quinta-feira, 28 de maio de 2009
Razão X Fundamentalismo
A postura belicista da Coreia do Norte pode e deve ser usada como um exemplo claro do perigo do poder absoluto. Uma vez ancorado no poder, um governante totalitário invariavelmente costuma dispor de todos os meios que possui para manter e garantir sua posição, tratando assuntos de Estado e de política como se fossem questões pessoais e considerando, com o apoio de seus subordinados diretos, que sua palavra seja algo mais do que a opinião de um simples mortal, passível de erro como qualquer outro. Pior ainda quando a ideologia do governante absoluto e de sua "Corte", como acontece no caso da Coreia, pouco distingue humanos de abelhas, ou formigas, e não hesitaria nem por um instante em eliminar milhões se isso atender aos seus interesses, travestidos das mais "justas" e utópicas ideologias (vide os casos da URSS stalinista ou da Alemanha nazista, assim como diversos outros exemplos ao longo da História). É nesse ponto que se destaca a maior vantagem do sistema democrático, quando praticado com propriedade e coerência: as instituições e regras universais e preconcebidas visam evitar os abusos, regulamentando a postura dos próprios dirigentes e impedindo assim que os desmandos se transformem em rotina ou até se perpetuem. Se você não entendeu, considere o seguinte exemplo: O que aconteceria se a besta fundamentalista do Bush, com todo o poderio do arsenal dos EUA que, até bem pouco tempo, ele controlava, tivesse poder absoluto? Levando esse exemplo em conta, considere agora a hipótese de uma Coreia do Norte ou um Irã armados de bombas atômicas. Ou até mesmo a hipótese da completa desestabilização do Paquistão, país com armas nucleares. O que você acha que provocaria? Ainda que imperfeito e muitas vezes injusto, o ocidente iluminista não saiu diretamente da Idade Média para a era pós-industrial, como querem fazer alguns países que parecem ainda habitar a Idade das Trevas. Entre Torquemada e Voltaire percorremos um longo caminho. Homens que censuram e matam opositores e que apedrejam mulheres devem ser controlados pela razão, pela lei e por seus instrumentos. Esse é o jogo que merece ser jogado.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Superando velhos conceitos
A provavelmente inevitável fusão da Sadia com a Perdigão, que resultará em uma das maiores empresas de alimentos processados do mundo, a BRF, assim como a já consolidada fusão das principais cervejarias nacionais, que resultou na criação da AMBEV que, através de seu braço internacional, a IMBEV, também encampou algumas das mais famosas e conhecidas cervejas do mundo, são o reflexo do país que o Brasil quer ser nos próximos anos, décadas e séculos. Afinal, ainda que alguns critiquem tais fusões, levantando bandeiras contra supostos “monopólios”, o país não pode abrir mão de ser competitivo e preparado para os desafios da economia globalizada. A alternativa seria o desemprego e a dependência externa de um país que, sem competitividade, teria que importar até cerveja e hambúrgueres. Além disso, a consolidação das citadas fusões, além de garantir milhares (talvez milhões) de empregos para o país, também capacita as empresas envolvidas para concorrer de igual para igual com algumas das maiores indústrias do mundo não somente no mercado interno, mas também no mercado externo, melhorando nossa balança comercial e gerando receita para o país poder investir em setores fundamentais, como segurança, educação e saúde. Faça a sua opção e torça pelo país que você quer que o Brasil seja.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Recortes
Reuters - Washington (Reuters) - O presidente dos EUA, Barack Obama, rejeitou pedidos, inclusive de alguns colegas democratas, para a criação de uma comissão para investigar as políticas antiterror do governo George W. Bush, dizendo que "não se ganharia nada com isso".
Yahoo! - Brasília (Agência Estado) - O presidente da República em exercício, José Alencar, afirmou hoje que as denúncias de supostas irregularidades na Petrobras não são assunto para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "Não é assunto para CPI e sim para auditores da Receita Federal, da própria Petrobras e até mesmo de auditores independentes."
Yahoo! - Brasília (Agência Estado) - O presidente da República em exercício, José Alencar, afirmou hoje que as denúncias de supostas irregularidades na Petrobras não são assunto para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "Não é assunto para CPI e sim para auditores da Receita Federal, da própria Petrobras e até mesmo de auditores independentes."
sábado, 9 de maio de 2009
A Condição Humana - por Drauzio Varella
(artigo publicado na Folha de São Paulo em 9 de Maio de 2009)
COMEÇAM A ser identificados os genes que codificam as características exclusivas da espécie humana. Os chimpanzés e nós descendemos de um mesmo ancestral que viveu até 6 milhões de anos atrás, época em que divergirmos deles, geneticamente. Somos tão próximos, que seríamos considerados seres da mesma espécie, caso adotássemos para os primatas os mesmos critérios usados para classificar os pássaros, por exemplo.O fato de compartilharmos cerca de 99% dos genes não é de surpreender, dadas a existência do ancestral comum e as semelhanças de aparência física, constituição bioquímica e até de relacionamento social. O que intriga é como 1% de diferença basta para explicar porque eles dormem em árvores, enquanto nós construímos cidades.Assim que o genoma do chimpanzé foi sequenciado, vários grupos se dedicaram a comparar os 3 bilhões de pares de bases (representadas pelas letras do alfabeto A, G, C e T) contidas no nosso DNA e no deles.A tarefa tem sido levada adiante por meio de programas de computador que "escaneiam" ambos os genomas à procura dos trechos em que as bases A, G, C e T estejam ordenadas de forma diversa.A conclusão é que as diferenças se acham confinadas em trechos de DNA formados por apenas 15 milhões de bases.Nesses estudos começam a emergir alguns genes, reunidos em uma revisão escrita por Katherine Pollard, da Universidade da Califórnia, na revista "Scientific American".O primeiro deles foi HAR1, gene ativo em alguns neurônios cerebrais.Esse gene é encontrado em todos os vertebrados, mas em galinhas e chimpanzés (espécies que divergiram há 300 milhões de anos) as diferenças são mínimas: cerca de 2%. Já, entre nós e os chimpanzés (espécies que divergiram há 6 milhões de anos) elas ultrapassam 10%.HAR1 é um gene ativo num tipo de neurônio essencial para o desenvolvimento do córtex cerebral, a camada mais externa do cérebro, cheia de reentrâncias e saliências, nas quais se acham entranhadas as atividades cognitivas que nos permitem compor sinfonias.Quando HAR1 sofre mutações podem surgir doenças congênitas eventualmente fatais, como a lisencefalia, enfermidade na qual a parte externa do cérebro fica lisa, sem as reentrâncias e saliências características do córtex humano.Outro gene que mostrou diferenças significativas com o similar em chimpanzés foi FOXP2, envolvido numa das mais importantes características humanas: o domínio da linguagem. Quando ocorrem mutações em FOXP2 as crianças perdem a capacidade de executar determinados movimentos faciais necessários para a articulação da palavra.Mas, o que distingue a fala humana das vocalizações empregadas na comunicação entre outros animais, não são simplesmente as características do aparelho fonador, mas o tamanho do cérebro. Nos últimos 6 milhões de anos, o volume de nosso cérebro mais do que triplicou.Um dos genes envolvidos nesse processo é ASPM, que, quando defeituoso, leva à condição congênita conhecida como microcefalia, na qual o cérebro chega a ficar reduzido a 70% de seu volume.Nem todas as características unicamente humanas se acham restritas ao cérebro, no entanto.A conquista do fogo há 1 milhão de anos e a da agricultura há 10 mil anos criaram oportunidades de acesso farto aos carboidratos. As calorias disponíveis nesses alimentos só puderam ser aproveitadas porque no genoma humano surgiram múltiplas cópias do gene AMY1, responsável pela produção de amilase na saliva, enzima essencial para a digestão dos açúcares.Outro exemplo é o gene LCT, responsável pela produção da lactase, enzima encarregada da digestão da lactose, o açúcar do leite que os mamíferos digerem bem apenas na infância. Mutações no genoma humano, ocorridas há 9 mil anos, produziram versões de LCT que tornaram possível a digestão de leite também na vida adulta, ampliando as possibilidades de sobrevivência em tempos de penúria.Descobrir a estrutura e as funções desses e de outros genes com mutações exclusivas da espécie humana, ocorridas ao acaso e submetidas ao crivo da seleção natural através da competição pela sobrevivência, permitirá conhecer a organização das moléculas que deram origem à condição humana.Não é mais instigante do que aceitar a ideia de que o homem seria fruto de um sopro divino e a mulher criada a partir de sua costela?
COMEÇAM A ser identificados os genes que codificam as características exclusivas da espécie humana. Os chimpanzés e nós descendemos de um mesmo ancestral que viveu até 6 milhões de anos atrás, época em que divergirmos deles, geneticamente. Somos tão próximos, que seríamos considerados seres da mesma espécie, caso adotássemos para os primatas os mesmos critérios usados para classificar os pássaros, por exemplo.O fato de compartilharmos cerca de 99% dos genes não é de surpreender, dadas a existência do ancestral comum e as semelhanças de aparência física, constituição bioquímica e até de relacionamento social. O que intriga é como 1% de diferença basta para explicar porque eles dormem em árvores, enquanto nós construímos cidades.Assim que o genoma do chimpanzé foi sequenciado, vários grupos se dedicaram a comparar os 3 bilhões de pares de bases (representadas pelas letras do alfabeto A, G, C e T) contidas no nosso DNA e no deles.A tarefa tem sido levada adiante por meio de programas de computador que "escaneiam" ambos os genomas à procura dos trechos em que as bases A, G, C e T estejam ordenadas de forma diversa.A conclusão é que as diferenças se acham confinadas em trechos de DNA formados por apenas 15 milhões de bases.Nesses estudos começam a emergir alguns genes, reunidos em uma revisão escrita por Katherine Pollard, da Universidade da Califórnia, na revista "Scientific American".O primeiro deles foi HAR1, gene ativo em alguns neurônios cerebrais.Esse gene é encontrado em todos os vertebrados, mas em galinhas e chimpanzés (espécies que divergiram há 300 milhões de anos) as diferenças são mínimas: cerca de 2%. Já, entre nós e os chimpanzés (espécies que divergiram há 6 milhões de anos) elas ultrapassam 10%.HAR1 é um gene ativo num tipo de neurônio essencial para o desenvolvimento do córtex cerebral, a camada mais externa do cérebro, cheia de reentrâncias e saliências, nas quais se acham entranhadas as atividades cognitivas que nos permitem compor sinfonias.Quando HAR1 sofre mutações podem surgir doenças congênitas eventualmente fatais, como a lisencefalia, enfermidade na qual a parte externa do cérebro fica lisa, sem as reentrâncias e saliências características do córtex humano.Outro gene que mostrou diferenças significativas com o similar em chimpanzés foi FOXP2, envolvido numa das mais importantes características humanas: o domínio da linguagem. Quando ocorrem mutações em FOXP2 as crianças perdem a capacidade de executar determinados movimentos faciais necessários para a articulação da palavra.Mas, o que distingue a fala humana das vocalizações empregadas na comunicação entre outros animais, não são simplesmente as características do aparelho fonador, mas o tamanho do cérebro. Nos últimos 6 milhões de anos, o volume de nosso cérebro mais do que triplicou.Um dos genes envolvidos nesse processo é ASPM, que, quando defeituoso, leva à condição congênita conhecida como microcefalia, na qual o cérebro chega a ficar reduzido a 70% de seu volume.Nem todas as características unicamente humanas se acham restritas ao cérebro, no entanto.A conquista do fogo há 1 milhão de anos e a da agricultura há 10 mil anos criaram oportunidades de acesso farto aos carboidratos. As calorias disponíveis nesses alimentos só puderam ser aproveitadas porque no genoma humano surgiram múltiplas cópias do gene AMY1, responsável pela produção de amilase na saliva, enzima essencial para a digestão dos açúcares.Outro exemplo é o gene LCT, responsável pela produção da lactase, enzima encarregada da digestão da lactose, o açúcar do leite que os mamíferos digerem bem apenas na infância. Mutações no genoma humano, ocorridas há 9 mil anos, produziram versões de LCT que tornaram possível a digestão de leite também na vida adulta, ampliando as possibilidades de sobrevivência em tempos de penúria.Descobrir a estrutura e as funções desses e de outros genes com mutações exclusivas da espécie humana, ocorridas ao acaso e submetidas ao crivo da seleção natural através da competição pela sobrevivência, permitirá conhecer a organização das moléculas que deram origem à condição humana.Não é mais instigante do que aceitar a ideia de que o homem seria fruto de um sopro divino e a mulher criada a partir de sua costela?
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Bons (?) e velhos tempos
Nunca tanta gente viveu tão bem no mundo. É fato, por mais espantoso que possa parecer. Apesar de todas as tragédias que ainda assombram parte da humanidade e da velocidade com que essas tragédias chegam até o nosso conhecimento através dos meios de comunicação, a verdade é que nunca, em nenhum momento da história, tanta gente viveu tão bem ou, no mínimo, com tanta segurança alimentar como hoje em dia.
É só voltar poucos anos no tempo e pensar como era a vida em países como Itália, Inglaterra, França ou Alemanha há cem anos atrás, para a maioria da população, e depois comparar com a realidade desses países hoje, mesmo para os mais pobres entre seus habitantes. No Brasil então, nem se fala. Há pouco mais de cem anos a Avenida Paulista não era nem asfaltada, hoje é um dos mais caros “metro quadrado” do país.
Ainda que falte muito para atingirmos um nível humanamente aceitável para a maioria dos brasileiros, é só compararmos os indicadores sociais do país nos anos de 1910, 20, 30, 40... e assim por diante, até 2000, para vermos a enorme evolução em relação há alfabetização, expectativa de vida, saneamento básico (ainda um dos maiores problemas) e mortalidade infantil, entre outros itens.
Ainda assim, há julgar pelo que se vê na televisão, principalmente em alguns programas “jornalísticos”, parece que vivemos no pior dos mundos.
A cobertura obsessiva e sensacionalista de eventos negativos por alguns setores da mídia, como no caso da gripe “suína”, parecem refletir uma certa ansiedade pelo perigo do imprevisto em uma civilização cada vez mais pautada pela estabilidade.
É só voltar poucos anos no tempo e pensar como era a vida em países como Itália, Inglaterra, França ou Alemanha há cem anos atrás, para a maioria da população, e depois comparar com a realidade desses países hoje, mesmo para os mais pobres entre seus habitantes. No Brasil então, nem se fala. Há pouco mais de cem anos a Avenida Paulista não era nem asfaltada, hoje é um dos mais caros “metro quadrado” do país.
Ainda que falte muito para atingirmos um nível humanamente aceitável para a maioria dos brasileiros, é só compararmos os indicadores sociais do país nos anos de 1910, 20, 30, 40... e assim por diante, até 2000, para vermos a enorme evolução em relação há alfabetização, expectativa de vida, saneamento básico (ainda um dos maiores problemas) e mortalidade infantil, entre outros itens.
Ainda assim, há julgar pelo que se vê na televisão, principalmente em alguns programas “jornalísticos”, parece que vivemos no pior dos mundos.
A cobertura obsessiva e sensacionalista de eventos negativos por alguns setores da mídia, como no caso da gripe “suína”, parecem refletir uma certa ansiedade pelo perigo do imprevisto em uma civilização cada vez mais pautada pela estabilidade.
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