quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Literatura e Niilismo

Não há maneira mais eficiente (se é que há alguma outra) de entender a natureza humana do que através da literatura (de qualidade).
Ao longo da História, uma série enorme de personagens "ficcionais" pontuam a literatura mundial com todas as dores e delícias da "anima", e com todos os segredos e disposições (pro mal e pro bem) dos humanos.
Nos últimos dois séculos, em virtude do inegável predomínio (mas não superioridade) cultural anglo-saxônico, massificaram-se personagens novelescos como Romeu, Rei Lear ou Hamlet que, com mais ou menos profundidade, retratam um ser humano que oscila entre o dócil e o hostil, sem contudo esmiuçar o que há de mais profundo no "subsolo" da alma, e na margem tanto dela quanto da própria sociedade, ou talvez da existência.
Nesse quesito, as melhores contribuições vem, não por acaso, do leste europeu.
Personagens como Rodion Romanovitch (Crime e Castigo - Dostoievski); Gregor Sansa (Metamorfose - Kafka); e a "dupla" Piotr Stiepanovitch (e seu pai Stiepan) e Nikolai Stravóguin (com a mãe, Varvara Petrovna), do perturbador "Os Demônios", de Dostoievski, e de outras obras precedentes (destaque para Almas Mortas, de Gógol), esmiuçam tudo aquilo que, na atualidade, os espelhos da moda não mostram, e a TV não deixa deduzir, mas que nem por isso deixou de estar presente na índole humana.
No caso da literatura brasileira, Brás Cubas é o niilista emérito, e talvez único, que jogou na cara da decadente aristocracia de seu tempo sua inutilidade e sua nova nomenclatura, os "homens supérfluos" (na designação de Turguêniev, sobre a mesma "casta", mas na Rússia).
Ao mesmo tempo, Brás Cubas também desmascara, ao lado dos já citados personagens russos, a superficialidade do "homem burguês" emergente e a tirania dos revolucionários radicais, os "Demônios" de Dostoievski, sementes geradoras dos famosos Hitler e Stálin.
Olhar pra dentro da alma humana, para o "subsolo" (de novo Dostoievski) é a forma mais honesta de evolução, afinal, não é sempre que se pode espantar os fantasmas simplesmente fechando os olhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

E deixo retratado Ana Karênina, de Tosltói, que mostra a posição da mulher frente a esse contexto niilista que você colocou muito bem. A impossibilidade do agir, em Karênina, mostra, não só o lugar da mulher frente à sociedade, como a nadificação de temas como adultério. No Brasil, fiquemos com Quaresma, o Policarpo, " niilizando" nossa cultura, política e economia.

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