Com a decadência do modelo civilizatório greco-romano, no século V d.C., a vida privada entrou em total declínio e a socialização forçada dos indivíduos em torno de uma "lógica de formigueiro" acabou por destruir os valores individuais e, consequentemente, humanistas.
Mesmo com o Renascimento Cultural, que buscava a retomada dos valores e da cultura da Antiguidade Clássica, em oposição ao cristianismo fundamentalista da Idade Média, a idéia do poder absoluto do rei e a organização da sociedade em castas ou estamentos pouco contribuiu para o desenvolvimento do indivíduo livre e consciente.
Somente o século das luzes, período de desenvolvimento da razão iluminista, permitiu tal feito, de fundamental importância na formação do homem, mesmo não sendo garantia de felicidade, ou pelo contrário, como bem desenvolveram Sartre ou Nietzsche, cada um com seu grau de acidez.
Ainda assim, a liberdade individual teve que enfrentar, ao longo do século XX, a oposição de teorias totalitárias, como o socialismo "real" stalinista, que via na família tradicional e no indivíduo que se desgarrava dela a gênese do pensamento burguês, estimulando a vida em insalubres alojamentos coletivos, nos quais a noção de propriedade e individualidade eram esmagadas pelo pensamento e prática social "comum". Por sua vez, o nazismo, ainda que entendesse na família ariana a base da "grandeza" nacional, estimulava um vínculo ideológico com a "verdade" que superava até mesmo a lealdade fraternal, garantindo assim que o germanismo fosse a única forma irreparável de vínculo, em nome da qual filhos delatavam pais, esposas entregavam maridos e amigos matavam amigos para garantir a "pureza" e a "saúde" do nacional socialismo.
Ainda que injusto, estressante e desigual, o pensamento liberal-iluminista é o único que permite que sejamos a única coisa que devemos e merecemos ser: nós mesmos, em nosso mais alto grau de possibilidade e com todas as "dores e delícias" que isso proporciona.
Escrevam, com gosto, em meu epitáfio: "Estressado, porém, Livre".
Em tempo: É evidente que a liberdade a que me refiro tem suas barreiras, principalmente econômicas, mas, nesse modelo, todas as possibilidades estão em aberto. Diferente das limitações totalitárias que, antes mesmo de seu nascimento, definem o limite de sua existência.
A opção entre a segurança de uma vida predefinida e o stress de uma vida em aberto nunca me foi difícil.
domingo, 27 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
República Verde-Oliva
Na hipótese de que o anseio da parcela mais radicalmente à direita da sociedade brasileira seja atendido, não seria a primeira vez que u...
-
Em 1932 o Brasil vivia um momento conturbado, durante a presidência de Getúlio Vargas, que governava o Brasil desde 1930 sem uma constit...
-
Analisando o possível resultado das eleições legislativas britânicas do próximo dia 08, o professor Adrian Pabst avaliou que a esquerda perd...
-
Celebrar o carnaval é reafirmar o direito inalienável do brasileiro à liberdade. Afinal, gostando ou não do evento, a folia pagã do carnaval...
2 comentários:
pensei em uma das boas conversas que já tivemos a respeito das distopias e queria que você pensasse em uma coisa: Será que esse pensamento liberal-iluminista, se levado " às últimas" consequências, não pode ser visto como uma" nova distopia"? Também não sei responder, só foi algo que me ocorreu com seu post.
Infelizmente, querida Diana, sempre que atitudes extremas baseadas na força ou em abusos jurídicos se impuserem sobre cada um, individual ou coletivamente, as distopias serão concretizadas. Mas isso se torna mais fácil em sociedades em que a vontade de alguém, ou alguns, puder se sobrepor à lei.
Um exemplo é o atual estado das coisas nos EUA. Eu tenho certeza que o Bush gostaria de ter feito muitas asneiras mais, além das que foram feitas, mas a lei, as limitações institucionais e a opinião pública (livre), não permitiram.
Postar um comentário