segunda-feira, 27 de outubro de 2008

In the bull's eye

“Que crise? Pergunte ao Bush!” (presidente Lula reagindo à jornalista que o questionou sobre a crise econômica)

Um dos temas mais discutidos e, ainda assim, menos compreendidos dos últimos tempos, é a tão noticiada “crise econômica” que, a partir do mercado imobiliário norte-americano, espalhou terror pelas bolsas de valores do mundo inteiro, inclusive atingindo a Bovespa, no Brasil, gerando calafrios na espinha não só dos profissionais do mercado financeiro, mas também de uma classe média que, recentemente,descobriu os atrativos do mercado de ações.
Em resumo, a crise foi gerada pela concessão de crédito fácil à clientes com poucas garantias de honrar seus compromissos financeiros e pela compra, pelas financeiras americanas, de títulos “podres” ou seja, com baixa chance de retorno lucrativo de seus valores na bolsa.
Normalmente, o preço de uma ação na bolsa de valores depende da rentabilidade da empresa que a referida ação representa e, em alguns casos, o volume de compra e venda destas ações também pode alterar seu valor, na lógica da oferta e da procura – quanto mais gente comprando, mais valiosa, quanto mais gente vendendo, menos valor.
Quando a empresa que faz seus seguros pessoais ou na qual você investe sua previdência privada usa seu dinheiro com clientes de poucos recursos ou com os tais papéis podres, caso esta empresa tenha menos liquidez (dinheiro disponível) do que o volume de investimentos (como o seu) que ela aceita, em caso de insolvência dos clientes ou de maxidesvalorização dos papéis comprados, a financeira fica sem condição de honrar seus compromissos, deixando clientes “na mão”. Além disso, já que empréstimos entre bancos e financeiras são fundamentais para o funcionamento do mercado, a falta de capital gerada pelos “calotes” e pela desvalorização das ações gera um efeito em cadeia tornando o dinheiro mais raro e, consequentemente, mais caro, cortando linhas de crédito para os setores produtivo e agrícola, além de elevar os juros reais. Uma vez que a produtividade diminui, a oferta de empregos também cai. Diminuindo a produção agrícola, por menores investimentos para a compra de insumos, os preços dos alimentos sobem. O aumento dos juros diminui a oferta de crediários. Falta de emprego, preços altos e pouco crédito geram menos consumo, desvalorizando ainda mais empresas e ações, aumentando o ciclo da crise até atingir a chamada “recessão”. É isso que todos esperam que não aconteça e, para tentar evitar o pior, bancos centrais do mundo todo estão se tornando acionistas das instituições financeiras afetadas, para poder injetar dinheiro (público) nestas instituições, para que elas passem novamente a financiar a produção e o consumo, fazendo basicamente com que a economia “pegue no tranco” e volte a funcionar.
Uma vez que o mercado financeiro é o setor mais globalizado da atualidade, as instituições afetadas atuam em diversas partes do mundo, e todos os países capitalistas dependem do dinheiro e da produção uns dos outros, em maior ou menor escala, tornando o problema que nasceu da insolvência no mercado imobiliário dos EUA uma “ameaça” internacional.
Por outro lado, como já foi insistentemente comentado, seria interessante se os cidadãos dos países envolvidos no "resgate", muitos deles privados de suas casas por falta de pagamento e desprovidos dos mais básicos serviços públicos, se questionassem se é justo um governo investir o dinheiro dos seus impostos para salvar as fortunas do mercado financeiro internacional.

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