"A pior forma de tirania que existe é a tirania do fraco sobre o forte. Esta é a única forma de tirania que dura." - Oscar Wilde
Um dos significados do termo civilizado segundo o dicionário Aurélio é: “(...) que possui os costumes e idéias próprios ao estado de civilização”, mas a raiz civilis, ou civil, é a mesma de civilidade (civilitas): “observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade, cortesia, urbanidade, polidez”.
As sociedades ditas “civilizadas”, tanto do Oriente quanto do Ocidente, mesmo quando dotadas de características ancestrais violentas ou “bárbaras” e mesmo quando extremamente problemáticas quanto aos seus vizinhos e demais estrangeiros, apresentam, internamente, normas escritas ou consuetudinárias que tornam não apenas mais confortável, mas, sobretudo possível a convivência entre os indivíduos.
Instrumentos como a divindade do governante, no oriente antigo, o medo do hell entre os bárbaros ocidentais ou o monoteísmo submisso judaico-cristão-maometano contribuíam quando a forca, guilhotina ou cadeira elétrica falhavam na manutenção dessa ordem indispensável à sobrevivência e (talvez) à evolução humana.
Na era contemporânea, no que diz respeito ao Ocidente, um novo mecanismo veio à tona nessa busca pela civilidade: a educação. Unanimidade entre os humanistas à ponto de servir de elo entre doutrinas ditas opostas, como o liberalismo burguês e os socialismos utópico, científico e libertário, base dos argumentos pró enciclopédia de Diderot, da luta operária de Marx ou da auto-gestão de Bakunin, a educação serviria para a mobilização das massas, fosse em busca do poder ou do progresso material das nações. Uma boa tipográfica e idéias racionais construíriam a plena civilidade, a “primavera dos povos”, “liberdade, igualdade, fraternidade”, “paz, terra e pão”.
Idéia perfeita e perfeitamente viável, no tempo dos satélites, da fibra-ótica, da TV à cabo, da cultura de massa, da internet de banda larga, finalmente, não obstante os bilhões de seres-humanos que atualmente habitam o planeta, tornou-se possível atingi-los quase em sua totalidade e todos serão educados e civilizados(?). Ou não?
Não, pois a grande maioria da população só tem acesso a programas de TV de péssimos conteúdo e qualidade, que alienam, não educam. Não, pois as empresas de software empregam milhões de seus silício-dólares na luta contra o software livre. Não, pois os preços dos livros, revistas e até jornais são incompatíveis com o orçamento de grande parte da população de países como o Brasil. Não, pois os governos dos países pobres empregam em juros e apoio ao sistema financeiro muito mais dólares do que na educação. Isso sem falar nos gastos militares das grandes potências e de países menos poderosos mas tão ambiciosos quanto.
Assim, aumenta a importância dos mecanismos milenares da violência e da religião na manutenção da civilidade e a alienação substitui a educação, sendo muito mais vantajosa para a manutenção do status-quo.
A civilização acende o fósforo sobre a pólvora ao achar que, embriagado em frente à TV, o indivíduo está civilizado. Ele está controlado, emburrecido, banalizado, seus filhos, sem perspectivas educacionais de qualidade, estão nas ruas, subempregados ou desempregados, engravidando precocemente, sem acesso ao sonho propagado do consumo, inconformados, sem direitos e, portanto, isentos teoricamente de deveres, ameaçando a civilidade prezada pelos que tem acesso a tudo o que lhes falta.
Não se ensina educação à mesa aos que tem fome, não se pode pedir respeito à propriedade aos que não tem nada, não se enxota da calçada quem não tem para onde ir. Ao tomarmos essa atitude, jogamos milhões de pessoas na marginalidade, sujeitando-os à influência dos extremismos políticos e religiosos.
Em meio à pobreza, a busca pela civilidade se torna secundária, só a força mantém o tênue tecido social (ainda que roto) e nesses casos, ocorrem periodicamente os totalitarismos.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
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Um comentário:
Olá professor, seu link já está no site. Acabei me esquecendo de passar pelo Jaú, mas está aqui http://www.hifen.webnode.com (no Menu existe uma página - LINKS).
Muito bom seu texto "Ética de Rebanho", parabéns, bem objetivo em um ponto importante...
Um abraço,
Klaus
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