Concordando ou discordando dos fatos, é inevitável perceber, pela realidade política venezuelana, boliviana, chilena, argentina e até brasileira, que a América Latina, neste início do século XXI, observa um movimento político que repete (como farsa, tragédia ou refundação?), o movimento de meados do século XX, interrompido na época pelo contexto da guerra-fria (a segunda maior mentira da História).
Ou seja...
Varre o continente uma onda de nacionalismo que, obviamente, pretende romper um ciclo de 500 anos de submissão e exploração, reparando injustiças históricas e visando devolver parte da riqueza do continente aos seus verdadeiros donos. Talvez dessa vez funcione, mas alguns pontos no mínimo dissonantes devem ser observados para que não ocorra um novo fracasso, maior até que o do século passado.
Em primeiro lugar, não existe “refundação” sem uma profunda reforma cultural, uma vez que é preciso ter claro o horizonte que se pretende atingir, e só a filosofia é capaz de traçar esse horizonte, como o cristianismo fez na queda de Roma, o renascimento no fim do feudalismo e o iluminismo quando a burguesia definitivamente “ganhou” o mundo. E, contra isso, pesa o fato de que, diferente da Europa, da Ásia e dos EUA, não existe na Am. Latina um pensamento filosófico original.
Em segundo lugar, apesar de justo, não seria útil que, uma vez no poder, os nativos da antiga América espanhola passassem a perseguir seus antigos perseguidores, alimentando uma espécie de racismo que, por mais justificável que seja, após 5 séculos de escravidão, estupros e pobreza, só alimentaria a ira do ocidente rico que, com capital e armas, poderia novamente submeter o já sofrido continente.
Mas, o mais importante de tudo, é não permitir que, mais uma vez, uma direita mesquinha e covarde e uma esquerda ingênua e submissa coloquem novamente tudo a perder, pois a URSS dos anos 60 e 70 era tão imperialista quanto os EUA é até hoje, e para nós, latino americanos, faz-se necessário um modelo original e autônomo, adequado às nossas particularidades culturais, geográficas e socioeconômicas, uma vez que todos os modelos que importamos até hoje redundaram em fracasso, menos por nossa incompetência do que por nossa submissão aos modelos exteriores a nós.
Portanto, nesse início de século, é fundamental que abandonemos na prática o modelo neoliberal, na teoria os sonhos socialistas de dois séculos atrás, que nos revoltemos contra o nosso “Tratado de Versalhes”, chamado dívida externa, que façamos uma reforma educacional duradoura e profunda, que seja priorizado o investimento em tecnologia, que façamos uma melhor distribuição de nossa renda, pois como um todo, o continente vem dando lucro, que ergamos a cabeça contra o preconceito, deixando de julgar a nós mesmos com os olhos dos outros, que analisemos até onde o modelo democrático iluminista se encaixa em nossa realidade (e não me parece que se encaixe), e que deixemos de lado rancores históricos, simplesmente impedindo que a História se repita, fortalecendo nossas instituições a partir de características originais e até filantrópicas, pois ainda existem milhões de nossos patrícios que precisam disso. Só assim teremos sucesso e, finalmente, atravessaremos um século com o orgulho de um Tupac, um Che, um Bolívar.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
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Um comentário:
uiehaioheoheoo
ôô são pauliino :P
é a Rebeca do 2º :}
eu nem li o texto...
só vim dizer q o CORINTHIANS é melhor okz ? :B
bejoo :*
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