Certo
grau de normalidade política e econômica é fundamental para viabilizar o
desenvolvimento de uma sociedade.
No
caso do Brasil, após décadas de anormalidade tanto política (ditadura/repressão),
quanto econômica (hiperinflação), construiu-se, nos anos 80 e 90, relativa
estabilidade nesses dois aspectos.
A
Constituição de 88 e as primeiras eleições presidenciais diretas em 20 anos
(89) normalizaram a prática política no país, não obstante o impeachment de
Fernando Collor de Melo. Posteriormente, nos anos 90, o Plano Real estabilizou
a economia, eliminando a inflação e elevando o status da economia brasileira no
mundo capitalista. Esperava-se, em seguida, o tão sonhado avanço social e, em
grande parte, foi esse sonho que alavancou a chegada do PT ao poder, já no
início do século XXI.
Esse
conjunto de fatores criou um clima favorável ao Brasil, interna e externamente,
fazendo inclusive com que algumas instituições estrangeiras – jornalísticas,
econômicas, políticas, etc. – acreditassem e até mesmo divulgassem a teoria do “despertar
do gigante”, promovendo um clima de otimismo no chamado “país do futuro”, para
o qual, ao que parecia, o futuro finalmente havia chegado.
Porém,
se os anos 80 representaram a normalização política, os 90 a estabilização
econômica e os 00 a possibilidade de crescimento com justiça social, a presente
década, ao contrário, trouxe aos brasileiros um sabor amargo de ressaca, junto
à um choque de realidade proporcionado pelo crescimento da corrupção, pela
incompetência gestora e pela mau uso do dinheiro público em projetos obscuros, mega eventos
desnecessários (e sem legado) e uma política social assistencialista,
ultrapassada e insustentável.
Como
consequência, a mencionada normalidade econômica não existe mais, com taxas de
juros altíssimas, déficit nas contas públicas, inflação e desemprego crescentes.
E, na política, controlada por grandes partidos sem projeto ou ideologia e
pequenos partidos de aluguel, formados por uma mistura de celebridades,
coronéis, bandidos e “paus-mandados”, assiste-se hoje à uma crise de
representatividade e legitimidade sem precedentes, com altíssima rejeição à
figura que ocupa a presidência da República e nenhuma confiança do eleitorado
no Congresso Nacional – e em seus similares estaduais e municipais.
No
cenário atual, a julgar pelo que se lê e ouve nos grandes meios de comunicação
e em outros fóruns de debate, como as redes sociais, restam uma dúvida e uma
certeza. A dúvida é sobre a utilidade do impeachment para normalizar a
situação; a certeza é sobre a necessidade de uma reforma política radical e abrangente,
coisa que os atuais detentores do poder, principais beneficiários do presente
estado de coisas, jamais deixarão passar.
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