Resolvi rever esse meu trabalho, de dezembro de 2005, em função da atualidade do problema da fome no mundo (de novo). Mais uma consequência das intermináveis voltas que o capitalismo dá.
A FOME E SUAS CAUSAS
Não deixa de ser contraditório falarmos de fome no Brasil, país que, desde o século XVI, tem como sua principal característica a produção de alimentos para a exportação, tendo se constituído na primeira colônia agrícola da história moderna.
Porém, se prestarmos atenção nas características básicas do modelo agrícola praticado no país ao longo da História, veremos que a fome sempre foi inerente ao próprio, pois a produção de alimentos não visa primordialmente o abastecimento interno.
Com início oficial em 1530, a empresa açucareira montada nestas terras pelos portugueses apresentava as características básicas do chamado sistema de “plantation”, ou seja, monocultura praticada em latifúndios com mão-de-obra escrava e com a produção destinada ao mercado externo. A produção dos gêneros necessários à sobrevivência ficava por conta de pequenas roças incrustadas nas grandes áreas ocupadas pela cana-de-açúcar predominante no litoral nordestino desde o início da colonização, além de contar a sociedade da época com uma produção marginal situada no interior da mesma região nordeste e com caráter meramente complementar: a pecuária.
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É importante ressaltar que a economia açucareira implantada por Portugal no Brasil contou com intensa participação holandesa, pois, uma vez que Portugal não possuía as técnicas de refino do açúcar, vendia-o “bruto” aos holandeses, que o refinavam e revendiam na Europa. Quando se dá a união dos reinos ibéricos, em 1580, Felipe II de Habsburgo exclui seus rivais holandeses dessa “divisão” da produção açucareira, levando os holandeses a formarem a WIC (Companhia das Índias Ocidentais), com o intuito de invadir o nordeste brasileiro, centro produtor de açúcar, nos dando a dimensão da importância dessa atividade para o jovem país capitalista. Depois de um período de dominação holandesa, entre 1630 e 1654, o nordeste brasileiro volta ao domínio português, já sob a tutela dos Bragança, mas a economia açucareira nunca mais seria a mesma, pois os flamengos levaram consigo mudas de cana e as estão plantando na América central, produzindo um açúcar melhor e mais barato que o brasileiro.
Dessa forma, a “vocação natural” do Brasil, do ponto de vista econômico, se delineava, despertando o interesse das primeiras potências capitalistas, ainda durante o mercantilismo, interesse esse que sobreviveu a Revolução Industrial e ao advento do liberalismo, assim como a “vocação” agrícola brasileira.
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Com o fim do ciclo açucareiro, Portugal se dedicou a buscar uma nova fonte de riquezas no interior do Brasil e, com a descoberta de ouro e o início do ciclo minerador, o rápido crescimento demográfico causado pelo interesse nas riquezas minerais provocou uma grave crise de abastecimento, principalmente nos anos de 1700 e 1701, não obstante a pecuária gaúcha estar atuando sobre a área mineradora da mesma forma que a sertaneja atuava em relação à área açucareira.
Porém, a pior crise de fome registrada no Brasil ocorreu já na transição do império para a república quando, entre 1877 e 1899, uma grave seca no sertão nordestino resultou em um saldo estimado de 500 mil mortes. Na época, no que viria a ser uma das últimas ações de grande porte de seu governo, Dom Pedro II elaborou um programa baseado na construção de poços e açudes, além do canal São Francisco/Jaguaribe, construído em direção ao semi-árido cearense.
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Vale lembrar que foi durante o governo de Dom Pedro II que o Brasil concretizou o seu “renascimento agrícola”, através do café, produto que dominaria as exportações brasileiras até meados do século XX, sendo determinante inclusive na composição do poder político, principalmente entre 1894 e 1930 (República Oligárquica).
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A primeira ação política para o combate a fome na região nordeste após a proclamação da República se deu no governo JK, através da criação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), por Celso Furtado, e da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), fechada durante o governo Fernando Henrique, em 2001.
A SUDENE, com sede em Recife, buscava introduzir a agricultura familiar, tendo assentado um milhão de nordestinos do semi-árido no noroeste do Maranhão e no sul da Bahia. Ainda no governo JK tentou-se aprovar no Congresso, sem sucesso, a Lei de Irrigação, que propunha reforma agrária antes da irrigação, citando “desapropriação com finalidade social das terras irrigadas”.
Na prática, os investimentos realizados entre o final do 2º Reinado e o governo JK possibilitaram de fato a construção de açudes e o armazenamento de água, porém, situados no interior de grandes latifúndios, foram estes utilizados apenas segundo o interesse das elites agrárias da região, principalmente com objetivos políticos, criando o termo “Indústria da Seca”.
Em 2003, início do atual governo, o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou a criação do programa “Fome Zero”, adotando medidas emergenciais e controversas para o combate a fome. Em meio aos recentes escândalos de corrupção, tal projeto acabou sumindo do noticiário da grande mídia, e seus resultados ainda não são conhecidos do grande público. Porém, o que se sabe com certeza, é que em um dos maiores exportadores mundiais de grãos, a fome não deveria ser uma realidade.
O Brasil não é o único país do mundo que enfrentou e enfrenta o problema da fome, a diferença é que nas principais crises alimentares observadas pelo mundo ao longo da História a causa fundamental é o desabastecimento, quer por problemas climáticos, quer por conflitos internos e externos, enquanto no Brasil o problema se deve a uma opção econômica que exporta gêneros dos quais sua população carece.
Vejamos alguns exemplos de crise na produção de alimentos pelo mundo e suas causas:
* 1315-1317 – Europa Centro-Ocidental – Aumento populacional sem o correspondente aumento na produção de alimentos.
* 1847-1848 – Irlanda – Praga das Batatas.
* 1932-1933 – Ucrânia – Confisco da produção por parte do governo de Stálin.
* 1959-1961 – China – Crise de abastecimento pós 2ª Guerra e Revolução de 49 / Estruturação das Comunas Populares.
* 1984 – Etiópia – Guerra Civil.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Qual capital???
Lucro e riqueza, por um bom tempo, principalmente no Brasil, foram "pragas" condenáveis por grande parte da "intelectualidade", como as novas pragas do Egito, ou como uma espécie de lepra incurável... mas sem a "vantagem" do contágio.
Os capitalistas eram caricaturados como bufões enormes e preguiçosos, mais próximos da idéia do barão decadente da Baixa Idade Média ou do latifundiário escravocrata e analfabeto dos tempos da colônia e até a primeira fase da República.
Porém, a aposentadoria de Bill Gates, tão noticiada nas últimas semanas, serviu para levantar uma discussão que, pelo menos desde 1989, estava prestes a vir a tona.
Vejamos:
Qual a origem de todos os confortos tecnológicos e científicos dos quais usufruímos, e da própria produção cultural de massa que nos atinge cotidianamente, pelo MP3, pelo PC, pelo Palm, pelo celular, pela TV ou pelo rádio, entre outros veículos? E os avanços da medicina e da indústria química, de onde vêm?
A resposta é simples: são produtos industrializados, ou seja, resultado da Revolução Industrial, principalmente a partir da 2ª (século XIX).
Por outro lado, mas não menos importante, é inegável que a Revolução Industrial foi e ainda é resultado do investimento da burguesia que, utilizando os recursos obtidos com a "acumulação primitiva" moderna, investiu em países que forneciam mínima segurança e uma certa garantia de respeito aos seus investimentos e à suas propriedades. Esses países, inicialmente Inglaterra e França e, em seguida, EUA, eram aqueles que, através de estratégias políticas (Inglaterra) ou de revoluções (EUA e França), haviam colocado a burguesia no poder político e, então, adotaram leis e políticas públicas voltadas ao estímulo e à proteção da atividade capitalista.
Nesses países, a atuação capitalista prosperou gerando emprego, renda e até mesmo riqueza para a sociedade como um todo e para parte considerável dos indivíduos do grupo, além de garantir a subsistência dos menos afortunados.
(Foi também nessas sociedades que o respeito às iniciativas privadas e aos direitos individuais fez prosperar o até hoje maior exemplo de respeito ao "eu" assistido pela história humana, mas isso já é outro assunto.)
Sendo assim, negar a importância da parte "saudável" da burguesia para a evolução humana é contrariar a história, afinal, homens como Henry Ford, Irineu Evangelista de Souza, Enzo e Dino Ferrari e Bill Gates, além de tantos outros anônimos e que nada se assemelham ao estereótipo do capitalista, foram fundamentais para a evolução humana. Sem os seus investimentos e empreendedorismo, estaríamos tecnologicamente no século XVIII, morrendo de tuberculose, gripe e sífilis.
Os capitalistas eram caricaturados como bufões enormes e preguiçosos, mais próximos da idéia do barão decadente da Baixa Idade Média ou do latifundiário escravocrata e analfabeto dos tempos da colônia e até a primeira fase da República.
Porém, a aposentadoria de Bill Gates, tão noticiada nas últimas semanas, serviu para levantar uma discussão que, pelo menos desde 1989, estava prestes a vir a tona.
Vejamos:
Qual a origem de todos os confortos tecnológicos e científicos dos quais usufruímos, e da própria produção cultural de massa que nos atinge cotidianamente, pelo MP3, pelo PC, pelo Palm, pelo celular, pela TV ou pelo rádio, entre outros veículos? E os avanços da medicina e da indústria química, de onde vêm?
A resposta é simples: são produtos industrializados, ou seja, resultado da Revolução Industrial, principalmente a partir da 2ª (século XIX).
Por outro lado, mas não menos importante, é inegável que a Revolução Industrial foi e ainda é resultado do investimento da burguesia que, utilizando os recursos obtidos com a "acumulação primitiva" moderna, investiu em países que forneciam mínima segurança e uma certa garantia de respeito aos seus investimentos e à suas propriedades. Esses países, inicialmente Inglaterra e França e, em seguida, EUA, eram aqueles que, através de estratégias políticas (Inglaterra) ou de revoluções (EUA e França), haviam colocado a burguesia no poder político e, então, adotaram leis e políticas públicas voltadas ao estímulo e à proteção da atividade capitalista.
Nesses países, a atuação capitalista prosperou gerando emprego, renda e até mesmo riqueza para a sociedade como um todo e para parte considerável dos indivíduos do grupo, além de garantir a subsistência dos menos afortunados.
(Foi também nessas sociedades que o respeito às iniciativas privadas e aos direitos individuais fez prosperar o até hoje maior exemplo de respeito ao "eu" assistido pela história humana, mas isso já é outro assunto.)
Sendo assim, negar a importância da parte "saudável" da burguesia para a evolução humana é contrariar a história, afinal, homens como Henry Ford, Irineu Evangelista de Souza, Enzo e Dino Ferrari e Bill Gates, além de tantos outros anônimos e que nada se assemelham ao estereótipo do capitalista, foram fundamentais para a evolução humana. Sem os seus investimentos e empreendedorismo, estaríamos tecnologicamente no século XVIII, morrendo de tuberculose, gripe e sífilis.
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