Não há maneira mais eficiente (se é que há alguma outra) de entender a natureza humana do que através da literatura (de qualidade).
Ao longo da História, uma série enorme de personagens "ficcionais" pontuam a literatura mundial com todas as dores e delícias da "anima", e com todos os segredos e disposições (pro mal e pro bem) dos humanos.
Nos últimos dois séculos, em virtude do inegável predomínio (mas não superioridade) cultural anglo-saxônico, massificaram-se personagens novelescos como Romeu, Rei Lear ou Hamlet que, com mais ou menos profundidade, retratam um ser humano que oscila entre o dócil e o hostil, sem contudo esmiuçar o que há de mais profundo no "subsolo" da alma, e na margem tanto dela quanto da própria sociedade, ou talvez da existência.
Nesse quesito, as melhores contribuições vem, não por acaso, do leste europeu.
Personagens como Rodion Romanovitch (Crime e Castigo - Dostoievski); Gregor Sansa (Metamorfose - Kafka); e a "dupla" Piotr Stiepanovitch (e seu pai Stiepan) e Nikolai Stravóguin (com a mãe, Varvara Petrovna), do perturbador "Os Demônios", de Dostoievski, e de outras obras precedentes (destaque para Almas Mortas, de Gógol), esmiuçam tudo aquilo que, na atualidade, os espelhos da moda não mostram, e a TV não deixa deduzir, mas que nem por isso deixou de estar presente na índole humana.
No caso da literatura brasileira, Brás Cubas é o niilista emérito, e talvez único, que jogou na cara da decadente aristocracia de seu tempo sua inutilidade e sua nova nomenclatura, os "homens supérfluos" (na designação de Turguêniev, sobre a mesma "casta", mas na Rússia).
Ao mesmo tempo, Brás Cubas também desmascara, ao lado dos já citados personagens russos, a superficialidade do "homem burguês" emergente e a tirania dos revolucionários radicais, os "Demônios" de Dostoievski, sementes geradoras dos famosos Hitler e Stálin.
Olhar pra dentro da alma humana, para o "subsolo" (de novo Dostoievski) é a forma mais honesta de evolução, afinal, não é sempre que se pode espantar os fantasmas simplesmente fechando os olhos.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Múltiplas Consciências
Uma das mais importantes lições para a humanidade no século XX, ainda que não entendida por muitos, é que agregar e melhor que segregar.
Ao longo da História mais remota os sinais dessa lição foram se apresentando nos mais diferentes lugares e momentos, ainda que muitas vezes de maneira sutil.
No caso brasileiro, talvez um dos mais gritantes exemplos seja o da ocupação holandesa ao nordeste brasileiro no século XVII. Durante o domínio holandês, judeus, protestantes e estrangeiros não eram perseguidos e, sendo assim, vinham do mundo inteiro trazendo para cá seu capital e sua força de trabalho, o que proporcionou um dos mais frutíferos momentos na história desse importante estado brasileiro, nas áreas cultural, econômica e científica, sob o comando do conde Maurício de Nassau. Após a demissão de Nassau e a Insurreição Pernambucana, quando os portugueses voltaram ao poder em 1654 e reiniciaram a perseguição e a segregação aos considerados “diferentes”, a economia da região decaiu e, vale destacar, parte dos refugiados migrou para a América do Norte e fundou a cidade de Nova Amsterdã, atualmente conhecida como Nova Iorque.
Nos EUA, que acabaram de eleger Barack Hussein Obama presidente, quase todas as inovações tecnológicas, ainda que viabilizadas por capital norte-americano, são resultado de mentes brilhantes vindas dos mais diferentes cantos do mundo, Europa, América Latina, Ásia, África e Oceania, confirmando que, salvo exceções comentadas neste mesmo blog em outras postagens, os Estados Unidos são o mais universalista e cosmopolita país do mundo.
Um dos casos mais célebres é o de Albert Eisntein, cientista judeu perseguido na Alemanha nazista que, entre outras coisas, deu ao governo americano a base teórica para que, nos anos seguintes, o Projeto Manhattan desenvolvesse a bomba atômica e garantisse a vitória aliada na 2ª Guerra Mundial.
Voltando ao caso brasileiro, talvez poucos saibam, mas, até o início do século XX, os times de futebol do país não aceitavam negros em seus elencos. Tivesse continuado a segregação, e o Brasil e o mundo teriam perdido, entre outros grandes jogadores, um tal Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé.
Ao longo da História mais remota os sinais dessa lição foram se apresentando nos mais diferentes lugares e momentos, ainda que muitas vezes de maneira sutil.
No caso brasileiro, talvez um dos mais gritantes exemplos seja o da ocupação holandesa ao nordeste brasileiro no século XVII. Durante o domínio holandês, judeus, protestantes e estrangeiros não eram perseguidos e, sendo assim, vinham do mundo inteiro trazendo para cá seu capital e sua força de trabalho, o que proporcionou um dos mais frutíferos momentos na história desse importante estado brasileiro, nas áreas cultural, econômica e científica, sob o comando do conde Maurício de Nassau. Após a demissão de Nassau e a Insurreição Pernambucana, quando os portugueses voltaram ao poder em 1654 e reiniciaram a perseguição e a segregação aos considerados “diferentes”, a economia da região decaiu e, vale destacar, parte dos refugiados migrou para a América do Norte e fundou a cidade de Nova Amsterdã, atualmente conhecida como Nova Iorque.
Nos EUA, que acabaram de eleger Barack Hussein Obama presidente, quase todas as inovações tecnológicas, ainda que viabilizadas por capital norte-americano, são resultado de mentes brilhantes vindas dos mais diferentes cantos do mundo, Europa, América Latina, Ásia, África e Oceania, confirmando que, salvo exceções comentadas neste mesmo blog em outras postagens, os Estados Unidos são o mais universalista e cosmopolita país do mundo.
Um dos casos mais célebres é o de Albert Eisntein, cientista judeu perseguido na Alemanha nazista que, entre outras coisas, deu ao governo americano a base teórica para que, nos anos seguintes, o Projeto Manhattan desenvolvesse a bomba atômica e garantisse a vitória aliada na 2ª Guerra Mundial.
Voltando ao caso brasileiro, talvez poucos saibam, mas, até o início do século XX, os times de futebol do país não aceitavam negros em seus elencos. Tivesse continuado a segregação, e o Brasil e o mundo teriam perdido, entre outros grandes jogadores, um tal Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
After a Century, a Literary Reputation Finally Blooms
by Larry Rohter - 12/09/2008
When the novelist Joaquim Maria Machado de Assis died 100 years ago this month, his passing went little noticed outside his native Brazil. But in recent years he has been transformed from a fringe figure in the English-speaking world into a literary favorite and trendsetter, promoted by much more acclaimed writers and by critics as an unjustly neglected genius.
texto na íntegra : http://www.nytimes.com/2008/09/13/books/13mach.html?_r=1
When the novelist Joaquim Maria Machado de Assis died 100 years ago this month, his passing went little noticed outside his native Brazil. But in recent years he has been transformed from a fringe figure in the English-speaking world into a literary favorite and trendsetter, promoted by much more acclaimed writers and by critics as an unjustly neglected genius.
texto na íntegra : http://www.nytimes.com/2008/09/13/books/13mach.html?_r=1
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Fatos e Argumentos
1932 - decreto institui o voto secreto e o voto feminino, confirmados no código eleitoral de 1934;
1935 - capoeira é retirada da ilegalidade e oficializada como "esporte nacional";
1937 - samba sai da clandestinidade e passa a receber incentivos do governo;
1930 - 1937 - Governos provisório e constitucional de Getúlio Vargas.
1935 - capoeira é retirada da ilegalidade e oficializada como "esporte nacional";
1937 - samba sai da clandestinidade e passa a receber incentivos do governo;
1930 - 1937 - Governos provisório e constitucional de Getúlio Vargas.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Contradições Internas
A eleição dos EUA afeta e, consequentemente, mobiliza o mundo inteiro, já que a superpotência atual, ainda que indicando sinais de abalo, exerce e projeta poder global desde a 2ª Guerra Mundial e, exatamente por este motivo, as decisões da Casa Branca costumam afetar mais do que o território continental do país.
Nascido de uma Revolução Iluminista, em 04 de julho de 1776, e com sua história recheada de conflitos internos e externos, como a Guerra de Independência, a Guerra de Secessão, as duas Guerras Mundiais e a Guerra do Vietnã, da qual o candidato republicano McCain é sobrevivente, os EUA, ainda assim, sempre sinalizaram ao mundo como uma luz, ou tocha, como na famosa estátua, de liberdade e respeito às individualidades, ainda mais quando foi resolvendo suas próprias contradições internas, concedendo liberdade (no século XIX) e, depois, cidadania aos negros em todo o território (ainda que tardiamente, já no século XX) e direito de voto às mulheres, entre outras medidas humanistas.
Ainda assim, os casos de intolerância em geral e de racismo, especificamente, costumam ser mais freqüentes na história desse poderoso país do que os seus defensores gostariam que fosse, principalmente em algumas regiões aonde o sistema de plantation foi usado com mais intensidade, como nas áreas do Sul e Central do país (tradicionais redutos da famigerada Ku Klux Klan), em contraste com as litorâneas Nova Iorque, Miami e Los Angeles, tradicionais locais de universalismo e cosmopolitismo, ou na Louisiana, antiga colônia francesa, comprada por Abraham Lincoln, o mais “popular” presidente americano, aonde a cultura “afro” se estabeleceu com vigor, em área na qual vigorou o escravismo por muitas décadas.
Abraham Lincoln, aliás, que foi assassinado por um sulista radical, após liderar a União na Guerra de Secessão contra os Confederados do Sul, é uma referência para Obama, o candidato democrata que provavelmente será confirmado presidente pelo colégio eleitoral, após ser eleito pela maioria dos eleitores nas urnas no último dia 04 de novembro. Isso, é claro, se não se repetir o que aconteceu com Al Gore, que levou nas urnas a maioria dos votos, mas foi derrotado no colégio eleitoral pelo atual presidente George Bush, um dos responsáveis pela desmoralização atual dos EUA e pelo crescimento do antiamericanismo no mundo, graças à vocação para a guerra e à incompetência econômica e social de seu governo.
Caso Obama se confirme no cargo, será a primeira vez que a democracia mais influente do mundo irá eleger um afro-descendente para o cargo de presidente, ocupado até então pela elite WASP desde George Washington.
Aqueles que acreditam no potencial americano e nos valores que construíram essa importante nação torcem para que isso aconteça.
Nascido de uma Revolução Iluminista, em 04 de julho de 1776, e com sua história recheada de conflitos internos e externos, como a Guerra de Independência, a Guerra de Secessão, as duas Guerras Mundiais e a Guerra do Vietnã, da qual o candidato republicano McCain é sobrevivente, os EUA, ainda assim, sempre sinalizaram ao mundo como uma luz, ou tocha, como na famosa estátua, de liberdade e respeito às individualidades, ainda mais quando foi resolvendo suas próprias contradições internas, concedendo liberdade (no século XIX) e, depois, cidadania aos negros em todo o território (ainda que tardiamente, já no século XX) e direito de voto às mulheres, entre outras medidas humanistas.
Ainda assim, os casos de intolerância em geral e de racismo, especificamente, costumam ser mais freqüentes na história desse poderoso país do que os seus defensores gostariam que fosse, principalmente em algumas regiões aonde o sistema de plantation foi usado com mais intensidade, como nas áreas do Sul e Central do país (tradicionais redutos da famigerada Ku Klux Klan), em contraste com as litorâneas Nova Iorque, Miami e Los Angeles, tradicionais locais de universalismo e cosmopolitismo, ou na Louisiana, antiga colônia francesa, comprada por Abraham Lincoln, o mais “popular” presidente americano, aonde a cultura “afro” se estabeleceu com vigor, em área na qual vigorou o escravismo por muitas décadas.
Abraham Lincoln, aliás, que foi assassinado por um sulista radical, após liderar a União na Guerra de Secessão contra os Confederados do Sul, é uma referência para Obama, o candidato democrata que provavelmente será confirmado presidente pelo colégio eleitoral, após ser eleito pela maioria dos eleitores nas urnas no último dia 04 de novembro. Isso, é claro, se não se repetir o que aconteceu com Al Gore, que levou nas urnas a maioria dos votos, mas foi derrotado no colégio eleitoral pelo atual presidente George Bush, um dos responsáveis pela desmoralização atual dos EUA e pelo crescimento do antiamericanismo no mundo, graças à vocação para a guerra e à incompetência econômica e social de seu governo.
Caso Obama se confirme no cargo, será a primeira vez que a democracia mais influente do mundo irá eleger um afro-descendente para o cargo de presidente, ocupado até então pela elite WASP desde George Washington.
Aqueles que acreditam no potencial americano e nos valores que construíram essa importante nação torcem para que isso aconteça.
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