domingo, 15 de março de 2009

Pensando o Impensável (por Clóvis Rossi)

artigo publicado na Folha de São Paulo em 14/03/2009 por Clóvis Rossi

Teste para o leitor: se você ler que um importante líder político está dizendo que um determinado país deve "manter sua credibilidade, honrar seus compromissos e garantir os ativos de nosso país", vai imediatamente pensar que alguém está falando em risco de calote no Brasil, na Argentina, na Venezuela ou em algum outro exótico país tropical, certo? Era certo até uns anos atrás. Agora, a frase, literalmente reproduzida, é do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, e o alvo são, sim, os Estados Unidos da América. "Nós emprestamos uma enorme quantia de dinheiro aos Estados Unidos e, naturalmente, estamos preocupados com a segurança de nossos ativos", disse Wen. Calcula-se que dois terços dos praticamente US$ 2 trilhões de reservas da China estão em ativos norte-americanos, especialmente títulos do Tesouro. É natural, portanto, que estejam preocupados. Mas não pense que é apenas aquela velha história de que quem não dorme à noite é o credor, nunca o devedor. Desde que a crise global se agravou, a partir do último trimestre do ano passado, a palavra calote, associada a Estados Unidos, começou a aparecer aqui e ali, a princípio timidamente. Quando a possibilidade de um calote foi mencionada no endereço do Council on Foreign Relations, talvez o principal centro de pesquisas de política internacional do planeta, aí a coisa ficou realmente assustadora. Não sei se alguém já parou para estudar as consequências desse cenário de pesadelo. O fato é que Wen Jiabao acrescentou que a primeira prioridade da China é defender os seus próprios interesses, ainda que com o outro olho na estabilidade financeira internacional, coisas que são "interrelacionadas". É um aceno no sentido de que a China pode parar de financiar os EUA? Se for, quem vai perder o sono somos todos.

Um comentário:

Klaus disse...

Como diriamos lá no Batata, deixa que o Obama resolve! :P
Hahahahahah

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