dos vitrais dessas janelas variava de acordo com a tonalidade dominante na decoração do salão para o qual se abriam. O da extremidade leste, por exemplo, era azul e de um azul intenso eram suas janelas. No segundo salão os ornamentos e tapeçarias, assim como as vidraças, eram cor de púrpura. O terceiro era inteiramente verde, e verdes também os caixilhos das janelas. O quarto estava mobiliado e iluminado com cor alaranjada o quinto era branco, e o sexto, roxo. O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. A vidraças, ali, eram Rubras... uma violenta cor de sangue.
Ora, em nenhum dos sete salões havia qualquer lâmpada ou candelabro, em meio à profusão de ornamentos de ouro espalhados por todos os cantos ou dependurados do teto. Nenhuma lâmpada ou vela iluminava o interior da seqüência de salões. Mas nos corredores que circundavam a suíte havia, diante de cada janela, um pesado tripé com um braseiro, que projetava seus raios pelos vitrais coloridos e, assim, iluminava brilhantemente a sala, produzindo grande número de efeitos vistosos e fantásticos. Mas no salão oeste, ou negro, o efeito do clarão de luz que jorrava sobre as cortinas escuras através das vidraças da cor do sangue era desagradável ao extremo e produzia uma expressão tão desvairada no semblante dos que entravam que poucos no grupo sentiam ousadia bastante para ali penetrar.
Era também nesse apartamento que se achava, encostado à parede oeste, um gigantesco relógio de ébano. Seu pêndulo oscilava de um lado para o outro com um bater surdo, pesado, monótono; quando o ponteiro dos minutos completava o circuito do mostrador e o relógio ia dar as horas, de seus pulmões de bronze brotava um som claro e alto e grave e extremamente musical, mas em tom tão enfático e peculiar que, ao final de cada hora, os músicos da orquestra se viam obrigados a interromper momentaneamente a apresentação para escutar-lhe o som; com isso os dançarinos forçosamente tinham de parar as evoluções da valsa e, por um breve instante, todo o alegre grupo mostrava-se perturbado; enquanto ainda soavam os carrilhões do relógio, observava-se que os mais frívolos empalideciam e os mais velhos e serenos passavam a mão pela testa, como se estivessem num confuso devaneio ou meditação. Mas, assim que os ecos desapareciam interiormente, risinhos levianos logo se riam do próprio nervosismo e insensatez e, em sussurros, diziam uns aos outros que o próximo soar de horas não produziria neles a mesma emoção; mas, após um lapso de sessenta minutos (que abrangem três mil e seiscentos segundos do Tempo que voa), quando o relógio dava novamente as horas, acontecia a mesma perturbação e idênticos tremores e gestos de meditação de antes.
Apesar disso tudo, que festa alegre e magnífica! Os gosto do duque eram estranhos. Sabia combinar cores e efeitos. Menosprezando a mera decoração da moda, seus arranjos mostravam-se ousados e veementes, e suas idéias brilhavam com um esplendor bárbaro. Alguns podiam considerá-lo louco. Era preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo para convencer-se de que não era.
Para essa grande festa, ele próprio dirigiu, em grande parte, a ornamentação cambiante dos sete salões, e foi seu próprio gosto que inspirou as fantasias dos foliões. Claro que eram grotescas. Havia muito brilho, resplendor, malícia e fantasia... muito daquilo que foi visto depois no Hernani. Havia figuras fantásticas com membros e adornos que não combinavam.
Havia caprichos delirantes como se tivessem sido modelados por um louco. Havia muito de beleza, muito de libertinagem e de extravagância, algo de terrível e um tanto daquilo que poderia despertar repulsa. De um ao outro, pelos sete salões, desfilava majestosamente, na verdade, uma multidão de sonhos. E eles, os sonhos, giravam sem parar, assumindo a cor de cada salão e fazendo com que a impetuosa música da orquestra parecesse o eco de seus passos. Daí a pouco soa o relógio de ébano colocado no salão de veludo. Então, por um momento, tudo se imobiliza e é tudo silêncio, menos a voz do relógio. Os sonhos se congelam como estão. Mas os ecos das batidas extinguem-se, duraram apenas um instante e risos levianos, mal reprimidos, flutuam atrás dos ecos, à medida que vão morrendo. E logo a música cresce de novo, e os sonhos revivem e rodopiam mais alegremente que nunca, assumindo as cores das muitas janelas multicoloridas, através das quais fluem os raios luminosos dos tripés. Ao salão que fica a mais oeste de todos os sete, porém, nenhum dos mascarados se aventura agora; pois a noite está se aproximando do fim: ali flui uma luz mais vermelha pelos vitrais cor de sangue e o negror das cortinas escuras apavora; para aquele que pousa o pé no tapete negro, do relógio de ébano ali perto chega um clangor ensurdecido mais solene e enfático que aquele que atinge os ouvidos dos que se entregam às alegrias nos salões mais afastados.
Mas nesses outros salões cheios de gente batia febril o coração da vida. E o festim continuou em remoinhos até que, afinal, começou a soar meia-noite no relógio. Então a música cessou, como contei, as evoluções dos dançarinos se aquietaram, e, como antes, tudo ficou intranqüilamente imobilizado. Mas agora iriam ser doze as badaladas do relógio; e desse modo mais pensamentos talvez tenham se infiltrado, por mais tempo, nas meditações dos mais pensativos, entre aqueles que se divertiam. E assim também aconteceu, talvez, que, antes de os últimos ecos da última badalada terem mergulhado inteiramente no silêncio, muitos indivíduos na multidão puderam perceber a presença de uma figura mascarada que antes não chamara a atenção de ninguém. E, ao se espalhar em sussurros o rumor dessa nova presença, elevou-se aos poucos de todo o grupo um zumbido ou murmúrio que expressava a reprovação e surpresa e, finalmente, terror, horror e repulsa.
Numa reunião de fantasmas como esta que pintei, pode-se muito bem supor que nenhuma aparência comum poderia causar tal sensação. Na verdade, a liberdade da mascarada dessa noite era praticamente ilimitada; mas a figura em questão ultrapassava o próprio Herodes, indo além dos limites até do indefinido decoro do príncipe. Existem cordas, nos corações dos mais indiferentes, que não podem ser tocadas sem emoção. Até para os totalmente insensíveis, para quem a vida e morte são alvo de igual gracejo, existem assuntos com os quais não se pode brincar. Na verdade, todo o grupo parecia agora sentir profundamente que na fantasia e no rosto do estranho não existia graça nem decoro. A figura era alta e esquálida, envolta dos pés a cabeça em vestes mortuárias. A máscara que escondia o rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais atento teria dificuldade em descobrir o engano. Tudo isso poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos participantes da festa, se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte Rubra. Seu vestuário estava borrifado de sangue e sua alta testa, assim como o restante do rosto, salpicada com o horror Rubro.
Quando os olhos do príncipe Próspero pousaram nessa imagem espectral (que andava entre os convivas com movimentos lentos e solenes, como se quisesse manter-se à altura do papel), todos perceberam que ele foi assaltado por um forte estremecimento de terror ou repulsa, num primeiro momento, mas logo o seu semblante tornou-se vermelho de raiva.
Quem ousa... perguntou com voz rouca aos convivas que estavam perto, quem ousa nos insultar com essa caçoada blasfema? Peguem esse homem e tirem sua máscara, para sabermos quem será enforcado no alto dos muros, ao amanhecer!
O príncipe Próspero estava na sala leste, ou azul, ao dizer essas palavras.
Elas ressoaram pelos sete salões, altas e claras, pois o príncipe era um homem ousado e robusto e a música se calara com um sinal de sua mão.
O príncipe achava-se no salão azul com um grupo de pálidos convivas ao seu lado. Assim que falou, houve um ligeiro movimento dessas pessoas na direção do intruso, que, naquele momento, estava bem ao alcance das mãos, e agora, com passos decididos e firmes, se aproximava do homem que tinha falado. Mas por causa de um certo temor sem nome, que a louca arrogância do mascarado havia inspirado em toda a multidão, não houve ninguém que estendesse a mão para detê-lo; de forma que, desimpedido , passou a um metro do príncipe e, enquanto a vasta multidão, como por um único impulso, se retraía do centro das salas para as paredes, ele continuou seu caminho sem deter-se, no mesmo passo solene e medido que o distinguira desde o início, passando do salão azul para o púrpura, do púrpura para o verde, do verde para o alaranjado e desse ainda para o branco e daí para o roxo, antes que se fizesse qualquer movimento decisivo para detê-lo. Foi então que o príncipe Próspero, louco de raiva e vergonha por sua momentânea covardia, correu apressadamente pelos seis salões, sem que ninguém o seguisse por causa do terror mortal que tomara conta de todos. Segurando bem alto um punhal desembainhado, aproximou-se, impetuosamente, até cerca de um metro do vulto que se afastava, quando este, ao atingir a extremidade do salão de veludo, virou-se subitamente e enfrentou seu perseguidor. Ouviu-se um grito agudo e o punhal caiu cintilando no tapete negro, sobre o qual, no instante seguinte, tombou prostrado de morte o príncipe Próspero. Então, reunindo a coragem selvagem do desespero, um bando de convivas lançou-se imediatamente no apartamento negro e, agarrando o mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e imóvel à sombra do relógio de ébano, arrancaram-lhe a máscara.
Um grito de pavor indescritível ecoou pelos salões ao se descobrir que, sob a mortalha e a máscara cadavérica, que agarravam com tamanha violência e grosseria, não havia qualquer forma palpável.
Ali estava a Morte Rubra.
E um a um foram caindo os foliões pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou no chão. E a vida do relógio de Ébano dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros extinguiram-se. Reinou então a treva. E a Ruína.
Vale a pena conferir:
A Máscara da Morte Rubra
(de Edgar Allan Poe)
A "Morte Rubra" havia muito devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era sua revelação e sua marca a cor vermelha e o horror do sangue. Surgia com dores agudas e súbita tontura, seguidas de profuso sangramento pelos poros, e então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E entre o aparecimento, a evolução e o fim da doença não se passava mais de meia hora.
Porém, o Príncipe Próspero era feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos dentre os cavalheiros e damas da corte e com eles retirou-se, em total reclusão, para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e magnífica, criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a a muralha forte e muito alta, com portas de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos. Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos de desespero do que estavam fora ou aos furores do que estavam dentro. O mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse meio-tempo era tolice atormentar-se ou pensar nisso. O príncipe havia providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, improvisadores, dançarinos, músicos, Beleza, vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá fora, a "Morte Rubra".
Lá pelo final do quinto ou sexto mês de reclusão, enquanto a peste grassava mais furiosamente lá fora, o príncipe Próspero brindou os mil amigos com um magnífico baile de máscaras.
Era um espetáculo voluptuoso, aquela mascarada. Mas antes vou descrever onde ela aconteceu. Eram sete suítes imperiais. Em muitos palácios, porém, essas suítes formam uma perspectiva longa e reta, quando as portas se abrem até se encostarem nas paredes de ambos os lados, de tal modo que a vista de toda essa sucessão é quase desimpedida. Ali, a situação era muito diferente, como se devia esperar da paixão do duque pelo fantástico. Os salões estavam dispostos de maneira tão irregular que os olhos só podiam abarcar pouco mais de cada um por vez. Havia um desvio abrupto a cada vinte ou trinta metros e, a cada desvio, um efeito novo. À direita e à esquerda, no meio de cada parede, uma alta e estreita janela gótica dava para um corredor fechado que acompanhava as curvas da suíte. A cor dos vitrais dessas janelas variava de acordo com a tonalidade dominante na decoração do salão para o qual se abriam. O da extremidade leste, por exemplo, era azul e de um azul intenso eram suas janelas. No segundo salão os ornamentos e tapeçarias, assim como as vidraças, eram cor de púrpura. O terceiro era inteiramente verde, e verdes também os caixilhos das janelas. O quarto estava mobiliado e iluminado com cor alaranjada o quinto era branco, e o sexto, roxo. O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. A vidraças, ali, eram Rubras... uma violenta cor de sangue.
Ora, em nenhum dos sete salões havia qualquer lâmpada ou candelabro, em meio à profusão de ornamentos de ouro espalhados por todos os cantos ou dependurados do teto. Nenhuma lâmpada ou vela iluminava o interior da seqüência de salões. Mas nos corredores que circundavam a suíte havia, diante de cada janela, um pesado tripé com um braseiro, que projetava seus raios pelos vitrais coloridos e, assim, iluminava brilhantemente a sala, produzindo grande número de efeitos vistosos e fantásticos. Mas no salão oeste, ou negro, o efeito do clarão de luz que jorrava sobre as cortinas escuras através das vidraças da cor do sangue era desagradável ao extremo e produzia uma expressão tão desvairada no semblante dos que entravam que poucos no grupo sentiam ousadia bastante para ali penetrar.
Era também nesse apartamento que se achava, encostado à parede oeste, um gigantesco relógio de ébano. Seu pêndulo oscilava de um lado para o outro com um bater surdo, pesado, monótono; quando o ponteiro dos minutos completava o circuito do mostrador e o relógio ia dar as horas, de seus pulmões de bronze brotava um som claro e alto e grave e extremamente musical, mas em tom tão enfático e peculiar que, ao final de cada hora, os músicos da orquestra se viam obrigados a interromper momentaneamente a apresentação para escutar-lhe o som; com isso os dançarinos forçosamente tinham de parar as evoluções da valsa e, por um breve instante, todo o alegre grupo mostrava-se perturbado; enquanto ainda soavam os carrilhões do relógio, observava-se que os mais frívolos empalideciam e os mais velhos e serenos passavam a mão pela testa, como se estivessem num confuso devaneio ou meditação. Mas, assim que os ecos desapareciam interiormente, risinhos levianos logo se riam do próprio nervosismo e insensatez e, em sussurros, diziam uns aos outros que o próximo soar de horas não produziria neles a mesma emoção; mas, após um lapso de sessenta minutos (que abrangem três mil e seiscentos segundos do Tempo que voa), quando o relógio dava novamente as horas, acontecia a mesma perturbação e idênticos tremores e gestos de meditação de antes.
Apesar disso tudo, que festa alegre e magnífica! Os gosto do duque eram estranhos. Sabia combinar cores e efeitos. Menosprezando a mera decoração da moda, seus arranjos mostravam-se ousados e veementes, e suas idéias brilhavam com um esplendor bárbaro. Alguns podiam considerá-lo louco. Era preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo para convencer-se de que não era.
Para essa grande festa, ele próprio dirigiu, em grande parte, a ornamentação cambiante dos sete salões, e foi seu próprio gosto que inspirou as fantasias dos foliões. Claro que eram grotescas. Havia muito brilho, resplendor, malícia e fantasia... muito daquilo que foi visto depois no Hernani. Havia figuras fantásticas com membros e adornos que não combinavam.
Havia caprichos delirantes como se tivessem sido modelados por um louco. Havia muito de beleza, muito de libertinagem e de extravagância, algo de terrível e um tanto daquilo que poderia despertar repulsa. De um ao outro, pelos sete salões, desfilava majestosamente, na verdade, uma multidão de sonhos. E eles, os sonhos, giravam sem parar, assumindo a cor de cada salão e fazendo com que a impetuosa música da orquestra parecesse o eco de seus passos. Daí a pouco soa o relógio de ébano colocado no salão de veludo. Então, por um momento, tudo se imobiliza e é tudo silêncio, menos a voz do relógio. Os sonhos se congelam como estão. Mas os ecos das batidas extinguem-se, duraram apenas um instante e risos levianos, mal reprimidos, flutuam atrás dos ecos, à medida que vão morrendo. E logo a música cresce de novo, e os sonhos revivem e rodopiam mais alegremente que nunca, assumindo as cores das muitas janelas multicoloridas, através das quais fluem os raios luminosos dos tripés. Ao salão que fica a mais oeste de todos os sete, porém, nenhum dos mascarados se aventura agora; pois a noite está se aproximando do fim: ali flui uma luz mais vermelha pelos vitrais cor de sangue e o negror das cortinas escuras apavora; para aquele que pousa o pé no tapete negro, do relógio de ébano ali perto chega um clangor ensurdecido mais solene e enfático que aquele que atinge os ouvidos dos que se entregam às alegrias nos salões mais afastados.
Mas nesses outros salões cheios de gente batia febril o coração da vida. E o festim continuou em remoinhos até que, afinal, começou a soar meia-noite no relógio. Então a música cessou, como contei, as evoluções dos dançarinos se aquietaram, e, como antes, tudo ficou intranqüilamente imobilizado. Mas agora iriam ser doze as badaladas do relógio; e desse modo mais pensamentos talvez tenham se infiltrado, por mais tempo, nas meditações dos mais pensativos, entre aqueles que se divertiam. E assim também aconteceu, talvez, que, antes de os últimos ecos da última badalada terem mergulhado inteiramente no silêncio, muitos indivíduos na multidão puderam perceber a presença de uma figura mascarada que antes não chamara a atenção de ninguém. E, ao se espalhar em sussurros o rumor dessa nova presença, elevou-se aos poucos de todo o grupo um zumbido ou murmúrio que expressava a reprovação e surpresa e, finalmente, terror, horror e repulsa.
Numa reunião de fantasmas como esta que pintei, pode-se muito bem supor que nenhuma aparência comum poderia causar tal sensação. Na verdade, a liberdade da mascarada dessa noite era praticamente ilimitada; mas a figura em questão ultrapassava o próprio Herodes, indo além dos limites até do indefinido decoro do príncipe. Existem cordas, nos corações dos mais indiferentes, que não podem ser tocadas sem emoção. Até para os totalmente insensíveis, para quem a vida e morte são alvo de igual gracejo, existem assuntos com os quais não se pode brincar. Na verdade, todo o grupo parecia agora sentir profundamente que na fantasia e no rosto do estranho não existia graça nem decoro. A figura era alta e esquálida, envolta dos pés a cabeça em vestes mortuárias. A máscara que escondia o rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais atento teria dificuldade em descobrir o engano. Tudo isso poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos participantes da festa, se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte Rubra. Seu vestuário estava borrifado de sangue e sua alta testa, assim como o restante do rosto, salpicada com o horror Rubro.
Quando os olhos do príncipe Próspero pousaram nessa imagem espectral (que andava entre os convivas com movimentos lentos e solenes, como se quisesse manter-se à altura do papel), todos perceberam que ele foi assaltado por um forte estremecimento de terror ou repulsa, num primeiro momento, mas logo o seu semblante tornou-se vermelho de raiva.
Quem ousa... perguntou com voz rouca aos convivas que estavam perto, quem ousa nos insultar com essa caçoada blasfema? Peguem esse homem e tirem sua máscara, para sabermos quem será enforcado no alto dos muros, ao amanhecer!
O príncipe Próspero estava na sala leste, ou azul, ao dizer essas palavras.
Elas ressoaram pelos sete salões, altas e claras, pois o príncipe era um homem ousado e robusto e a música se calara com um sinal de sua mão.
O príncipe achava-se no salão azul com um grupo de pálidos convivas ao seu lado. Assim que falou, houve um ligeiro movimento dessas pessoas na direção do intruso, que, naquele momento, estava bem ao alcance das mãos, e agora, com passos decididos e firmes, se aproximava do homem que tinha falado. Mas por causa de um certo temor sem nome, que a louca arrogância do mascarado havia inspirado em toda a multidão, não houve ninguém que estendesse a mão para detê-lo; de forma que, desimpedido , passou a um metro do príncipe e, enquanto a vasta multidão, como por um único impulso, se retraía do centro das salas para as paredes, ele continuou seu caminho sem deter-se, no mesmo passo solene e medido que o distinguira desde o início, passando do salão azul para o púrpura, do púrpura para o verde, do verde para o alaranjado e desse ainda para o branco e daí para o roxo, antes que se fizesse qualquer movimento decisivo para detê-lo. Foi então que o príncipe Próspero, louco de raiva e vergonha por sua momentânea covardia, correu apressadamente pelos seis salões, sem que ninguém o seguisse por causa do terror mortal que tomara conta de todos. Segurando bem alto um punhal desembainhado, aproximou-se, impetuosamente, até cerca de um metro do vulto que se afastava, quando este, ao atingir a extremidade do salão de veludo, virou-se subitamente e enfrentou seu perseguidor. Ouviu-se um grito agudo e o punhal caiu cintilando no tapete negro, sobre o qual, no instante seguinte, tombou prostrado de morte o príncipe Próspero. Então, reunindo a coragem selvagem do desespero, um bando de convivas lançou-se imediatamente no apartamento negro e, agarrando o mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e imóvel à sombra do relógio de ébano, arrancaram-lhe a máscara.
Um grito de pavor indescritível ecoou pelos salões ao se descobrir que, sob a mortalha e a máscara cadavérica, que agarravam com tamanha violência e grosseria, não havia qualquer forma palpável.
Ali estava a Morte Rubra.
E um a um foram caindo os foliões pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou no chão. E a vida do relógio de Ébano dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros extinguiram-se. Reinou então a treva. E a Ruína.
Debate
Dia 19 tem debate no Coc - Araras sobre o Maio de 68.
Eu, Dalberto (geo), Djalma (literatura), entre outros professores estaremos abordando um dos mais prováveis temas do próximo vestibular. Aberto aos alunos, parentes, amigos e interessados em geral.
Eu, Dalberto (geo), Djalma (literatura), entre outros professores estaremos abordando um dos mais prováveis temas do próximo vestibular. Aberto aos alunos, parentes, amigos e interessados em geral.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
A bola da vez
A Revolução Industrial significou uma transformação profunda em todos os aspectos da vida humana jamais visto desde a descoberta da agricultura, no início do período paleolítico. A partir dela a economia, a política, a organização social, os valores morais e a produção material humanas se alteraram completamente, obviamente a partir das bases construídas nos aproximadamente 3900 anos de evolução que a prescederam.
Entre essas transformações, algumas muito positivas e outras tantas negativas, um efeito colateral marcante é a necessidade crescente de, para bancar nosso vaidoso consumo e nossa saudável curiosidade científica, queimar literalmente alguns recursos naturais que, talvez em um curto prazo, ou talvez nunca, possam vir a se encontrar em escassez absoluta.
Nesse cenário, em vários aspectos, o Brasil é a peça chave do século XXI.
Cada vez mais petróleo, predomínio dos interesses das grandes corporações produtivas e financeiras na política econômica do país através do inflûenciável e influente Banco Central, potencial agrícola para produção de alimentos e de energia renovável inigualável no mundo, "reserva" natural de enorme potencial na Amazônia, entre outros, são alguns dos elementos que fazem do país a "bola da vez" mundial.
Ainda sobre isso, até mesmo muito antes da citada Revolução Industrial, riqueza e recurso sempre foram alvo da sanha dos já consolidados no status-quo global, aonde, nos últimos 200 anos, o domínio anglo-saxônico "enquadrou" todos os emergentes "indisciplinados".
Que não se pense que o "grande capital", do qual eu nem discordo totalmente (só pontualmente), vá chegar pedindo licença e negociando. O Brasil que se prepare para o que está por vir, pois, na "aldeia global", só rugem os leões saudáveis... e de garras afiadas.
Entre essas transformações, algumas muito positivas e outras tantas negativas, um efeito colateral marcante é a necessidade crescente de, para bancar nosso vaidoso consumo e nossa saudável curiosidade científica, queimar literalmente alguns recursos naturais que, talvez em um curto prazo, ou talvez nunca, possam vir a se encontrar em escassez absoluta.
Nesse cenário, em vários aspectos, o Brasil é a peça chave do século XXI.
Cada vez mais petróleo, predomínio dos interesses das grandes corporações produtivas e financeiras na política econômica do país através do inflûenciável e influente Banco Central, potencial agrícola para produção de alimentos e de energia renovável inigualável no mundo, "reserva" natural de enorme potencial na Amazônia, entre outros, são alguns dos elementos que fazem do país a "bola da vez" mundial.
Ainda sobre isso, até mesmo muito antes da citada Revolução Industrial, riqueza e recurso sempre foram alvo da sanha dos já consolidados no status-quo global, aonde, nos últimos 200 anos, o domínio anglo-saxônico "enquadrou" todos os emergentes "indisciplinados".
Que não se pense que o "grande capital", do qual eu nem discordo totalmente (só pontualmente), vá chegar pedindo licença e negociando. O Brasil que se prepare para o que está por vir, pois, na "aldeia global", só rugem os leões saudáveis... e de garras afiadas.
terça-feira, 27 de maio de 2008
Manifesto Microsofitiano
Nosso símbolo será o W, com a variante M como alternativa;
Nosso livro sagrado será redigido no Word, pois no começo era o verbo, ou a palavra; e hereges são os "adobistas";
Nossos sermões serão projetados em Power Point;
Nosso guia será o onisciente e onipresente GPS;
Nossa comunhão é Ram;
Nosso templo, um HD;
O céu é Second Life após a morte;
O inferno é GTA, multijogador...
O purgatório nos aguarda em Cash!
Pois o Grande Provedor é o único deus verdadeiro... e Bill, o seu profeta!
Nosso livro sagrado será redigido no Word, pois no começo era o verbo, ou a palavra; e hereges são os "adobistas";
Nossos sermões serão projetados em Power Point;
Nosso guia será o onisciente e onipresente GPS;
Nossa comunhão é Ram;
Nosso templo, um HD;
O céu é Second Life após a morte;
O inferno é GTA, multijogador...
O purgatório nos aguarda em Cash!
Pois o Grande Provedor é o único deus verdadeiro... e Bill, o seu profeta!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Segregação
Parece que, ao tentar se redimir dos erros do passado, o Brasil está demonstrando a imaturidade típica das idades pueris. Afinal, é inquestionável a violência com a qual os impérios ibéricos dominaram os nativos da América, massacrando tribos hostis ou consideradas inúteis e subjugando aqueles que teriam utilidade no trabalho forçado, nas mitas e encomiendas que milhares ou até milhões de vidas ceifaram. Por outro lado, segregar determinado grupo a partir de leis ou demarcações não deixa de ser mais uma forma de confinamento, não tão hostil quanto o manicômio ou o presídio, mas ainda assim merecedora de uma imparcial e profunda análise, para que os erros do passado não voltem travestidos de um humanismo coronelista.
É necessário que o Brasil reveja sua política fundiária como um todo, sem prejuízo para o agronegócio honesto e lucrativo mas que puna as distorções e conceda acesso à terra a todos os agricultores, nativos, negros ou brancos que, por questões históricas, não possuem um chão seu para trabalhar. Se os capitães donatários do século XXI não atendem ao princípio constitucional de que a terra tem uma "responsabilidade social", que sejam punidos. Mas, tratar um pedaço do Brasil como se fosse terra estrangeira e desempregar agricultores pobres para conceder "soberania" aos nativos, em qualquer região do país, é alimentar o preconceito e, repito, segregar determinadas comunidades.
Em tempo: Irresponsáveis os que apóiam atitudes e reações violentas por parte dos nativos, seja do Xingu ou da Serra da Raposa. Isso é tudo o que o "branco" quer. Na hora do "vamos ver", todos sabem quem está mais bem servido de recursos bélicos.
É necessário que o Brasil reveja sua política fundiária como um todo, sem prejuízo para o agronegócio honesto e lucrativo mas que puna as distorções e conceda acesso à terra a todos os agricultores, nativos, negros ou brancos que, por questões históricas, não possuem um chão seu para trabalhar. Se os capitães donatários do século XXI não atendem ao princípio constitucional de que a terra tem uma "responsabilidade social", que sejam punidos. Mas, tratar um pedaço do Brasil como se fosse terra estrangeira e desempregar agricultores pobres para conceder "soberania" aos nativos, em qualquer região do país, é alimentar o preconceito e, repito, segregar determinadas comunidades.
Em tempo: Irresponsáveis os que apóiam atitudes e reações violentas por parte dos nativos, seja do Xingu ou da Serra da Raposa. Isso é tudo o que o "branco" quer. Na hora do "vamos ver", todos sabem quem está mais bem servido de recursos bélicos.
domingo, 4 de maio de 2008
Dica
O caderno Mais! da Folha de SP desse domingo está inteirinho dedicado à história e análise do Maio de 68. Fundamental para quem viveu o século XX e quer entender a História Contemporânea.
Origem do "Dia das Mães" e desafios da mãe brasileira
Origem do Dia das Mães
A primeira iniciativa para se estabelecer uma data para homenagear as mães em geral foi da escritora Julia Ward Hove que, em 1872, organizou em Boston um encontro de mães dedicado à paz. Porém, a data comemorativa teve sua origem oficial em maio de 1905 quando, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, Anna Jarvis perdeu sua mãe e passou por uma forte depressão. Em uma iniciativa para consolá-la, suas amigas organizaram uma festa dedicada à todas as mães do mundo.
Após a realização da festa por três anos seguidos, o evento começou a ganhar caráter oficial, sendo que o governador de Virgínia Ocidental, William E.Glasscock, incorporou o dia das mães ao calendário de datas comemorativas em 1810. Logo após a comemoração, o Dia das Mães se difundiu por todo o país. Em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson: dia 9 de maio. Em pouco tempo, o dia das mães passou a ser reconhecido por mais de 40 países.
No Brasil, por iniciativa do presidente Getúlio Vargas, o Dia das Mães passou a ser comemorado todos os anos, no segundo domingo de maio, a partir de 1932.
Os desafios da mãe brasileira
Nos últimos anos, com as mudanças radicais que a sociedade ocidental atravessou, principalmente na segunda metade do século XX, tão importante quanto prestar homenagens às nossas queridas mães, principalmente nessa marcante data comemorativa, é refletirmos sobre a condição da maternidade e seus desafios nos dias em que vivemos.
Para se ter uma idéia da importância crescente das mães nas famílias brasileiras, além de suas já tradicionais “obrigações”, devemos nos atentar para o fato de que cerca de 25% dessas famílias, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são sustentadas pelas mulheres. No perfil dessas mães de família, destaca-se também que apenas 11% puderam cursar o nível superior, ainda que 95% sejam alfabetizadas.
Outro dado importante é que a gravidez está ocorrendo cada vez mais precocemente entre as mulheres brasileiras. Ainda segundo o IBGE, 27% das mulheres brasileiras entre 15 e 24 anos já tiveram ao menos um filho e, ainda nessa faixa etária, 13,8% já tiveram dois filhos.
Complementa essa informação um dado do Unicef (The United Nations Children's Fund) e da OMS (Organização Mundial de Saúde): De cada 1.000 (mil) mulheres brasileiras, 73 são mães entre os 15 e os 19 anos.
Por último, vale destacar que as jovens mulheres/mães brasileiras estão ocupando cada vez mais postos no mercado de trabalho, uma vez que 52% das mulheres entre 15 e 24 anos estão trabalhando em empregos formais no Brasil.
Levando-se em conta esses dados, percebe-se que, ainda preservando o papel de mãe e esposa dedicada, cada vez mais jovem, a mulher brasileira também se torna cada vez mais independente de seus pais e maridos e, muitas vezes, o próprio esteio da família e dos próprios pais, maridos e filhos. Quando isso acontece precocemente e, principalmente, quando não há o apoio do pai que, ao contrário da mãe, tem mais facilidade em fugir da responsabilidade de criar os filhos, a qualidade de vida e a possibilidade de crescimento pessoal e profissional da mulher ficam seriamente comprometidas.
A primeira iniciativa para se estabelecer uma data para homenagear as mães em geral foi da escritora Julia Ward Hove que, em 1872, organizou em Boston um encontro de mães dedicado à paz. Porém, a data comemorativa teve sua origem oficial em maio de 1905 quando, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, Anna Jarvis perdeu sua mãe e passou por uma forte depressão. Em uma iniciativa para consolá-la, suas amigas organizaram uma festa dedicada à todas as mães do mundo.
Após a realização da festa por três anos seguidos, o evento começou a ganhar caráter oficial, sendo que o governador de Virgínia Ocidental, William E.Glasscock, incorporou o dia das mães ao calendário de datas comemorativas em 1810. Logo após a comemoração, o Dia das Mães se difundiu por todo o país. Em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson: dia 9 de maio. Em pouco tempo, o dia das mães passou a ser reconhecido por mais de 40 países.
No Brasil, por iniciativa do presidente Getúlio Vargas, o Dia das Mães passou a ser comemorado todos os anos, no segundo domingo de maio, a partir de 1932.
Os desafios da mãe brasileira
Nos últimos anos, com as mudanças radicais que a sociedade ocidental atravessou, principalmente na segunda metade do século XX, tão importante quanto prestar homenagens às nossas queridas mães, principalmente nessa marcante data comemorativa, é refletirmos sobre a condição da maternidade e seus desafios nos dias em que vivemos.
Para se ter uma idéia da importância crescente das mães nas famílias brasileiras, além de suas já tradicionais “obrigações”, devemos nos atentar para o fato de que cerca de 25% dessas famílias, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são sustentadas pelas mulheres. No perfil dessas mães de família, destaca-se também que apenas 11% puderam cursar o nível superior, ainda que 95% sejam alfabetizadas.
Outro dado importante é que a gravidez está ocorrendo cada vez mais precocemente entre as mulheres brasileiras. Ainda segundo o IBGE, 27% das mulheres brasileiras entre 15 e 24 anos já tiveram ao menos um filho e, ainda nessa faixa etária, 13,8% já tiveram dois filhos.
Complementa essa informação um dado do Unicef (The United Nations Children's Fund) e da OMS (Organização Mundial de Saúde): De cada 1.000 (mil) mulheres brasileiras, 73 são mães entre os 15 e os 19 anos.
Por último, vale destacar que as jovens mulheres/mães brasileiras estão ocupando cada vez mais postos no mercado de trabalho, uma vez que 52% das mulheres entre 15 e 24 anos estão trabalhando em empregos formais no Brasil.
Levando-se em conta esses dados, percebe-se que, ainda preservando o papel de mãe e esposa dedicada, cada vez mais jovem, a mulher brasileira também se torna cada vez mais independente de seus pais e maridos e, muitas vezes, o próprio esteio da família e dos próprios pais, maridos e filhos. Quando isso acontece precocemente e, principalmente, quando não há o apoio do pai que, ao contrário da mãe, tem mais facilidade em fugir da responsabilidade de criar os filhos, a qualidade de vida e a possibilidade de crescimento pessoal e profissional da mulher ficam seriamente comprometidas.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Censura século XXI
Na Venezuela, o popular Hugo Chavez proibiu a veiculação do desenho "Os Simpsons", afirmando que "não colabora para a educação íntegra das nossas crianças." O mesmo Chavez que fechou uma rede de televisão por cometer o "pecado" de se opor ao seu governo.
No Irã, o popular Ahmaninejad cogita proibir a venda de brinquedos ocidentais, principalmente bonecas e bonecos Barbie e de super-heróis. A alegação: "Destrói nossa cultura". Também no Irã, o filme "300" foi proibido por "deturpar a história do glorioso império persa".
No Brasil, no Canadá, na França ou até mesmo nos EUA do Bush, ninguém é obrigado a assistir ou comprar o que não queira. E nem proibido!
Meu censor é o controle remoto. Educação é consciência dos direitos e deveres de cada um.
O censor que fecha hoje o veículo que te incomoda, amanhã fecha o seu blog! Não me obriguem a ler a maldita Veja, mas também não me proibam... e assim por diante.
Está na hora da galerinha "politizada" rever os seus valores.
No Irã, o popular Ahmaninejad cogita proibir a venda de brinquedos ocidentais, principalmente bonecas e bonecos Barbie e de super-heróis. A alegação: "Destrói nossa cultura". Também no Irã, o filme "300" foi proibido por "deturpar a história do glorioso império persa".
No Brasil, no Canadá, na França ou até mesmo nos EUA do Bush, ninguém é obrigado a assistir ou comprar o que não queira. E nem proibido!
Meu censor é o controle remoto. Educação é consciência dos direitos e deveres de cada um.
O censor que fecha hoje o veículo que te incomoda, amanhã fecha o seu blog! Não me obriguem a ler a maldita Veja, mas também não me proibam... e assim por diante.
Está na hora da galerinha "politizada" rever os seus valores.
Entreguistas destros e canhotos
Eu vejo com preocupação o apoio de setores da "esquerda" brasileira à nacionalização das refinarias da Petrobrás na Bolívia, assim como à proposta do novo presidente paraguaio de "renegociar" o preço da energia elétrica de Itaipu.
Assim como o gás da Bolívia não tem valor nenhum abaixo do solo, sem que haja a tecnologia que permite sua prospecção e utilização, Itaipu foi construída graças ao dinheiro nacional e, sem ele, sem o investimento brasileiro, o Paraguai estaria no escuro.
O incômodo maior é que essa mesma esquerda vivia, até bem pouco tempo atrás, a "chorar" a entrega de nossas riquezas ao capital internacional, porém, quando se trata de atender ao populismo latino, se mostra disposta a entregar até as calças.
Os problemas sociais no Brasil são amplos e urgentes, não podemos nos dar ao luxo de atender demandas de vizinhos mal resolvidos e, se eu não posso concordar que empresas de potências estrangeiras venham até aqui tomar o que temos, seja na Amazônia ou no Atlântico, também não posso admitir que o populismo dos hermanos se alavanque na desapropriação indevida dos investimentos feitos em seus países às custas dos impostos pagos pelos brasileiros.
Se o Hugo Chavez se considera no direito de intervir entre o Equador e a Colômbia, enquanto o Bush se considera no direito de intervir no mundo, problema deles (e de suas vítimas), só não nos encham o saco. Se as coisas continuarem desse jeito, em breve estaremos discutindo a retomada da "diplomacia" nos moldes do 2º Reinado. Chamem o Caxias!
Assim como o gás da Bolívia não tem valor nenhum abaixo do solo, sem que haja a tecnologia que permite sua prospecção e utilização, Itaipu foi construída graças ao dinheiro nacional e, sem ele, sem o investimento brasileiro, o Paraguai estaria no escuro.
O incômodo maior é que essa mesma esquerda vivia, até bem pouco tempo atrás, a "chorar" a entrega de nossas riquezas ao capital internacional, porém, quando se trata de atender ao populismo latino, se mostra disposta a entregar até as calças.
Os problemas sociais no Brasil são amplos e urgentes, não podemos nos dar ao luxo de atender demandas de vizinhos mal resolvidos e, se eu não posso concordar que empresas de potências estrangeiras venham até aqui tomar o que temos, seja na Amazônia ou no Atlântico, também não posso admitir que o populismo dos hermanos se alavanque na desapropriação indevida dos investimentos feitos em seus países às custas dos impostos pagos pelos brasileiros.
Se o Hugo Chavez se considera no direito de intervir entre o Equador e a Colômbia, enquanto o Bush se considera no direito de intervir no mundo, problema deles (e de suas vítimas), só não nos encham o saco. Se as coisas continuarem desse jeito, em breve estaremos discutindo a retomada da "diplomacia" nos moldes do 2º Reinado. Chamem o Caxias!
domingo, 27 de abril de 2008
As eras e os indivíduos
Com a decadência do modelo civilizatório greco-romano, no século V d.C., a vida privada entrou em total declínio e a socialização forçada dos indivíduos em torno de uma "lógica de formigueiro" acabou por destruir os valores individuais e, consequentemente, humanistas.
Mesmo com o Renascimento Cultural, que buscava a retomada dos valores e da cultura da Antiguidade Clássica, em oposição ao cristianismo fundamentalista da Idade Média, a idéia do poder absoluto do rei e a organização da sociedade em castas ou estamentos pouco contribuiu para o desenvolvimento do indivíduo livre e consciente.
Somente o século das luzes, período de desenvolvimento da razão iluminista, permitiu tal feito, de fundamental importância na formação do homem, mesmo não sendo garantia de felicidade, ou pelo contrário, como bem desenvolveram Sartre ou Nietzsche, cada um com seu grau de acidez.
Ainda assim, a liberdade individual teve que enfrentar, ao longo do século XX, a oposição de teorias totalitárias, como o socialismo "real" stalinista, que via na família tradicional e no indivíduo que se desgarrava dela a gênese do pensamento burguês, estimulando a vida em insalubres alojamentos coletivos, nos quais a noção de propriedade e individualidade eram esmagadas pelo pensamento e prática social "comum". Por sua vez, o nazismo, ainda que entendesse na família ariana a base da "grandeza" nacional, estimulava um vínculo ideológico com a "verdade" que superava até mesmo a lealdade fraternal, garantindo assim que o germanismo fosse a única forma irreparável de vínculo, em nome da qual filhos delatavam pais, esposas entregavam maridos e amigos matavam amigos para garantir a "pureza" e a "saúde" do nacional socialismo.
Ainda que injusto, estressante e desigual, o pensamento liberal-iluminista é o único que permite que sejamos a única coisa que devemos e merecemos ser: nós mesmos, em nosso mais alto grau de possibilidade e com todas as "dores e delícias" que isso proporciona.
Escrevam, com gosto, em meu epitáfio: "Estressado, porém, Livre".
Em tempo: É evidente que a liberdade a que me refiro tem suas barreiras, principalmente econômicas, mas, nesse modelo, todas as possibilidades estão em aberto. Diferente das limitações totalitárias que, antes mesmo de seu nascimento, definem o limite de sua existência.
A opção entre a segurança de uma vida predefinida e o stress de uma vida em aberto nunca me foi difícil.
Mesmo com o Renascimento Cultural, que buscava a retomada dos valores e da cultura da Antiguidade Clássica, em oposição ao cristianismo fundamentalista da Idade Média, a idéia do poder absoluto do rei e a organização da sociedade em castas ou estamentos pouco contribuiu para o desenvolvimento do indivíduo livre e consciente.
Somente o século das luzes, período de desenvolvimento da razão iluminista, permitiu tal feito, de fundamental importância na formação do homem, mesmo não sendo garantia de felicidade, ou pelo contrário, como bem desenvolveram Sartre ou Nietzsche, cada um com seu grau de acidez.
Ainda assim, a liberdade individual teve que enfrentar, ao longo do século XX, a oposição de teorias totalitárias, como o socialismo "real" stalinista, que via na família tradicional e no indivíduo que se desgarrava dela a gênese do pensamento burguês, estimulando a vida em insalubres alojamentos coletivos, nos quais a noção de propriedade e individualidade eram esmagadas pelo pensamento e prática social "comum". Por sua vez, o nazismo, ainda que entendesse na família ariana a base da "grandeza" nacional, estimulava um vínculo ideológico com a "verdade" que superava até mesmo a lealdade fraternal, garantindo assim que o germanismo fosse a única forma irreparável de vínculo, em nome da qual filhos delatavam pais, esposas entregavam maridos e amigos matavam amigos para garantir a "pureza" e a "saúde" do nacional socialismo.
Ainda que injusto, estressante e desigual, o pensamento liberal-iluminista é o único que permite que sejamos a única coisa que devemos e merecemos ser: nós mesmos, em nosso mais alto grau de possibilidade e com todas as "dores e delícias" que isso proporciona.
Escrevam, com gosto, em meu epitáfio: "Estressado, porém, Livre".
Em tempo: É evidente que a liberdade a que me refiro tem suas barreiras, principalmente econômicas, mas, nesse modelo, todas as possibilidades estão em aberto. Diferente das limitações totalitárias que, antes mesmo de seu nascimento, definem o limite de sua existência.
A opção entre a segurança de uma vida predefinida e o stress de uma vida em aberto nunca me foi difícil.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Jazz
Talvez a melhor expressão artística da liberdade seja o Jazz.
Nascido em senzalas, penitenciárias e igrejas da América do Norte, locais que por si só já representam repressão, tem na liberdade do improviso sua mais marcante característica, pelo menos para um leigo, mero fã, como eu.
Retrato de uma subsjetividade tipicamente urbana, inspirador do pensamento livre do século XX, instrumento de devaneios e estimulante da subjetividade, o Jazz é uma das mais fascinantes "descobertas" humanas.
Serviu para integrar etnias, a partir da Louisiana, seguindo para NY e, pouco depois, pra Califórnia, além de contribuir para a conquista de direitos civis para os negros nos EUA, ainda que só em meados do século XX, quase 50 anos após seus primeiros registros.
"História Social do Jazz" e "Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz", ambos de Eric Hobsbawn, são dois deliciosos relatos de um dos maiores historiadores vivos sobre o assunto.
Pra ler, ouvir e sentir.
Nascido em senzalas, penitenciárias e igrejas da América do Norte, locais que por si só já representam repressão, tem na liberdade do improviso sua mais marcante característica, pelo menos para um leigo, mero fã, como eu.
Retrato de uma subsjetividade tipicamente urbana, inspirador do pensamento livre do século XX, instrumento de devaneios e estimulante da subjetividade, o Jazz é uma das mais fascinantes "descobertas" humanas.
Serviu para integrar etnias, a partir da Louisiana, seguindo para NY e, pouco depois, pra Califórnia, além de contribuir para a conquista de direitos civis para os negros nos EUA, ainda que só em meados do século XX, quase 50 anos após seus primeiros registros.
"História Social do Jazz" e "Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz", ambos de Eric Hobsbawn, são dois deliciosos relatos de um dos maiores historiadores vivos sobre o assunto.
Pra ler, ouvir e sentir.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Quem libertará o Tibete do... Tibete?
Apesar de concordar com Churchil, pra quem "a democracia é o menos pior dos modelos até hoje experimentados pela humanidade", acho no mínimo risível o envolvimento dos cidadãos de mentalidade média das democracias imperialistas ocidentais nas campanhas contra a China e a coitada da tocha olímipica, em "resposta" aos abusos contra os direitos humanos no Tibete.
Abuso aos direitos humanos tem na cadeia mais próxima de sua casa, e na favela do bairro vizinho. Abuh Graib também tinha, Guantánamo ainda tem.
Além disso, caso a China abra mão do Tibet, o que vai acontecer? O "guia profundo como o oceano", digo, o Dalai Lama, ou seja, a encarnação do "macaco primordial*" vai reassumir o poder, restabelecendo um regime despótico e teocrático em pleno século XXI? E com apoio da comunidade internacional??? Então tá.
Abaixo o fundamentalismo do Grande Guia! Viva o fundamentalismo do Supremo Macaco!
*No Tibete, o mito da criação não é Adão e Eva. Eles acreditam ser descendentes de um macaco deus que fez seis filhos em uma demônia. O Dalai Lama seria a manifestação carnal (não hereditária, devido ao celibato) desse macaco-deus. É claro que existe um "alto clero" pra decidir quem personificou o símio. Existe também, como em todo governo teocrático ou teocêntrico da História, uma nobreza dona de terras e uma massa enorme de servos.
Deixem que o Tibete tiranize a si próprio!
Abuso aos direitos humanos tem na cadeia mais próxima de sua casa, e na favela do bairro vizinho. Abuh Graib também tinha, Guantánamo ainda tem.
Além disso, caso a China abra mão do Tibet, o que vai acontecer? O "guia profundo como o oceano", digo, o Dalai Lama, ou seja, a encarnação do "macaco primordial*" vai reassumir o poder, restabelecendo um regime despótico e teocrático em pleno século XXI? E com apoio da comunidade internacional??? Então tá.
Abaixo o fundamentalismo do Grande Guia! Viva o fundamentalismo do Supremo Macaco!
*No Tibete, o mito da criação não é Adão e Eva. Eles acreditam ser descendentes de um macaco deus que fez seis filhos em uma demônia. O Dalai Lama seria a manifestação carnal (não hereditária, devido ao celibato) desse macaco-deus. É claro que existe um "alto clero" pra decidir quem personificou o símio. Existe também, como em todo governo teocrático ou teocêntrico da História, uma nobreza dona de terras e uma massa enorme de servos.
Deixem que o Tibete tiranize a si próprio!
terça-feira, 1 de abril de 2008
República (15/11/1889 - 31/03/1964)
Após um breve período entre 1889 (Proclamação da República) e 1894, em que o Brasil foi governado por dois militares (Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto), o poder no país passou para as mãos de uma elite cafeicultora principalmente paulista e mineira que, através do clientelismo (troca de favores) e do coronelismo (imposição pela força), manteve-se no poder no Brasil, garantindo a permanência de uma estrutura latifundiária e ultrapassada, até semi-escravista, na economia nacional, na chamada República Oligárquica.
Porém, em 1930, com o apoio dos tenentes (setores descontentes do exército), o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, apoiado pela elite cultural modernista, tomou o poder no Brasil e deu início à era Vargas (1930 – 1945), na qual o país se modernizou, industrializou e urbanizou.
A era Vargas se divide em três fases:
1930 – 1934 (governo provisório / nesse período os cafeicultores tentaram voltar ao poder, em 1932).
1934 – 1937 (período constitucional)
1937 – 1945 (Estado Novo, no qual Getúlio fechou o Congresso e, graças a isso, construiu a base do parque industrial brasileiro e regulamentou as relações trabalhistas através da CLT).
Getúlio contou sempre com o apoio do PSD e do PTB (atual PDT), respectivamente, os partidos da classe média e dos operários, mas também contava com a oposição da UDN, braço político dos oligarcas na época.
Nessa época, havia no Brasil os nazistas (integralistas) e os socialistas (liderados por Luis Carlos Prestes), para completar o cenário político.
Em 1945, com o final da segunda guerra, o modelo estatizante de Getúlio Vargas entrou em crise, devido ao resultado da guerra, e Getúlio aceitou deixar o poder, desde que não perdesse seus direitos políticos.
Começa então o período populista.
Seguiu-se então o governo do general Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) e, no país, a disputa política passou a ser entre nacionalistas, que queriam um país livre da dominação estrangeira, principalmente livre do recém formado FMI, e entreguistas, que queriam o Brasil inserido no contexto capitalista internacional. Getúlio era o maior nome nacionalista, Carlos Lacerda, presidente da UDN, era o maior nome dos entreguistas.
Em 1950, ao final do mandato de Dutra, as eleições deram vitória esmagadora ao candidato Getúlio Vargas, que nesse período criou a PETROBRAS, porém, em 1954, devido à tentativa de assassinato de Carlos Lacerda por um agente supostamente ligado ao segurança de Getúlio, Gregório Fortunato (Anjo Negro), a situação passou a se mostrar favorável à um golpe entreguista e Getúlio, em uma de suas maiores "vitórias" políticas, deu um tiro no próprio peito, em agosto de 1954, atrasando o golpe militar em 10 anos.
O povo tomou as ruas revoltado, quebrando jornais entreguistas e obrigando Lacerda a fugir do país por um tempo.
Após um breve período de transição, com os presidentes Carlos Luz, Café Filho e Nereu Ramos, ganha as eleições Juscelino Kubitschek (JK – 1955-1960), que visava aliar características nacionalistas a um relativo investimento estrangeiro, tudo regulado pelo Estado, e só não foi derrubado pela UDN devido ao seu forte apelo popular, ao enfraquecimento das oposições após o suicídio de Getúlio (JK era do mesmo grupo político de Vargas), e à propaganda em torno da construção da novacap (Brasília).
Em 1960 a UDN ganha, pela primeira vez, uma eleição para presidência da República, com Jânio Quadros que, estranhamente, rompe com seu partido e passa a pregar a “política externa independente”, ou seja, reata relações com os países comunistas e diz que o Brasil não têm, necessariamente, que se aliar a nenhum dos lados da Guerra-Fria. Jânio renunciou devido à “forças ocultas” com menos de um ano de mandato. Em seu lugar, assume o seu vice, ex-ministro do trabalho de Getúlio Vargas, o declaradamente socialista João Goulart. O Brasil viveu, por pressão da oposição, um parlamentarismo entre 1961 e 1963, para enfraquecer o presidente.
Porém, um plebiscito indicou que a imensa maioria dos eleitores queria a volta do presidencialismo, fortalecendo o “Jango”. A partir de então o presidente passou a propor profundas transformações para o país através das “reformas de base”.
Acusando-o de comunista, setores específicos da sociedade como a UDN, os latifundiários, parte da classe média e a ala conservadora da Igreja Católica, com apoio da ESG (Escola Superior de Guerra – antigo Clube Militar), promoveram o golpe que iniciou uma Ditadura Militar (1964-1985) responsável por inúmeros atos de desrespeito aos direitos civis e por torturar e matar milhares de brasileiros.
Só entre 1985 e 1989, com a eleição de um civil (Sarney) e as “Diretas” que elegeram Collor, o Brasil se redemocratizou.
Porém, em 1930, com o apoio dos tenentes (setores descontentes do exército), o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, apoiado pela elite cultural modernista, tomou o poder no Brasil e deu início à era Vargas (1930 – 1945), na qual o país se modernizou, industrializou e urbanizou.
A era Vargas se divide em três fases:
1930 – 1934 (governo provisório / nesse período os cafeicultores tentaram voltar ao poder, em 1932).
1934 – 1937 (período constitucional)
1937 – 1945 (Estado Novo, no qual Getúlio fechou o Congresso e, graças a isso, construiu a base do parque industrial brasileiro e regulamentou as relações trabalhistas através da CLT).
Getúlio contou sempre com o apoio do PSD e do PTB (atual PDT), respectivamente, os partidos da classe média e dos operários, mas também contava com a oposição da UDN, braço político dos oligarcas na época.
Nessa época, havia no Brasil os nazistas (integralistas) e os socialistas (liderados por Luis Carlos Prestes), para completar o cenário político.
Em 1945, com o final da segunda guerra, o modelo estatizante de Getúlio Vargas entrou em crise, devido ao resultado da guerra, e Getúlio aceitou deixar o poder, desde que não perdesse seus direitos políticos.
Começa então o período populista.
Seguiu-se então o governo do general Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) e, no país, a disputa política passou a ser entre nacionalistas, que queriam um país livre da dominação estrangeira, principalmente livre do recém formado FMI, e entreguistas, que queriam o Brasil inserido no contexto capitalista internacional. Getúlio era o maior nome nacionalista, Carlos Lacerda, presidente da UDN, era o maior nome dos entreguistas.
Em 1950, ao final do mandato de Dutra, as eleições deram vitória esmagadora ao candidato Getúlio Vargas, que nesse período criou a PETROBRAS, porém, em 1954, devido à tentativa de assassinato de Carlos Lacerda por um agente supostamente ligado ao segurança de Getúlio, Gregório Fortunato (Anjo Negro), a situação passou a se mostrar favorável à um golpe entreguista e Getúlio, em uma de suas maiores "vitórias" políticas, deu um tiro no próprio peito, em agosto de 1954, atrasando o golpe militar em 10 anos.
O povo tomou as ruas revoltado, quebrando jornais entreguistas e obrigando Lacerda a fugir do país por um tempo.
Após um breve período de transição, com os presidentes Carlos Luz, Café Filho e Nereu Ramos, ganha as eleições Juscelino Kubitschek (JK – 1955-1960), que visava aliar características nacionalistas a um relativo investimento estrangeiro, tudo regulado pelo Estado, e só não foi derrubado pela UDN devido ao seu forte apelo popular, ao enfraquecimento das oposições após o suicídio de Getúlio (JK era do mesmo grupo político de Vargas), e à propaganda em torno da construção da novacap (Brasília).
Em 1960 a UDN ganha, pela primeira vez, uma eleição para presidência da República, com Jânio Quadros que, estranhamente, rompe com seu partido e passa a pregar a “política externa independente”, ou seja, reata relações com os países comunistas e diz que o Brasil não têm, necessariamente, que se aliar a nenhum dos lados da Guerra-Fria. Jânio renunciou devido à “forças ocultas” com menos de um ano de mandato. Em seu lugar, assume o seu vice, ex-ministro do trabalho de Getúlio Vargas, o declaradamente socialista João Goulart. O Brasil viveu, por pressão da oposição, um parlamentarismo entre 1961 e 1963, para enfraquecer o presidente.
Porém, um plebiscito indicou que a imensa maioria dos eleitores queria a volta do presidencialismo, fortalecendo o “Jango”. A partir de então o presidente passou a propor profundas transformações para o país através das “reformas de base”.
Acusando-o de comunista, setores específicos da sociedade como a UDN, os latifundiários, parte da classe média e a ala conservadora da Igreja Católica, com apoio da ESG (Escola Superior de Guerra – antigo Clube Militar), promoveram o golpe que iniciou uma Ditadura Militar (1964-1985) responsável por inúmeros atos de desrespeito aos direitos civis e por torturar e matar milhares de brasileiros.
Só entre 1985 e 1989, com a eleição de um civil (Sarney) e as “Diretas” que elegeram Collor, o Brasil se redemocratizou.
segunda-feira, 31 de março de 2008
Fique esperto
"Se ligue, caia fora" - Timothy Leary
Todas as vezes que a humanidade se desembestou feito rebanho atrás de uma idéia absoluta o caldo entornou. Como bem explicou Glauber Rocha, no seu "Deus e o Diabo na Terra do Sol", as pessoas parecem ter uma tendência natural a procurar a salvação em tudo o que é canto, menos em si mesmas.
Qualquer demagogo com um mínimo de informação e autoconfiança, capaz de escrever três linhas que digam exatamente o que a maioria das pessoas quer ouvir, consegue levar uma tribo inteira (ou muitas delas) no bico. Multidões inteiras se dipõem a se jogar, sem nem olhar, nos mais tenebrosos precipícios.
Em nome de uma suposta "verdade" se cometem linchamentos, massacres, genocídios. Ai daquele que ousar discordar.
Exemplos na História não faltam: Inquisição, Jihad, Holocausto, Eugenia...
Quando a "verdade" dispõe então de uma máquina de propaganda, esqueça a dissidência, "siga a matilha ou vá morrer sozinho".
Entre os adolescentes a tendência é mais explícita, mas também mais compreensível.
Quando o rapaz ou a garota estão formando sua personalidade, é natural que procurem referências a serem seguidas. Mas, depois de alguns anos, essa atitude se torna ridícula.
Não há resposta para quase nada em lugar algum, pelo menos sobre as coisas que realmente fazem a diferença. Você vai ter que buscar sua própria teoria e seu próprio caminho. É o único jeito de ser feliz.
Esqueça seu pai, pastor ou professor. Esqueça o Che, o Elvis ou o Raul. Esqueça Osama, Bush, Chávez... Assimile o que há de positivo em cada um deles (quando houver), construa sua identidade e siga seu caminho.
É a coisa mais digna que você pode fazer por si mesmo.
Todas as vezes que a humanidade se desembestou feito rebanho atrás de uma idéia absoluta o caldo entornou. Como bem explicou Glauber Rocha, no seu "Deus e o Diabo na Terra do Sol", as pessoas parecem ter uma tendência natural a procurar a salvação em tudo o que é canto, menos em si mesmas.
Qualquer demagogo com um mínimo de informação e autoconfiança, capaz de escrever três linhas que digam exatamente o que a maioria das pessoas quer ouvir, consegue levar uma tribo inteira (ou muitas delas) no bico. Multidões inteiras se dipõem a se jogar, sem nem olhar, nos mais tenebrosos precipícios.
Em nome de uma suposta "verdade" se cometem linchamentos, massacres, genocídios. Ai daquele que ousar discordar.
Exemplos na História não faltam: Inquisição, Jihad, Holocausto, Eugenia...
Quando a "verdade" dispõe então de uma máquina de propaganda, esqueça a dissidência, "siga a matilha ou vá morrer sozinho".
Entre os adolescentes a tendência é mais explícita, mas também mais compreensível.
Quando o rapaz ou a garota estão formando sua personalidade, é natural que procurem referências a serem seguidas. Mas, depois de alguns anos, essa atitude se torna ridícula.
Não há resposta para quase nada em lugar algum, pelo menos sobre as coisas que realmente fazem a diferença. Você vai ter que buscar sua própria teoria e seu próprio caminho. É o único jeito de ser feliz.
Esqueça seu pai, pastor ou professor. Esqueça o Che, o Elvis ou o Raul. Esqueça Osama, Bush, Chávez... Assimile o que há de positivo em cada um deles (quando houver), construa sua identidade e siga seu caminho.
É a coisa mais digna que você pode fazer por si mesmo.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Nos olhos dos outros...
O país mais liberal do mundo (do ponto de vista econômico), aquele que foi o primeiro a implantar um modelo baseado no iluminismo, aquele que deixa milhões de pesssoas por ano sem atendimento médico, aquele do faroeste, do self-made-man, da livre iniciativa, do self-service, da junk-food, esse mesmo que você está pensando, é também o país que subsidia megacorporações e latifúndios, que promove guerras milionárias para ganhar dinheiro na indústria bélica e na energética, que isenta fortunas de impostos, que socorre bancos em momentos de falência, que anunciou recentemente um mega pacote para socorrer fundos de investimento imobiliário, ao mesmo tempo em que reduz gastos no "assistencialismo" e nos projetos sociais.
Sem dúvida é extremamente competitivo e competente, mas é esse o modelo que queremos?
Como diz o ditado: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco".
PS: Só para efeito de comparação, o Canadá, vizinho menos rico e competitivo dos EUA, oferece todo e qualquer tratamento de saúde a custo zero para os seus cidadãos. A paupérrima Cuba também. O Brasil tem o SUS, que não é grande coisa mas está aí, à disposição do rico ou do pobre.
Sem dúvida é extremamente competitivo e competente, mas é esse o modelo que queremos?
Como diz o ditado: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco".
PS: Só para efeito de comparação, o Canadá, vizinho menos rico e competitivo dos EUA, oferece todo e qualquer tratamento de saúde a custo zero para os seus cidadãos. A paupérrima Cuba também. O Brasil tem o SUS, que não é grande coisa mas está aí, à disposição do rico ou do pobre.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Cá e lá...
A renúncia do governador de NY, nos EUA, após a constatação de seus "programas" e dos custos dos mesmos dão uma clara demonstração das semelhanças e diferenças entre as democracias daqui e de lá.
A semelhança, ainda que em escalas diferentes, é que escândalos, assim como a corrupção - caso seja comprovado que as call-girls eram remuneradas com dinheiro público - não são exclusividade nem nossa, nem deles, e nenhum país do mundo está imune, como vários exemplos demonstram.
Por outro lado, a diferença mais explícita diz respeito à repercussão, já que o governador de NY renunciou ao cargo antes mesmo que se confirmassem qualquer das suspeitas mais graves, afinal, contratar garotas de programa pode arruinar um orçamento doméstico ou um casamento, além da "moral" do envolvido perante a sociedade (dependendo da sociedade), mas não significa necessariamente despreparo ou incompetência administrativa.
Aqui, nas paragens tropicais em que vivemos, o sujeito primeiro ia negar "peremptoriamente" qualquer caso com a referida garota. Em seguida, diante das evidências, ia afirmar que foram só alguns casos esporádicos e, após confirmada a quantia, no caso do exemplo, cerca de 80 mil dólares, o sujeito ia ser afastado do cargo sob homenagens dos colegas e acusações à "imprensa golpista" ou à "esquerda radical", dependendo da posição do envolvido.
Outra diferença, ainda que mais sutil, é que nessas terras patriarcais e rústicas, de sangue e cultura latina, o sujeito ia conquistar uma fatia muito peculiar de eleitores/admiradores, além da tal garota de programa assinar um contrato milionário para sair nua em uma revista masculina, com "exclusividade".
Fica difícil distinguir o "panis" do "circenses".
A semelhança, ainda que em escalas diferentes, é que escândalos, assim como a corrupção - caso seja comprovado que as call-girls eram remuneradas com dinheiro público - não são exclusividade nem nossa, nem deles, e nenhum país do mundo está imune, como vários exemplos demonstram.
Por outro lado, a diferença mais explícita diz respeito à repercussão, já que o governador de NY renunciou ao cargo antes mesmo que se confirmassem qualquer das suspeitas mais graves, afinal, contratar garotas de programa pode arruinar um orçamento doméstico ou um casamento, além da "moral" do envolvido perante a sociedade (dependendo da sociedade), mas não significa necessariamente despreparo ou incompetência administrativa.
Aqui, nas paragens tropicais em que vivemos, o sujeito primeiro ia negar "peremptoriamente" qualquer caso com a referida garota. Em seguida, diante das evidências, ia afirmar que foram só alguns casos esporádicos e, após confirmada a quantia, no caso do exemplo, cerca de 80 mil dólares, o sujeito ia ser afastado do cargo sob homenagens dos colegas e acusações à "imprensa golpista" ou à "esquerda radical", dependendo da posição do envolvido.
Outra diferença, ainda que mais sutil, é que nessas terras patriarcais e rústicas, de sangue e cultura latina, o sujeito ia conquistar uma fatia muito peculiar de eleitores/admiradores, além da tal garota de programa assinar um contrato milionário para sair nua em uma revista masculina, com "exclusividade".
Fica difícil distinguir o "panis" do "circenses".
domingo, 9 de março de 2008
O Estado laico e as células-tronco
O adiamento da decisão sobre a regulamentação das pesquisas com células-tronco no Brasil, por parte do STF (Superior Tribunal Federal), por parte de um ministro vinculado aos interesses de grupos religiosos contrários à sua prática, após ter ficado clara a tendência de aprovação por parte dos demais ministros, demonstra mais uma vez a ingerência indevida dos grupos religiosos no Estado que, por princípio, desde os tempos do surgimento do ideal iluminista, que guia nossa organização política e consta inclusive das constituições das democracias liberais, é laico.
Ou seja:
Da mesma forma que, em nossa sociedade, ainda que existam exceções, é condenável qualquer tipo de ação contrária à liberdade religiosa, também é vetado aos grupos religiosos interferirem nos assuntos do Estado, inclusive no que se refere ao progresso da ciência, elemento tão incômodo aos religiosos em geral e aos fundamentalistas especificamente.
Isso se deve à um simples princípio: o Estado é para todos, enquanto que a religião cabe às escolhas individuais de cada um.
Sendo assim é permitido aos seguidores das mais diferentes religiões e seitas praticar os seus respectivos valores religiosos, abrindo mão do aborto, do uso de camisinha ou da prática da transfusão de sangue. Mas não é permitido à esses seguidores, pelo menos nos Estados modernos e democráticos, interferir nas escolhas individuais e nas políticas públicas que se referem aos demais, ou seja, aos que não seguem sua visão doutrinária.
Ou seja:
Da mesma forma que, em nossa sociedade, ainda que existam exceções, é condenável qualquer tipo de ação contrária à liberdade religiosa, também é vetado aos grupos religiosos interferirem nos assuntos do Estado, inclusive no que se refere ao progresso da ciência, elemento tão incômodo aos religiosos em geral e aos fundamentalistas especificamente.
Isso se deve à um simples princípio: o Estado é para todos, enquanto que a religião cabe às escolhas individuais de cada um.
Sendo assim é permitido aos seguidores das mais diferentes religiões e seitas praticar os seus respectivos valores religiosos, abrindo mão do aborto, do uso de camisinha ou da prática da transfusão de sangue. Mas não é permitido à esses seguidores, pelo menos nos Estados modernos e democráticos, interferir nas escolhas individuais e nas políticas públicas que se referem aos demais, ou seja, aos que não seguem sua visão doutrinária.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Barril de Pólvora
Apesar da renúncia do Fidel Castro ao poder em Cuba, maior símbolo esquerdista de resistência política nos trópicos, os episódios recentes envolvendo o Equador, a Venezuela e a Colômbia demonstram que os conflitos políticos nas Américas estão longe de se encerrar.
O assassinato do número 2 das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Rául Reyes, por bombardeios e tropas colombianas em território equatoriano provocou reações ásperas e legítimas do presidente do Equador, Rafael Correa, contra o presidente colombiano Álvaro Uribe e o que Correa considerou um “ultraje contra a soberania equatoriana”.
O que causou surpresa foi a reação de Hugo Chávez, presidente venezuelano que, ainda que seja um forte aliado de Rafael Correa e um desafeto assumido de Álvaro Uribe, não possui ligação direta com o incidente, a menos que queira explicitar definitivamente seu apoio às Farc, organizações consideradas terroristas pela comunidade internacional.
Chávez retirou todos os funcionários da diplomacia venezuelana na Colômbia e enviou batalhões, tanques e aviões militares para a fronteira entre os dois países.
No caso, ainda que pouco provável, de uma guerra declarada na América Latina, vários são os vizinhos hostis à Colômbia, quer por questões políticas ou territoriais, como a própria Venezuela, o Equador e a Nicarágua.
Por outro lado, sob o argumento da guerra ao narcotráfico, os EUA enviam para o departamento de defesa colombiano milhões de dólares anuais, além de apoio logístico e de possuírem dezenas de soldados no território colombiano.
Soma-se à isso o fato de que Hugo Chávez, ainda que mantendo estreitas relações econômicas com os EUA, principalmente no que diz respeito à venda de petróleo, se autodenomina “inimigo do império”, e dificilmente a maior potência do mundo, com interesses geopolíticos estratégicos na América Latina, irá se abster do conflito.
Outra potência mundial interessada no desfecho do conflito é a França, já que a senadora colombiana Ingrid Betancourt, possuidora de cidadania francesa, se encontra desde 2002 em poder das Farc, na condição de refém política. Ingrid foi seqüestrada enquanto fazia campanha para a presidência da Colômbia.
Quanto ao Brasil, que fabrica os “supertucanos” utilizados no bombardeio colombiano às Farc no Equador, mas que também mantém boas relações com a Venezuela e com o próprio Equador, estará na tensa posição de mediador do conflito, colocando em prova sua capacidade de se consolidar como o braço ocidental na difícil missão de garantir a estabilidade na América do Sul.
Se haverá ou não uma guerra, os acenos dados pelos dois lados da fronteira Venezuela/Colômbia e a atuação política dos países interessados, como EUA, França e Brasil, é que irá determinar.
O assassinato do número 2 das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Rául Reyes, por bombardeios e tropas colombianas em território equatoriano provocou reações ásperas e legítimas do presidente do Equador, Rafael Correa, contra o presidente colombiano Álvaro Uribe e o que Correa considerou um “ultraje contra a soberania equatoriana”.
O que causou surpresa foi a reação de Hugo Chávez, presidente venezuelano que, ainda que seja um forte aliado de Rafael Correa e um desafeto assumido de Álvaro Uribe, não possui ligação direta com o incidente, a menos que queira explicitar definitivamente seu apoio às Farc, organizações consideradas terroristas pela comunidade internacional.
Chávez retirou todos os funcionários da diplomacia venezuelana na Colômbia e enviou batalhões, tanques e aviões militares para a fronteira entre os dois países.
No caso, ainda que pouco provável, de uma guerra declarada na América Latina, vários são os vizinhos hostis à Colômbia, quer por questões políticas ou territoriais, como a própria Venezuela, o Equador e a Nicarágua.
Por outro lado, sob o argumento da guerra ao narcotráfico, os EUA enviam para o departamento de defesa colombiano milhões de dólares anuais, além de apoio logístico e de possuírem dezenas de soldados no território colombiano.
Soma-se à isso o fato de que Hugo Chávez, ainda que mantendo estreitas relações econômicas com os EUA, principalmente no que diz respeito à venda de petróleo, se autodenomina “inimigo do império”, e dificilmente a maior potência do mundo, com interesses geopolíticos estratégicos na América Latina, irá se abster do conflito.
Outra potência mundial interessada no desfecho do conflito é a França, já que a senadora colombiana Ingrid Betancourt, possuidora de cidadania francesa, se encontra desde 2002 em poder das Farc, na condição de refém política. Ingrid foi seqüestrada enquanto fazia campanha para a presidência da Colômbia.
Quanto ao Brasil, que fabrica os “supertucanos” utilizados no bombardeio colombiano às Farc no Equador, mas que também mantém boas relações com a Venezuela e com o próprio Equador, estará na tensa posição de mediador do conflito, colocando em prova sua capacidade de se consolidar como o braço ocidental na difícil missão de garantir a estabilidade na América do Sul.
Se haverá ou não uma guerra, os acenos dados pelos dois lados da fronteira Venezuela/Colômbia e a atuação política dos países interessados, como EUA, França e Brasil, é que irá determinar.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Fauna Global
Naquele tempo, na floresta imperial, duas espécies se impunham sobre as outras dividindo entre si o território: A espécie dos ursos e a espécie dos falcões.
Entre os ursos, a tese central era a de que as formigas, sendo as responsáveis pela produção no território, deveriam elas mesmas gerenciar os recursos e tudo o que era necessário para transformá-los em sobrevivência.
É claro que os ursos levavam em conta que as formigas não estavam preparadas para isso, então era necessário que os mais inteligentes entre os ursos as educassem, gerenciando enquanto isso os recursos em seu nome.
Além disso, como havia aqueles que não entendiam essa verdade absoluta - entre os ursos e entre seus vizinhos falcões - se recusando a aceitar a ordem natural das coisas, os mais fortes entre os ursos se encarregavam da proteção dessa verdade contra as dissidências intrenas e externas, através do monopólio da violência.
Sendo assim, os mais inteligentes entre os ursos, de acordo com a vontade dos mais fortes entre os ursos, governavam em nome das formigas que, não sendo fortes e nem inteligentes, seguiam as ordens do Grande Urso.
Por outro lado, os mais inteligentes entre os falcões, em sua metade da floresta imperial, acreditavam que as formigas, ao garantirem a produção e o consumo, deveriam ser livres para enfrentar os seus próprios problemas por sua própria conta e risco.
Sendo ainda despreparadas para enfrentar tais problemas absolutamente por conta própria, as formigas precisariam da orientação dos mais inteligentes entre os falcões, responsáveis intelectuais e midiáticos por guiá-las.
Ainda assim, entre os falcões e entre seus vizinhos ursos, havia aqueles que não compreendiam tal verdade e, dessa forma, era preciso que os mais ágeis entre os falcões assumissem o citado monopólio da violência, protegendo o grupo dos ursos e de si mesmo.
Dessa maneira, os mais inteligentes entre os falcões, respeitando a posição dos mais ágeis entre os falcões, garantiam a ordem, protegiam o grupo e guiavam as formigas em sua busca pelo direito de resolver seus próprios problemas confortavelmente sozinhas.
As formigas com certeza ainda não estão preparadas, mas falcões e ursos, hoje amigos, estão gordos e felizes.
Entre os ursos, a tese central era a de que as formigas, sendo as responsáveis pela produção no território, deveriam elas mesmas gerenciar os recursos e tudo o que era necessário para transformá-los em sobrevivência.
É claro que os ursos levavam em conta que as formigas não estavam preparadas para isso, então era necessário que os mais inteligentes entre os ursos as educassem, gerenciando enquanto isso os recursos em seu nome.
Além disso, como havia aqueles que não entendiam essa verdade absoluta - entre os ursos e entre seus vizinhos falcões - se recusando a aceitar a ordem natural das coisas, os mais fortes entre os ursos se encarregavam da proteção dessa verdade contra as dissidências intrenas e externas, através do monopólio da violência.
Sendo assim, os mais inteligentes entre os ursos, de acordo com a vontade dos mais fortes entre os ursos, governavam em nome das formigas que, não sendo fortes e nem inteligentes, seguiam as ordens do Grande Urso.
Por outro lado, os mais inteligentes entre os falcões, em sua metade da floresta imperial, acreditavam que as formigas, ao garantirem a produção e o consumo, deveriam ser livres para enfrentar os seus próprios problemas por sua própria conta e risco.
Sendo ainda despreparadas para enfrentar tais problemas absolutamente por conta própria, as formigas precisariam da orientação dos mais inteligentes entre os falcões, responsáveis intelectuais e midiáticos por guiá-las.
Ainda assim, entre os falcões e entre seus vizinhos ursos, havia aqueles que não compreendiam tal verdade e, dessa forma, era preciso que os mais ágeis entre os falcões assumissem o citado monopólio da violência, protegendo o grupo dos ursos e de si mesmo.
Dessa maneira, os mais inteligentes entre os falcões, respeitando a posição dos mais ágeis entre os falcões, garantiam a ordem, protegiam o grupo e guiavam as formigas em sua busca pelo direito de resolver seus próprios problemas confortavelmente sozinhas.
As formigas com certeza ainda não estão preparadas, mas falcões e ursos, hoje amigos, estão gordos e felizes.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Animal Político
“O homem é um animal político” – Aristóteles
Os homens estão sempre fazendo política. Mesmo que não seja política partidária, ou mesmo que não se candidate a nada, em cada ação social, no trabalho ou no lazer, cada vez que tenta sustentar um argumento ou que aceita ou contraria uma tese, os seres humanos estão sempre fazendo política.
Um acadêmico que pleiteia uma cadeira em uma determinada universidade, um condômino que defende melhorias no edifício ou condomínio onde vive, um associado que reivindica uma melhoria para seu clube ou o cidadão que argumenta com os amigos em uma trivial discussão no balcão do bar de seu bairro, todos temos nossas posições e a simples defesa de tais posições já constitui prática política.
Na Grécia Antiga, mais especificamente na cidade de Atenas, os chamados “bem-nascidos” ou “eupátridas”, que possuíam plenos direitos civis e políticos, convenciam os seus pares a adotar uma determinada posição em relação aos assuntos da cidade (em grego pólis – raiz do termo política) através de sua capacidade discursiva, a chamada oratória. Quem, mesmo possuidor de tal direito, se abstinha de opinar, acabava tendo que aceitar que os demais tomassem por si mesmos decisões que afetariam também sua vida, já que as políticas públicas afetam a todos, sem distinção.
Nos dias de hoje, quando alguns alegam, sob o justo argumento da desmoralização observada na classe política profissional brasileira, que “não gostam de política” ou que “não se envolvem em política”, estão, ao contrário do que pensam, contribuindo para a continuidade desse estado de coisas.
Muitas são as possibilidades políticas, desde o voto em um determinado candidato até o próprio voto nulo, desde que embasado em argumentos. Porém, se abster do debate, principalmente em épocas decisivas, como os períodos das eleições, é dar carta branca para que os demais decidam pelo futuro da comunidade e, consequentemente, pelo seu próprio futuro.Tomar partido de uma causa coletiva, defendendo os anseios de um determinado grupo, possuindo ou não afinidade com esse grupo específico, é uma atitude nobre e política. Principalmente quando essa atitude se mostra coerente e desinteressada.
Os homens estão sempre fazendo política. Mesmo que não seja política partidária, ou mesmo que não se candidate a nada, em cada ação social, no trabalho ou no lazer, cada vez que tenta sustentar um argumento ou que aceita ou contraria uma tese, os seres humanos estão sempre fazendo política.
Um acadêmico que pleiteia uma cadeira em uma determinada universidade, um condômino que defende melhorias no edifício ou condomínio onde vive, um associado que reivindica uma melhoria para seu clube ou o cidadão que argumenta com os amigos em uma trivial discussão no balcão do bar de seu bairro, todos temos nossas posições e a simples defesa de tais posições já constitui prática política.
Na Grécia Antiga, mais especificamente na cidade de Atenas, os chamados “bem-nascidos” ou “eupátridas”, que possuíam plenos direitos civis e políticos, convenciam os seus pares a adotar uma determinada posição em relação aos assuntos da cidade (em grego pólis – raiz do termo política) através de sua capacidade discursiva, a chamada oratória. Quem, mesmo possuidor de tal direito, se abstinha de opinar, acabava tendo que aceitar que os demais tomassem por si mesmos decisões que afetariam também sua vida, já que as políticas públicas afetam a todos, sem distinção.
Nos dias de hoje, quando alguns alegam, sob o justo argumento da desmoralização observada na classe política profissional brasileira, que “não gostam de política” ou que “não se envolvem em política”, estão, ao contrário do que pensam, contribuindo para a continuidade desse estado de coisas.
Muitas são as possibilidades políticas, desde o voto em um determinado candidato até o próprio voto nulo, desde que embasado em argumentos. Porém, se abster do debate, principalmente em épocas decisivas, como os períodos das eleições, é dar carta branca para que os demais decidam pelo futuro da comunidade e, consequentemente, pelo seu próprio futuro.Tomar partido de uma causa coletiva, defendendo os anseios de um determinado grupo, possuindo ou não afinidade com esse grupo específico, é uma atitude nobre e política. Principalmente quando essa atitude se mostra coerente e desinteressada.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
História em carne e osso
"Se o que pretendem os imperialistas para que haja paz é que deixemos de ser revolucionários, não deixaremos de ser revolucionários, jamais dobraremos a nossa bandeira".
"As bombas podem matar os famintos, os doentes, os ignorantes, mas não podem matar a fome, as doenças, a ignorância".
"Jamais me aposentarei da política, da revolução ou das idéias que tenho. O poder é uma escravidão e sou seu escravo".
"Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total quando não estou em condições físicas de oferecer isso".
"Condenem-me, não importa, a história me absolverá".
Frases de Fidel Castro, 81, líder da Revolução Cubana de 1959, que saiu do poder por conta própria e popularidade alta no último 19 de fevereiro de 2008.
"As bombas podem matar os famintos, os doentes, os ignorantes, mas não podem matar a fome, as doenças, a ignorância".
"Jamais me aposentarei da política, da revolução ou das idéias que tenho. O poder é uma escravidão e sou seu escravo".
"Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total quando não estou em condições físicas de oferecer isso".
"Condenem-me, não importa, a história me absolverá".
Frases de Fidel Castro, 81, líder da Revolução Cubana de 1959, que saiu do poder por conta própria e popularidade alta no último 19 de fevereiro de 2008.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Independência de Kosovo
O apoio ocidental à declaração unilateral de independência de Kosovo em relação à Sérvia é mais um exemplo claro da geopolítica mundial após o colapso do contraponto comunista, entre 1989 e 1991.
O ocidente, liderado pelos EUA, utiliza critérios contraditórios caso a caso de acordo com seus interesses logísticos e estratégicos, vinculados obviamente aos seus interesses econômicos.
Não se trata de concordar com o domínio de uma nação sobre outra ou de um Estado sobre seus vizinhos. O problema é que nem a ONU e nem a OTAN utilizam os mesmo critérios em todos os casos de reivindicações separatistas ou nacionalistas.
Os exemplos são óbvios.
Os organismos internacionais citados jamais concordaram com a possibilidade de separação de Flandres em relação à Bélgica, ou da Catalunha em relação à Espanha, assim como do País Basco, pois ambos os países são seus aliados e interessa mais à comunidade internacional manter os países citados em sua "integridade política e territorial". Outro caso é o de Taiwan em relação à China. O poder econômico e militar chinês força o bloco ocidental ao silêncio, já que não é possível e não interessa o confronto.
No caso da Sérvia, os interesses ocidentais hostilizam declaradamente o país, considerado um obstáculo à integração dos Balcãs ao "mundo ocidental", assim como a Rússia, aliado e "irmão" étnico da Sérvia, além de ser o Estado nacional mais prejudicado com as recentes campanhas coidentais tanto nos Balcãs quanto no Oriente Médio.
As bandeiras americanas hasteadas pelo povo durante as comemorações nas ruas das principais cidades de Kosovo demonstram que o "sonho americano" veio pra ficar. Resta saber até quando a Rússia, com seu passado imperial e imperialista e seu gigantesco arsenal nuclear assistirá calada ao desmanche de sua influência geopolítica no principal quintal dos seus "bons-tempos", a Europa oriental.
O ocidente, liderado pelos EUA, utiliza critérios contraditórios caso a caso de acordo com seus interesses logísticos e estratégicos, vinculados obviamente aos seus interesses econômicos.
Não se trata de concordar com o domínio de uma nação sobre outra ou de um Estado sobre seus vizinhos. O problema é que nem a ONU e nem a OTAN utilizam os mesmo critérios em todos os casos de reivindicações separatistas ou nacionalistas.
Os exemplos são óbvios.
Os organismos internacionais citados jamais concordaram com a possibilidade de separação de Flandres em relação à Bélgica, ou da Catalunha em relação à Espanha, assim como do País Basco, pois ambos os países são seus aliados e interessa mais à comunidade internacional manter os países citados em sua "integridade política e territorial". Outro caso é o de Taiwan em relação à China. O poder econômico e militar chinês força o bloco ocidental ao silêncio, já que não é possível e não interessa o confronto.
No caso da Sérvia, os interesses ocidentais hostilizam declaradamente o país, considerado um obstáculo à integração dos Balcãs ao "mundo ocidental", assim como a Rússia, aliado e "irmão" étnico da Sérvia, além de ser o Estado nacional mais prejudicado com as recentes campanhas coidentais tanto nos Balcãs quanto no Oriente Médio.
As bandeiras americanas hasteadas pelo povo durante as comemorações nas ruas das principais cidades de Kosovo demonstram que o "sonho americano" veio pra ficar. Resta saber até quando a Rússia, com seu passado imperial e imperialista e seu gigantesco arsenal nuclear assistirá calada ao desmanche de sua influência geopolítica no principal quintal dos seus "bons-tempos", a Europa oriental.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Ética de Rebanho
"A pior forma de tirania que existe é a tirania do fraco sobre o forte. Esta é a única forma de tirania que dura." - Oscar Wilde
Um dos significados do termo civilizado segundo o dicionário Aurélio é: “(...) que possui os costumes e idéias próprios ao estado de civilização”, mas a raiz civilis, ou civil, é a mesma de civilidade (civilitas): “observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade, cortesia, urbanidade, polidez”.
As sociedades ditas “civilizadas”, tanto do Oriente quanto do Ocidente, mesmo quando dotadas de características ancestrais violentas ou “bárbaras” e mesmo quando extremamente problemáticas quanto aos seus vizinhos e demais estrangeiros, apresentam, internamente, normas escritas ou consuetudinárias que tornam não apenas mais confortável, mas, sobretudo possível a convivência entre os indivíduos.
Instrumentos como a divindade do governante, no oriente antigo, o medo do hell entre os bárbaros ocidentais ou o monoteísmo submisso judaico-cristão-maometano contribuíam quando a forca, guilhotina ou cadeira elétrica falhavam na manutenção dessa ordem indispensável à sobrevivência e (talvez) à evolução humana.
Na era contemporânea, no que diz respeito ao Ocidente, um novo mecanismo veio à tona nessa busca pela civilidade: a educação. Unanimidade entre os humanistas à ponto de servir de elo entre doutrinas ditas opostas, como o liberalismo burguês e os socialismos utópico, científico e libertário, base dos argumentos pró enciclopédia de Diderot, da luta operária de Marx ou da auto-gestão de Bakunin, a educação serviria para a mobilização das massas, fosse em busca do poder ou do progresso material das nações. Uma boa tipográfica e idéias racionais construíriam a plena civilidade, a “primavera dos povos”, “liberdade, igualdade, fraternidade”, “paz, terra e pão”.
Idéia perfeita e perfeitamente viável, no tempo dos satélites, da fibra-ótica, da TV à cabo, da cultura de massa, da internet de banda larga, finalmente, não obstante os bilhões de seres-humanos que atualmente habitam o planeta, tornou-se possível atingi-los quase em sua totalidade e todos serão educados e civilizados(?). Ou não?
Não, pois a grande maioria da população só tem acesso a programas de TV de péssimos conteúdo e qualidade, que alienam, não educam. Não, pois as empresas de software empregam milhões de seus silício-dólares na luta contra o software livre. Não, pois os preços dos livros, revistas e até jornais são incompatíveis com o orçamento de grande parte da população de países como o Brasil. Não, pois os governos dos países pobres empregam em juros e apoio ao sistema financeiro muito mais dólares do que na educação. Isso sem falar nos gastos militares das grandes potências e de países menos poderosos mas tão ambiciosos quanto.
Assim, aumenta a importância dos mecanismos milenares da violência e da religião na manutenção da civilidade e a alienação substitui a educação, sendo muito mais vantajosa para a manutenção do status-quo.
A civilização acende o fósforo sobre a pólvora ao achar que, embriagado em frente à TV, o indivíduo está civilizado. Ele está controlado, emburrecido, banalizado, seus filhos, sem perspectivas educacionais de qualidade, estão nas ruas, subempregados ou desempregados, engravidando precocemente, sem acesso ao sonho propagado do consumo, inconformados, sem direitos e, portanto, isentos teoricamente de deveres, ameaçando a civilidade prezada pelos que tem acesso a tudo o que lhes falta.
Não se ensina educação à mesa aos que tem fome, não se pode pedir respeito à propriedade aos que não tem nada, não se enxota da calçada quem não tem para onde ir. Ao tomarmos essa atitude, jogamos milhões de pessoas na marginalidade, sujeitando-os à influência dos extremismos políticos e religiosos.
Em meio à pobreza, a busca pela civilidade se torna secundária, só a força mantém o tênue tecido social (ainda que roto) e nesses casos, ocorrem periodicamente os totalitarismos.
Um dos significados do termo civilizado segundo o dicionário Aurélio é: “(...) que possui os costumes e idéias próprios ao estado de civilização”, mas a raiz civilis, ou civil, é a mesma de civilidade (civilitas): “observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade, cortesia, urbanidade, polidez”.
As sociedades ditas “civilizadas”, tanto do Oriente quanto do Ocidente, mesmo quando dotadas de características ancestrais violentas ou “bárbaras” e mesmo quando extremamente problemáticas quanto aos seus vizinhos e demais estrangeiros, apresentam, internamente, normas escritas ou consuetudinárias que tornam não apenas mais confortável, mas, sobretudo possível a convivência entre os indivíduos.
Instrumentos como a divindade do governante, no oriente antigo, o medo do hell entre os bárbaros ocidentais ou o monoteísmo submisso judaico-cristão-maometano contribuíam quando a forca, guilhotina ou cadeira elétrica falhavam na manutenção dessa ordem indispensável à sobrevivência e (talvez) à evolução humana.
Na era contemporânea, no que diz respeito ao Ocidente, um novo mecanismo veio à tona nessa busca pela civilidade: a educação. Unanimidade entre os humanistas à ponto de servir de elo entre doutrinas ditas opostas, como o liberalismo burguês e os socialismos utópico, científico e libertário, base dos argumentos pró enciclopédia de Diderot, da luta operária de Marx ou da auto-gestão de Bakunin, a educação serviria para a mobilização das massas, fosse em busca do poder ou do progresso material das nações. Uma boa tipográfica e idéias racionais construíriam a plena civilidade, a “primavera dos povos”, “liberdade, igualdade, fraternidade”, “paz, terra e pão”.
Idéia perfeita e perfeitamente viável, no tempo dos satélites, da fibra-ótica, da TV à cabo, da cultura de massa, da internet de banda larga, finalmente, não obstante os bilhões de seres-humanos que atualmente habitam o planeta, tornou-se possível atingi-los quase em sua totalidade e todos serão educados e civilizados(?). Ou não?
Não, pois a grande maioria da população só tem acesso a programas de TV de péssimos conteúdo e qualidade, que alienam, não educam. Não, pois as empresas de software empregam milhões de seus silício-dólares na luta contra o software livre. Não, pois os preços dos livros, revistas e até jornais são incompatíveis com o orçamento de grande parte da população de países como o Brasil. Não, pois os governos dos países pobres empregam em juros e apoio ao sistema financeiro muito mais dólares do que na educação. Isso sem falar nos gastos militares das grandes potências e de países menos poderosos mas tão ambiciosos quanto.
Assim, aumenta a importância dos mecanismos milenares da violência e da religião na manutenção da civilidade e a alienação substitui a educação, sendo muito mais vantajosa para a manutenção do status-quo.
A civilização acende o fósforo sobre a pólvora ao achar que, embriagado em frente à TV, o indivíduo está civilizado. Ele está controlado, emburrecido, banalizado, seus filhos, sem perspectivas educacionais de qualidade, estão nas ruas, subempregados ou desempregados, engravidando precocemente, sem acesso ao sonho propagado do consumo, inconformados, sem direitos e, portanto, isentos teoricamente de deveres, ameaçando a civilidade prezada pelos que tem acesso a tudo o que lhes falta.
Não se ensina educação à mesa aos que tem fome, não se pode pedir respeito à propriedade aos que não tem nada, não se enxota da calçada quem não tem para onde ir. Ao tomarmos essa atitude, jogamos milhões de pessoas na marginalidade, sujeitando-os à influência dos extremismos políticos e religiosos.
Em meio à pobreza, a busca pela civilidade se torna secundária, só a força mantém o tênue tecido social (ainda que roto) e nesses casos, ocorrem periodicamente os totalitarismos.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Cada povo tem a elite que merece (e vice-versa)
Em festa no Copacabana Palace no carnaval desse ano, cuja entrada custava R$1.000,00 por pessoa, copos de cerveja e outras bebidas foram derrubados sobre um caríssimo piano, em meio à restos de comida e espumas espirradas sobre a peça presente no hotel desde antes da Bossa Nova, sobre a qual já debruçaram e dedilharam diversos artistas cariocas e visitantes.
Pouco antes, na semana anterior ao carnaval, segundo noticiado na imprensa digital e impressa especializada em TV, no "realista" show global denominado Big Brother (em homenagem ao Grande Irmão de Orwell), um integrante afirmou que "Graças à Deus, não sou 'desses' de ficar lendo livros".
Ainda no contexto do Carnaval, uma das maiores escolas de samba do país associou, em seu samba enredo, um sambista dor de cotovelo como o autoproclamado "Belo", desses que aparecem aos montes de tempos em tempos graças ao jabá das grandes gravadoras, à nomes de poetas como Cartola, Adoniram e Pixinguinha.
Coroando com chave de ouro esse resumo de nosso perfil, a ministra da Integração Racial, assim como outros membros de alto escalão do Governo Federal - eleito por vontade e afinidade com o povo, vale destacar - foi "pega" abusando das compras e passeios particulares com o cartão de crédito corporativo do governo, bancado com o dinheiro de nossos pesadíssimos e injustos impostos.
Será impressão minha ou é essa a "elite" econômica, midiática e política que forma, ou deforma, a consciência e a opinião de milhões de brasileiros, cotidianamente?
Pouco antes, na semana anterior ao carnaval, segundo noticiado na imprensa digital e impressa especializada em TV, no "realista" show global denominado Big Brother (em homenagem ao Grande Irmão de Orwell), um integrante afirmou que "Graças à Deus, não sou 'desses' de ficar lendo livros".
Ainda no contexto do Carnaval, uma das maiores escolas de samba do país associou, em seu samba enredo, um sambista dor de cotovelo como o autoproclamado "Belo", desses que aparecem aos montes de tempos em tempos graças ao jabá das grandes gravadoras, à nomes de poetas como Cartola, Adoniram e Pixinguinha.
Coroando com chave de ouro esse resumo de nosso perfil, a ministra da Integração Racial, assim como outros membros de alto escalão do Governo Federal - eleito por vontade e afinidade com o povo, vale destacar - foi "pega" abusando das compras e passeios particulares com o cartão de crédito corporativo do governo, bancado com o dinheiro de nossos pesadíssimos e injustos impostos.
Será impressão minha ou é essa a "elite" econômica, midiática e política que forma, ou deforma, a consciência e a opinião de milhões de brasileiros, cotidianamente?
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Pra Pensar
No século V, as sociedades tribais européias pós-queda de Roma eram analfabetas, moravam em cabanas de palha e baseavam sua lei nos costumes (direito consuetudinário). Nove séculos depois eles morriam de peste, devido à falta de higiene, enquanto acreditavam que rezar seria o melhor remédio, queimando bruxas em fogueiras “santas”. No século XV, enquanto as regras gramaticais das línguas européias eram inventadas por homens como Shakespeare, Cervantes e Camões, a ciência renascia da antiguidade e o homem se lançou à aventura ultramarina. Mais trezentos anos se passou e então, só então, no século XVIII, foi reinventada a democracia, baseada em princípios universalistas e direitos individuais defendidos por Rousseau, Montesquieu e demais intelectuais nas universidades modernas. Já no século XIX, Proudhon, Marx e Bakunin, de maneira diversa um do outro, pensaram a classe trabalhadora pós-segunda revolução industrial, incluindo uma nova camada social no projeto econômico e político do mundo. E, mesmo assim, nada disso impediu que o século XX fosse recheado de guerras capitalistas e mortes desnecessárias.
Assim como a evolução biológica que, segundo Darwin, não dá saltos, a evolução política também não. E nem tudo se pode aprender na teoria.
Pense nisso!
Assim como a evolução biológica que, segundo Darwin, não dá saltos, a evolução política também não. E nem tudo se pode aprender na teoria.
Pense nisso!
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Veias Abertas
Concordando ou discordando dos fatos, é inevitável perceber, pela realidade política venezuelana, boliviana, chilena, argentina e até brasileira, que a América Latina, neste início do século XXI, observa um movimento político que repete (como farsa, tragédia ou refundação?), o movimento de meados do século XX, interrompido na época pelo contexto da guerra-fria (a segunda maior mentira da História).
Ou seja...
Varre o continente uma onda de nacionalismo que, obviamente, pretende romper um ciclo de 500 anos de submissão e exploração, reparando injustiças históricas e visando devolver parte da riqueza do continente aos seus verdadeiros donos. Talvez dessa vez funcione, mas alguns pontos no mínimo dissonantes devem ser observados para que não ocorra um novo fracasso, maior até que o do século passado.
Em primeiro lugar, não existe “refundação” sem uma profunda reforma cultural, uma vez que é preciso ter claro o horizonte que se pretende atingir, e só a filosofia é capaz de traçar esse horizonte, como o cristianismo fez na queda de Roma, o renascimento no fim do feudalismo e o iluminismo quando a burguesia definitivamente “ganhou” o mundo. E, contra isso, pesa o fato de que, diferente da Europa, da Ásia e dos EUA, não existe na Am. Latina um pensamento filosófico original.
Em segundo lugar, apesar de justo, não seria útil que, uma vez no poder, os nativos da antiga América espanhola passassem a perseguir seus antigos perseguidores, alimentando uma espécie de racismo que, por mais justificável que seja, após 5 séculos de escravidão, estupros e pobreza, só alimentaria a ira do ocidente rico que, com capital e armas, poderia novamente submeter o já sofrido continente.
Mas, o mais importante de tudo, é não permitir que, mais uma vez, uma direita mesquinha e covarde e uma esquerda ingênua e submissa coloquem novamente tudo a perder, pois a URSS dos anos 60 e 70 era tão imperialista quanto os EUA é até hoje, e para nós, latino americanos, faz-se necessário um modelo original e autônomo, adequado às nossas particularidades culturais, geográficas e socioeconômicas, uma vez que todos os modelos que importamos até hoje redundaram em fracasso, menos por nossa incompetência do que por nossa submissão aos modelos exteriores a nós.
Portanto, nesse início de século, é fundamental que abandonemos na prática o modelo neoliberal, na teoria os sonhos socialistas de dois séculos atrás, que nos revoltemos contra o nosso “Tratado de Versalhes”, chamado dívida externa, que façamos uma reforma educacional duradoura e profunda, que seja priorizado o investimento em tecnologia, que façamos uma melhor distribuição de nossa renda, pois como um todo, o continente vem dando lucro, que ergamos a cabeça contra o preconceito, deixando de julgar a nós mesmos com os olhos dos outros, que analisemos até onde o modelo democrático iluminista se encaixa em nossa realidade (e não me parece que se encaixe), e que deixemos de lado rancores históricos, simplesmente impedindo que a História se repita, fortalecendo nossas instituições a partir de características originais e até filantrópicas, pois ainda existem milhões de nossos patrícios que precisam disso. Só assim teremos sucesso e, finalmente, atravessaremos um século com o orgulho de um Tupac, um Che, um Bolívar.
Ou seja...
Varre o continente uma onda de nacionalismo que, obviamente, pretende romper um ciclo de 500 anos de submissão e exploração, reparando injustiças históricas e visando devolver parte da riqueza do continente aos seus verdadeiros donos. Talvez dessa vez funcione, mas alguns pontos no mínimo dissonantes devem ser observados para que não ocorra um novo fracasso, maior até que o do século passado.
Em primeiro lugar, não existe “refundação” sem uma profunda reforma cultural, uma vez que é preciso ter claro o horizonte que se pretende atingir, e só a filosofia é capaz de traçar esse horizonte, como o cristianismo fez na queda de Roma, o renascimento no fim do feudalismo e o iluminismo quando a burguesia definitivamente “ganhou” o mundo. E, contra isso, pesa o fato de que, diferente da Europa, da Ásia e dos EUA, não existe na Am. Latina um pensamento filosófico original.
Em segundo lugar, apesar de justo, não seria útil que, uma vez no poder, os nativos da antiga América espanhola passassem a perseguir seus antigos perseguidores, alimentando uma espécie de racismo que, por mais justificável que seja, após 5 séculos de escravidão, estupros e pobreza, só alimentaria a ira do ocidente rico que, com capital e armas, poderia novamente submeter o já sofrido continente.
Mas, o mais importante de tudo, é não permitir que, mais uma vez, uma direita mesquinha e covarde e uma esquerda ingênua e submissa coloquem novamente tudo a perder, pois a URSS dos anos 60 e 70 era tão imperialista quanto os EUA é até hoje, e para nós, latino americanos, faz-se necessário um modelo original e autônomo, adequado às nossas particularidades culturais, geográficas e socioeconômicas, uma vez que todos os modelos que importamos até hoje redundaram em fracasso, menos por nossa incompetência do que por nossa submissão aos modelos exteriores a nós.
Portanto, nesse início de século, é fundamental que abandonemos na prática o modelo neoliberal, na teoria os sonhos socialistas de dois séculos atrás, que nos revoltemos contra o nosso “Tratado de Versalhes”, chamado dívida externa, que façamos uma reforma educacional duradoura e profunda, que seja priorizado o investimento em tecnologia, que façamos uma melhor distribuição de nossa renda, pois como um todo, o continente vem dando lucro, que ergamos a cabeça contra o preconceito, deixando de julgar a nós mesmos com os olhos dos outros, que analisemos até onde o modelo democrático iluminista se encaixa em nossa realidade (e não me parece que se encaixe), e que deixemos de lado rancores históricos, simplesmente impedindo que a História se repita, fortalecendo nossas instituições a partir de características originais e até filantrópicas, pois ainda existem milhões de nossos patrícios que precisam disso. Só assim teremos sucesso e, finalmente, atravessaremos um século com o orgulho de um Tupac, um Che, um Bolívar.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Indivíduo
A liberdade individual é a maior conquista da humanidade. A possibilidade de escolher seu destino, mesmo que limitada pelas circunstâncias à um leque menos abrangente de opções, é o único meio que o homem possui para se aproximar o máximo possível do que se convencionou chamar de "felicidade".
Há quem discorde. De maneira amena, alguns existencialistas, afirmando o "stress" implícito na escolha, mesmo que alguns deles ainda acreditem ser um preço que vale ser pago.
Entre os críticos mais ferozes da liberdade individual há os que acreditam na força do Estado (não do coletivo, do Estado) e de sua supremacia sobre cada um. No lugar da união natural das individualidades em busca do bem comum, acreditam na burocratização dessa união e no uso de instrumentos como a violência, a doutrinação e a própria estrutura material capitalista para a manutenção do "consenso".
Na história humana, com raras exceções, as sociedades mais bem sucedidas material e culturalmente são as que mais souberam respeitar a liberdade e a individualidade de cada um dos seus membros.
O direito de ser ateu, ou de ter uma religião qualquer; o direito de escolher sua profissão; o direito de manifestar opinião; o direito de se educar e de se informar; as conquistas populares e trabalhistas; os direitos das mulheres; a criminalização do racismo; entre outros, são o lado positivo da civilização ocidental, ainda que estejamos extremamente longe da perfeição. Além disso, o impressionante desenvolvimento dos meios de comunicação, com destaque para a interatividade da internet, permite que grande parcela da população global participe diretamente da produção cultural de massa, subvertendo a realidade observada por Adorno em meados do século XX, quando a indústria cultural possuía caráter estritamente unilateral.
Baseando-se em leis claras e justas, em mecanismos democráticos que garantam o seu respeito e cumprimento e em educação universal de qualidade, qualquer sociedade pode permitir que cada cidadão desenvolva todo o seu potencial, nas funções e com os métodos que melhor lhe convir.
Há quem discorde. De maneira amena, alguns existencialistas, afirmando o "stress" implícito na escolha, mesmo que alguns deles ainda acreditem ser um preço que vale ser pago.
Entre os críticos mais ferozes da liberdade individual há os que acreditam na força do Estado (não do coletivo, do Estado) e de sua supremacia sobre cada um. No lugar da união natural das individualidades em busca do bem comum, acreditam na burocratização dessa união e no uso de instrumentos como a violência, a doutrinação e a própria estrutura material capitalista para a manutenção do "consenso".
Na história humana, com raras exceções, as sociedades mais bem sucedidas material e culturalmente são as que mais souberam respeitar a liberdade e a individualidade de cada um dos seus membros.
O direito de ser ateu, ou de ter uma religião qualquer; o direito de escolher sua profissão; o direito de manifestar opinião; o direito de se educar e de se informar; as conquistas populares e trabalhistas; os direitos das mulheres; a criminalização do racismo; entre outros, são o lado positivo da civilização ocidental, ainda que estejamos extremamente longe da perfeição. Além disso, o impressionante desenvolvimento dos meios de comunicação, com destaque para a interatividade da internet, permite que grande parcela da população global participe diretamente da produção cultural de massa, subvertendo a realidade observada por Adorno em meados do século XX, quando a indústria cultural possuía caráter estritamente unilateral.
Baseando-se em leis claras e justas, em mecanismos democráticos que garantam o seu respeito e cumprimento e em educação universal de qualidade, qualquer sociedade pode permitir que cada cidadão desenvolva todo o seu potencial, nas funções e com os métodos que melhor lhe convir.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Revisionismos
A História oficial adora um aniversário "redondo". Nesse sentido, 2008 no Brasil traz de bandeja um evento que dará espaço para calorosos debates e garantirá a pauta de diversas revistas e suplementos dominicais específicos. Os 200 anos da vinda da família real portuguesa para o Brasil, um dos mais importantes eventos da nossa história, passados os anos de historiografia engajada em um dos lados da guerra-fria, abrirá as portas para a discussão sobre as origens reais da política no Brasil, e de sua repercussão, ou falta dela, na sociedade capitalista, cristã e branca que aqui fincou bandeira em 1500.
Em outro sentido e com outra dimensão, os 40 anos das agitações de maio de 68 pelo mundo, principalmente na França, levantará paixões ainda mais efervescentes. Evento recente e ainda presente no imaginário e no dia-a-dia de grande parte da população ocidental, ainda que muitos o desconheçam, o "maio de 68", ao mesmo tempo em que se apresentava como um movimento de comuna, à esquerda de tudo, resultou muito mais na transformação da própria direita, e de todo o ocidente, que se adequou ao modelo da liberdade, tornando-o mais atrativo e muito mais lucrativo que o da igualdade, na vitória do azul, ainda que não como se desenhava até então, sobre o vermelho, como 21 anos depois se comprovaria.
Não há dúvida de que grande parte dos atrativos da sociedade liberal, usados até mesmo em sua "propaganda", foram conquistados pela juventude auto-denominada socialista, principalmente francesa, nos idos de 68.
Talvez até mesmo a possibilidade de discutir tais eventos de maneira relativamente livre dos grilhões ideológicos e do maniqueísmo doutrinário seja uma consequência, ainda que indireta, daquele maio, há 40 anos.
Em outro sentido e com outra dimensão, os 40 anos das agitações de maio de 68 pelo mundo, principalmente na França, levantará paixões ainda mais efervescentes. Evento recente e ainda presente no imaginário e no dia-a-dia de grande parte da população ocidental, ainda que muitos o desconheçam, o "maio de 68", ao mesmo tempo em que se apresentava como um movimento de comuna, à esquerda de tudo, resultou muito mais na transformação da própria direita, e de todo o ocidente, que se adequou ao modelo da liberdade, tornando-o mais atrativo e muito mais lucrativo que o da igualdade, na vitória do azul, ainda que não como se desenhava até então, sobre o vermelho, como 21 anos depois se comprovaria.
Não há dúvida de que grande parte dos atrativos da sociedade liberal, usados até mesmo em sua "propaganda", foram conquistados pela juventude auto-denominada socialista, principalmente francesa, nos idos de 68.
Talvez até mesmo a possibilidade de discutir tais eventos de maneira relativamente livre dos grilhões ideológicos e do maniqueísmo doutrinário seja uma consequência, ainda que indireta, daquele maio, há 40 anos.
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