quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fome

Resolvi rever esse meu trabalho, de dezembro de 2005, em função da atualidade do problema da fome no mundo (de novo). Mais uma consequência das intermináveis voltas que o capitalismo dá.

A FOME E SUAS CAUSAS

Não deixa de ser contraditório falarmos de fome no Brasil, país que, desde o século XVI, tem como sua principal característica a produção de alimentos para a exportação, tendo se constituído na primeira colônia agrícola da história moderna.
Porém, se prestarmos atenção nas características básicas do modelo agrícola praticado no país ao longo da História, veremos que a fome sempre foi inerente ao próprio, pois a produção de alimentos não visa primordialmente o abastecimento interno.
Com início oficial em 1530, a empresa açucareira montada nestas terras pelos portugueses apresentava as características básicas do chamado sistema de “plantation”, ou seja, monocultura praticada em latifúndios com mão-de-obra escrava e com a produção destinada ao mercado externo. A produção dos gêneros necessários à sobrevivência ficava por conta de pequenas roças incrustadas nas grandes áreas ocupadas pela cana-de-açúcar predominante no litoral nordestino desde o início da colonização, além de contar a sociedade da época com uma produção marginal situada no interior da mesma região nordeste e com caráter meramente complementar: a pecuária.
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É importante ressaltar que a economia açucareira implantada por Portugal no Brasil contou com intensa participação holandesa, pois, uma vez que Portugal não possuía as técnicas de refino do açúcar, vendia-o “bruto” aos holandeses, que o refinavam e revendiam na Europa. Quando se dá a união dos reinos ibéricos, em 1580, Felipe II de Habsburgo exclui seus rivais holandeses dessa “divisão” da produção açucareira, levando os holandeses a formarem a WIC (Companhia das Índias Ocidentais), com o intuito de invadir o nordeste brasileiro, centro produtor de açúcar, nos dando a dimensão da importância dessa atividade para o jovem país capitalista. Depois de um período de dominação holandesa, entre 1630 e 1654, o nordeste brasileiro volta ao domínio português, já sob a tutela dos Bragança, mas a economia açucareira nunca mais seria a mesma, pois os flamengos levaram consigo mudas de cana e as estão plantando na América central, produzindo um açúcar melhor e mais barato que o brasileiro.
Dessa forma, a “vocação natural” do Brasil, do ponto de vista econômico, se delineava, despertando o interesse das primeiras potências capitalistas, ainda durante o mercantilismo, interesse esse que sobreviveu a Revolução Industrial e ao advento do liberalismo, assim como a “vocação” agrícola brasileira.
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Com o fim do ciclo açucareiro, Portugal se dedicou a buscar uma nova fonte de riquezas no interior do Brasil e, com a descoberta de ouro e o início do ciclo minerador, o rápido crescimento demográfico causado pelo interesse nas riquezas minerais provocou uma grave crise de abastecimento, principalmente nos anos de 1700 e 1701, não obstante a pecuária gaúcha estar atuando sobre a área mineradora da mesma forma que a sertaneja atuava em relação à área açucareira.
Porém, a pior crise de fome registrada no Brasil ocorreu já na transição do império para a república quando, entre 1877 e 1899, uma grave seca no sertão nordestino resultou em um saldo estimado de 500 mil mortes. Na época, no que viria a ser uma das últimas ações de grande porte de seu governo, Dom Pedro II elaborou um programa baseado na construção de poços e açudes, além do canal São Francisco/Jaguaribe, construído em direção ao semi-árido cearense.
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Vale lembrar que foi durante o governo de Dom Pedro II que o Brasil concretizou o seu “renascimento agrícola”, através do café, produto que dominaria as exportações brasileiras até meados do século XX, sendo determinante inclusive na composição do poder político, principalmente entre 1894 e 1930 (República Oligárquica).
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A primeira ação política para o combate a fome na região nordeste após a proclamação da República se deu no governo JK, através da criação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), por Celso Furtado, e da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), fechada durante o governo Fernando Henrique, em 2001.
A SUDENE, com sede em Recife, buscava introduzir a agricultura familiar, tendo assentado um milhão de nordestinos do semi-árido no noroeste do Maranhão e no sul da Bahia. Ainda no governo JK tentou-se aprovar no Congresso, sem sucesso, a Lei de Irrigação, que propunha reforma agrária antes da irrigação, citando “desapropriação com finalidade social das terras irrigadas”.
Na prática, os investimentos realizados entre o final do 2º Reinado e o governo JK possibilitaram de fato a construção de açudes e o armazenamento de água, porém, situados no interior de grandes latifúndios, foram estes utilizados apenas segundo o interesse das elites agrárias da região, principalmente com objetivos políticos, criando o termo “Indústria da Seca”.
Em 2003, início do atual governo, o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou a criação do programa “Fome Zero”, adotando medidas emergenciais e controversas para o combate a fome. Em meio aos recentes escândalos de corrupção, tal projeto acabou sumindo do noticiário da grande mídia, e seus resultados ainda não são conhecidos do grande público. Porém, o que se sabe com certeza, é que em um dos maiores exportadores mundiais de grãos, a fome não deveria ser uma realidade.
O Brasil não é o único país do mundo que enfrentou e enfrenta o problema da fome, a diferença é que nas principais crises alimentares observadas pelo mundo ao longo da História a causa fundamental é o desabastecimento, quer por problemas climáticos, quer por conflitos internos e externos, enquanto no Brasil o problema se deve a uma opção econômica que exporta gêneros dos quais sua população carece.

Vejamos alguns exemplos de crise na produção de alimentos pelo mundo e suas causas:

* 1315-1317 – Europa Centro-Ocidental – Aumento populacional sem o correspondente aumento na produção de alimentos.

* 1847-1848 – Irlanda – Praga das Batatas.

* 1932-1933 – Ucrânia – Confisco da produção por parte do governo de Stálin.

* 1959-1961 – China – Crise de abastecimento pós 2ª Guerra e Revolução de 49 / Estruturação das Comunas Populares.

* 1984 – Etiópia – Guerra Civil.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Qual capital???

Lucro e riqueza, por um bom tempo, principalmente no Brasil, foram "pragas" condenáveis por grande parte da "intelectualidade", como as novas pragas do Egito, ou como uma espécie de lepra incurável... mas sem a "vantagem" do contágio.
Os capitalistas eram caricaturados como bufões enormes e preguiçosos, mais próximos da idéia do barão decadente da Baixa Idade Média ou do latifundiário escravocrata e analfabeto dos tempos da colônia e até a primeira fase da República.
Porém, a aposentadoria de Bill Gates, tão noticiada nas últimas semanas, serviu para levantar uma discussão que, pelo menos desde 1989, estava prestes a vir a tona.
Vejamos:
Qual a origem de todos os confortos tecnológicos e científicos dos quais usufruímos, e da própria produção cultural de massa que nos atinge cotidianamente, pelo MP3, pelo PC, pelo Palm, pelo celular, pela TV ou pelo rádio, entre outros veículos? E os avanços da medicina e da indústria química, de onde vêm?
A resposta é simples: são produtos industrializados, ou seja, resultado da Revolução Industrial, principalmente a partir da 2ª (século XIX).
Por outro lado, mas não menos importante, é inegável que a Revolução Industrial foi e ainda é resultado do investimento da burguesia que, utilizando os recursos obtidos com a "acumulação primitiva" moderna, investiu em países que forneciam mínima segurança e uma certa garantia de respeito aos seus investimentos e à suas propriedades. Esses países, inicialmente Inglaterra e França e, em seguida, EUA, eram aqueles que, através de estratégias políticas (Inglaterra) ou de revoluções (EUA e França), haviam colocado a burguesia no poder político e, então, adotaram leis e políticas públicas voltadas ao estímulo e à proteção da atividade capitalista.
Nesses países, a atuação capitalista prosperou gerando emprego, renda e até mesmo riqueza para a sociedade como um todo e para parte considerável dos indivíduos do grupo, além de garantir a subsistência dos menos afortunados.
(Foi também nessas sociedades que o respeito às iniciativas privadas e aos direitos individuais fez prosperar o até hoje maior exemplo de respeito ao "eu" assistido pela história humana, mas isso já é outro assunto.)
Sendo assim, negar a importância da parte "saudável" da burguesia para a evolução humana é contrariar a história, afinal, homens como Henry Ford, Irineu Evangelista de Souza, Enzo e Dino Ferrari e Bill Gates, além de tantos outros anônimos e que nada se assemelham ao estereótipo do capitalista, foram fundamentais para a evolução humana. Sem os seus investimentos e empreendedorismo, estaríamos tecnologicamente no século XVIII, morrendo de tuberculose, gripe e sífilis.

República Verde-Oliva

Na hipótese de que o anseio da parcela mais radicalmente à direita da sociedade brasileira seja atendido, não seria a primeira vez que u...