quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Uma mensagem imperial - Franz Kafka

O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra ínfima ante o sol imperial, refugiada na mais remota distância, justamente a ti o imperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo, estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
(De Um Médico Rural)
Tradução: Lúcia Nagib

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A responsabilidade sobre as ações do legislativo também é de quem vota

No dia 1º de fevereiro tomaram posse os novos componentes da Câmara Federal, assim como os Senadores que completam a composição da “câmara alta”, representando os eleitores de seus estados.
Ainda que muita gente ande desconfiada de boa parte dos congressistas, algumas observações de vital importância para a saúde política nacional devem ser levadas em conta.
Em primeiro lugar, devemos considerar que sem legislativo não há democracia. Afinal, o poder legislativo é composto por membros da sociedade que, em nome dos seus eleitores, fiscalizam, regulamentam, aprovam e desaprovam ações do poder executivo, servindo como “olhos e ouvidos” da população junto ao poder político, defendendo seus interesses e promovendo o que se convencionou chamar de “democracia representativa”.
Em segundo lugar, deve-se levar em conta que, se o deputado está lá, é porque parcela significativa da população o elegeu, ou seja, deu a ele um mandato para representar seus interesses, conforme já mencionado, e esse mandato foi dado por livre e espontânea vontade, inclusive em sigilo, já que o voto é secreto desde 1932 no Brasil.
Finalmente, não podemos esquecer que os deputados eleitos são membros oriundos da sociedade que representam, saídos do meio da população. Suas qualidades e defeitos são as qualidades e defeitos de cada um de nós, individualmente, e da sociedade como um todo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Cai o rei de ouros, cai o rei de espadas...

Nos três séculos anteriores ao atual (sécs. XVIII, XIX e XX), diversas partes da Europa e das Américas, através da luta popular e da conjunção de interesses burgueses e proletários, derrubou várias formas de opressão e tirania. Antigo Regime, Fascismo, Nazismo, Socialismo Real, entre outros modelos anti-liberais e anti-democráticos foram sendo depostos, muitas vezes pelos próprios governados, quase sempre inspirados nos valores iluministas e na ascensão dos direitos e liberdades individuais. Ainda existem, infelizmente, ditaduras nessas regiões do mundo, mas são a exceção em meio ao predomínio da democracia em suas diversas formas e modelos.
Atualmente, o mesmo fenômeno parece ter início no Oriente Médio, onde, nas últimas semanas, foi deposto o ditador da Tunísia e movimentos populares pedem o mesmo no Egito e na Arábia Saudita, os mais importantes países da região, governados por ditadores que utilizam a teocracia com princípios islâmicos para legitimar seu poder. No Líbano, país onde uma forte campanha golpista colocou os extremistas do Hizbollah no poder nos últimos dias, as campanhas populares e as movimentações já tiveram início, lideradas por aqueles que querem seu país livre de um sistema nefasto que, ao que parece, já começa a desfalecer.
Esperamos que o Ocidente apóie essa iniciativa e que, em breve, sejam todos os cidadãos da região bem vindos e bem recebidos no mundo livre.

República Verde-Oliva

Na hipótese de que o anseio da parcela mais radicalmente à direita da sociedade brasileira seja atendido, não seria a primeira vez que u...