terça-feira, 31 de março de 2009

Dilema Moral

Pra pensar na cama:

Imagine você e um outro ser humano - que você acabou de conhecer - vagando perdidos em pleno deserto.
Eis que aparece uma entidade mágica, uma espécie de "gênio", ou santo, e oferece um copo de água fazendo a seguinte afirmação: "Se cada um beber metade, os dois morrem. Se um de vocês bebê-lo todo, sobrevive". Em seguida o tal do "sobrenatural" desaparece. Ponto.
Qual é a atitude moralmente correta a tomar?

PS: Moral é uma palavra ampla, não serve apenas para identificar a "nossa" moral, aquela que as avós nos ensinaram. Nesse caso, o termo correto seria algo como "moral vigente", o que não é o caso, já que a pergunta não se restringe a nenhum tipo específico de moral. Afinal, a questão é: O que você faria?

Felicidade

Ao contrário da maioria dos outros animais, os humanos nunca vivem o presente. Cada um de seus momentos está sempre preenchido por uma enorme dose de passado e de futuro.

domingo, 15 de março de 2009

Pensando o Impensável (por Clóvis Rossi)

artigo publicado na Folha de São Paulo em 14/03/2009 por Clóvis Rossi

Teste para o leitor: se você ler que um importante líder político está dizendo que um determinado país deve "manter sua credibilidade, honrar seus compromissos e garantir os ativos de nosso país", vai imediatamente pensar que alguém está falando em risco de calote no Brasil, na Argentina, na Venezuela ou em algum outro exótico país tropical, certo? Era certo até uns anos atrás. Agora, a frase, literalmente reproduzida, é do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, e o alvo são, sim, os Estados Unidos da América. "Nós emprestamos uma enorme quantia de dinheiro aos Estados Unidos e, naturalmente, estamos preocupados com a segurança de nossos ativos", disse Wen. Calcula-se que dois terços dos praticamente US$ 2 trilhões de reservas da China estão em ativos norte-americanos, especialmente títulos do Tesouro. É natural, portanto, que estejam preocupados. Mas não pense que é apenas aquela velha história de que quem não dorme à noite é o credor, nunca o devedor. Desde que a crise global se agravou, a partir do último trimestre do ano passado, a palavra calote, associada a Estados Unidos, começou a aparecer aqui e ali, a princípio timidamente. Quando a possibilidade de um calote foi mencionada no endereço do Council on Foreign Relations, talvez o principal centro de pesquisas de política internacional do planeta, aí a coisa ficou realmente assustadora. Não sei se alguém já parou para estudar as consequências desse cenário de pesadelo. O fato é que Wen Jiabao acrescentou que a primeira prioridade da China é defender os seus próprios interesses, ainda que com o outro olho na estabilidade financeira internacional, coisas que são "interrelacionadas". É um aceno no sentido de que a China pode parar de financiar os EUA? Se for, quem vai perder o sono somos todos.

domingo, 1 de março de 2009

Semana da Mulher

A trajetória específica da mulher desde o surgimento do homo sapiens é tão conturbada e controversa quanto a trajetória da humanidade como um todo e de suas partes em si, mas apresenta algumas peculiaridades que devem ser levadas em conta.
Foi na Revolução Agrícola, na transição do paleolítico para o neolítico, que o papel da mulher ganhou as configurações que, até bem pouco tempo atrás, se impunham de maneira indiscutível na organização da maioria das sociedades, da Groenlândia ao Ártico, tanto à leste quanto à oeste de Greenwich. Afinal, conservadores até a medula, os machos se mantiveram caçando, pescando e coletando, enquanto as mulheres, além de se dedicarem à manutenção da caverna (e, a partir da citada transição, da palafita) e à proteção dos filhotes, agora também plantavam, colhiam, pastoreavam e, nas horas vagas, de ócio criativo, desenvolveram a cerâmica, a religião e, segundo algumas fontes, principalmente baseadas no crescente fértil e nos árias, até o calendário. A relação entre o neolítico e as mulheres é óbvia. Uma das fases mais criativas da humanidade, a importância dos rios e da fertilidade do solo para essa etapa e para o consequente surgimento da civilização colocavam o mito da "deusa mãe" no centro da cultura, entre 20.000 a.C. e o século V d.C. (entre o neolítico e a queda da antiguidade).
Na medida em que a civilização surgiu, e o poder político se estruturou, a função da mulher foi se restringindo ao lar, principalmente entre os povos mais belicistas mas, ainda assim, a necessidade de filhotes saudáveis em sociedades como a espartana e a romana conferiam um certo "status" à mulher.
No início da Idade Média, com a ascensão do monoteísmo - cristão no ocidente e, no oriente, islâmico - ambos escorados na visão hebraica, ganha importância a compreensão da mulher como "influência pejorativa" ou "instrumento da tentação", nas palavras de importantes teólogos da época, como Santo Agostinho, em suas "Confissões", ou no próprio Alcorão maometano (vide o mito de Eva, a história de Dalila ou a interpretação da vida de mulheres históricas como Maria Madalena ou Cleópatra).
A partir de então, fogueiras, burcas, cintos de castidade e outros instrumentos de repressão se tornaram presentes no cotidiano de mulheres pelo mundo inteiro.
Já na Idade Moderna, a partir da ascensão dos valores burgueses, entre eles o individualismo e o materialismo, as mulheres foram se tornando mão-de-obra e, posteriormente, mercado consumidor cada vez mais útil.
Na colonização da América, mulheres brancas eram raras e, nesse "viés", também valorizadas, ainda que submetidas à um dos piores tipos de patriarcalismo de todos os tempos - o patriarcalismo rural desse "feudalismo tardio" que foi a formação da América Latina.
Enfim, na Idade Contemporânea, ao menos nos países "iluministas (*)", a campanha das "sufragetes" pelo voto feminino; a esmagadora mortandade de homens nos campos de batalha e as necessidades da indústria bélica entre os anos 10 e 40; o advento do consumo de massa; a invenção da pílula anticoncepcional; além da própria evolução cultural da humanidade, permitiram que as mulheres ocupassem todos os espaços da vida pública e privada, com possibilidade de escolhas individuais e participação nas decisões coletivas, ainda que enfrentando alguns desafios específicos muitas vezes diferentes dos desafios dos homens, entre eles o preconceito, as diferenças salariais, os diversos tipos de assédio e aquele que talvez seja o maior de todos: o de conciliar as suas "novas" funções com aquelas que sobrevivem desde o neolítico.

(*) A referência aos países iluministas tem dois motivos:
1 - Nas sociedades fundamentalistas, como os xiitas e os amish, a mulher é submetida à moral medieval.
2 - Entre as propostas socialistas do final do século XIX e do início do XX, circulava na Rússia a idéia da "esposa coletiva", que, partindo do pressuposto de que a mulher seria uma "propriedade", deveria ser então "socializada", executando, segundo um panfleto apócrifo russo do início do século XX: "suas funções e obrigações não em benefício de um único membro, mas da comuna como um todo".

República Verde-Oliva

Na hipótese de que o anseio da parcela mais radicalmente à direita da sociedade brasileira seja atendido, não seria a primeira vez que u...