quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Impeachment?


Certo grau de normalidade política e econômica é fundamental para viabilizar o desenvolvimento de uma sociedade.
No caso do Brasil, após décadas de anormalidade tanto política (ditadura/repressão), quanto econômica (hiperinflação), construiu-se, nos anos 80 e 90, relativa estabilidade nesses dois aspectos.
A Constituição de 88 e as primeiras eleições presidenciais diretas em 20 anos (89) normalizaram a prática política no país, não obstante o impeachment de Fernando Collor de Melo. Posteriormente, nos anos 90, o Plano Real estabilizou a economia, eliminando a inflação e elevando o status da economia brasileira no mundo capitalista. Esperava-se, em seguida, o tão sonhado avanço social e, em grande parte, foi esse sonho que alavancou a chegada do PT ao poder, já no início do século XXI.
Esse conjunto de fatores criou um clima favorável ao Brasil, interna e externamente, fazendo inclusive com que algumas instituições estrangeiras – jornalísticas, econômicas, políticas, etc. – acreditassem e até mesmo divulgassem a teoria do “despertar do gigante”, promovendo um clima de otimismo no chamado “país do futuro”, para o qual, ao que parecia, o futuro finalmente havia chegado.
Porém, se os anos 80 representaram a normalização política, os 90 a estabilização econômica e os 00 a possibilidade de crescimento com justiça social, a presente década, ao contrário, trouxe aos brasileiros um sabor amargo de ressaca, junto à um choque de realidade proporcionado pelo crescimento da corrupção, pela incompetência gestora e pela mau uso do dinheiro público  em projetos obscuros, mega eventos desnecessários (e sem legado) e uma política social assistencialista, ultrapassada e insustentável.
Como consequência, a mencionada normalidade econômica não existe mais, com taxas de juros altíssimas, déficit nas contas públicas, inflação e desemprego crescentes. E, na política, controlada por grandes partidos sem projeto ou ideologia e pequenos partidos de aluguel, formados por uma mistura de celebridades, coronéis, bandidos e “paus-mandados”, assiste-se hoje à uma crise de representatividade e legitimidade sem precedentes, com altíssima rejeição à figura que ocupa a presidência da República e nenhuma confiança do eleitorado no Congresso Nacional – e em seus similares estaduais e municipais.
No cenário atual, a julgar pelo que se lê e ouve nos grandes meios de comunicação e em outros fóruns de debate, como as redes sociais, restam uma dúvida e uma certeza. A dúvida é sobre a utilidade do impeachment para normalizar a situação; a certeza é sobre a necessidade de uma reforma política radical e abrangente, coisa que os atuais detentores do poder, principais beneficiários do presente estado de coisas, jamais deixarão passar.

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